Capítulo 02

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A Second House era um teatro de comediantes famosos e também em ascensão, conhecido por seus stand ups e peças de comédia.

Chegando ao local, Sirenia procurou um lugar e estacionou. Desceu do carro e se dirigiu ao teatro, que estava interditado com as faixas amarelas da polícia. Alguns curiosos estavam parados ali, e policiais entravam e saiam sem parar.

Todos tinham os rostos sérios, e alguns estavam bem nauseados.

Sirenia se aproximou do policial que montava guarda na entrada e mostrou o distintivo.

- Tenente Mitchell - se apresentou - O que aconteceu? Ainda não fui informada.

- Entre e veja por si mesma, Tenente - a voz do policial falhou ligeiramente.

Sirenia ergueu uma sobrancelha, antes de entrar, passou spray selante nas botas e calçou luvas de borracha.

Do lado de dentro, encontrou os legistas nas fileiras da frente.
Lá, Sirenia se deparou com a pior cena de todas a sua carreira.

O corpo de um homem, ao lado de uma mulher e de um menino. Os adultos mortos estavam com as barrigas abertas e os intestinos foram puxados e colocados na boca da criança, que estava com a garganta aberta de fora a fora. Os olhos dos três estavam abertos.

Ela parou, fechou os olhos e respirou fundo. Com muito custo reprimiu a ânsia de vômito, e estampou no rosto uma expressão profissional.

Não iria demonstrar fraqueza. Não ali. Precisava se concentrar naquele caso.

Sirenia foi até os legistas. Yahiko, o chefe dos legistas, era um japonês baixinho, ele se aproximou de Sirenia. Seu rosto também estava mais pálido que o normal.

- O que descobriram?

- Eles foram mortos aqui mesmo nessas cadeiras. Os ferimentos, como a senhora pode ver, foram a causa da morte. A hora da morte foi há uma hora atrás, dada a quantidade de sangue fresco presente.

Sirenia virou a cabeça e, para sua surpresa, o Comandante Dahner estava parado no fundo do anfiteatro, olhando atento para ela.

Assim que seus olhares se encontraram, ele fez sinal para que fosse falar com ele.

Ela anuiu com a cabeça e voltou sua atenção para Yahiko.

- Identificação?

- Os adultos são Dayana e Hank Durante. O menino é o filho deles, Richard Durante. 32, 38 e 08 anos respectivamente.

- Encontraram alguma digital?

- Nenhuma, a não ser as das vítimas.

- A arma do crime? Ou algum objeto estranho? - a voz grave do parceiro de Sirenia a fez se virar.

Marcus Grey estava parado ao lado dela. Ele tinha 1,98 de altura, músculos que o deixavam maior e mais assustador. Usava um sobretudo de couro e tinha as mãos nos bolsos.
Ele era uma imagem clássica de um tira durão, se não fosse o fato de que era um detetive da DDE. Ninguém nunca adivinharia que ele não passava de um nerd dos computadores.

Marcus olhou para os corpos, e um fio de suor brotou em sua testa.

- Não encontramos nada. Mas talvez vocês queiram interrogar a faxineira que encontrou os corpos aqui. Ela está em estado de choque, e foi levada para a delegacia para que recolhessem seu depoimento.

Marcus fez uma expressão de pena para Yahiko, balançou a cabeça tristemente, e murmurou baixinho "David. David. David..."

Sirenia semicerrou os olhos, e cutucou o peito do legista com força, fazendo-o dar alguns passos para trás.

- Não tente me ensinar meu trabalho, Yahiko. Cuide de seus mortos.

Dizendo isso se virou e saiu. Marcus a seguiu, mas esperou Sirenia se afastar e olhou para Yahiko.

- Você sabe que ela tem a fama de comer idiotas no café da manhã e vomitá-los no almoço. Não seja babaca. Agradeça por só ter recebido uma escunhambação.

Dizendo isso, seguiu atrás da parceira. Não queria ficar nem mais um segundo ao lado dos cadáveres.

Sirenia parou a alguns metros longe dos corpos, e olhou ao redor atentamente. As marcas de respingo do sangue estavam espalhadas, tanto na fileira de trás quanto na da frente, de onde os corpos estavam.

Era possível ver alguns pingos inclusive no palco, quanto mais perto da platéia, maiores, quanto mais longe, menores.

- Que carnificina - Marcus parou ao lado de Sirenia, observando.

- Fotografe tudo e, em seguida, pesquise sobre as vítimas. Me encontre em vinte minutos.

Ele olhou para ela e ergueu uma sobrancelha.

- Tem razão, tempo demais. Quinze minutos.

Ele engasgou e abriu a boca para protestar, mas ela já havia se afastado.

Sua parceira estava puta. Muito.
O que era bom e ruim ao mesmo tempo.

Bom porque significava que ela iria até o fim, e só sossegaria quando colocasse o assassino, ou assassinos, atrás das grades. Ruim porque ela iria até o fim e só sossegaria quando colocasse o assassino, ou os assassinos, atrás das grades.

Essa era sua parceira. Sirenia era implacável. Talvez por isso, Phil tenha dado o caso para ela.

Ao virar o olhar, viu uma loira alta e estonteante caminhar na mesma direção em que Sirenia fora.

Aquela era a Detetive Lia.

- Isso com certeza vai dar merda. Se eu fosse a Donarue cuidaria do meu traseiro. Mitchell é capaz de dar um chute tão forte que a faria voar tão rápido e tão alto, que furaria a camada de ozônio.

Grey se convenceu que aquele não era problema dele, e começou a subir até o palco. Tinham que descobrir quem transformara uma comédia em tragédia.

Ritual de Sangue (Livro 02 - Série Coração Verdadeiro) #Wattys2016Where stories live. Discover now