Capítulo 2 - As faces.

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Yliel havia fugido do carro e ainda não sabia o porque, sabia que o homem tinha boas intenções, pode senti-las, mas algo a fez fugir, como um animal quando a chuva se aproxima, e não sabia se era um sinal divino ou traços humanos, simplesmente se foi.

O homem entregou uma descrição de Yliel a policia esperando encontrá-la, claro que ele deixou apenas o único nome que conheceu e a única coisa que lhe restou.

- Certo! Estamos montando um retrato falado, mas provavelmente a garota era usuária de drogas, o comportamento estanho, faltas de roupas. Pode ter sofrido abuso sexual e ficou tão dopada que não sabia mais o que era real e o que era sonho, isso é mais comum do que pensa senhor! Agora se acalme e volte a sua família, cumpriu seu dever de cidadão e tentou ajudar, se ela fugiu talvez não precisasse tanto assim de sua ajuda, não acha?

- O nome dela é Melanie, você anotou ai? Não sei o sobrenome e ela não era usuária de drogas, tenho quase certeza que sofreu uma queda ou algo assim, um acidente e não se lembrava de quem era e onde estava, mas ela não me parecia uma pessoa necessitada de ajuda médica, estava saudável, exceto a memória.

- Tudo bem, como eu disse faremos nosso trabalho, obrigada por sua ajuda!

Lamentava apenas não ter se apresentado, Samuel era conhecido por sua nobreza por todos de sua família, sempre querendo ajudar os outros, nunca tem tempo para si mesmo, altruísta e aquela moça, sem memória alguma lhe fez sentir bem com isto pela primeira vez na vida, como se tivesse a resgatado, ele havia mudado a história dela, todo o mal que ele havia impedido, seu peito inflava de orgulho, ele era sim um grande herói e nunca mais se abateria diante de comentários negativos. Saindo da delegacia dirigiu até sua casa e nunca mais viu Melanie.

Yliel agora era uma procurada, e logo ela ficaria sabendo disto (...)

De forma horrível ela se deparou com a realidade humana, primeiro com seu abandono, logo depois vieram os sentimentos de culpa, como poderia ficar entre eles e não interferir? Ficou próxima de uma criança de rua, mas não permitiu que a mesma a visse, Julia era o nome dela. Yliel só ficou sabendo o nome da criança pois a mesma sussurrava a história de sua vida a seu urso de pelúcia sujo e surrado entre lágrimas.

Abril de 2015 - festa de fim de ano, terraço de um condomínio de luxo.


- Mamãe, posso comer agora? Julia estava impaciente, pela primeira vez teria uma virada de ano repleta de comida e fogos coloridos, os seus preferidos, queria provar de tudo um pouco, por este motivo não tinha nem ao menos almoçado.

- Filha, acalme-se! Mamãe tem que trabalhar antes você sabe.

Júlia tristemente viu a mãe se prostituir durante toda a vida, a viu várias vezes tendo relações com homens de porta aberta, ouvia sussurros e tapas e via sua mãe chorar no banheiro todas ás vezes que eles iam embora. Ela não sabe o que significa ter um pai, talvez porque o seu nem saiba que ela exista, desconfiava que sua mãe não havia contado que ficou grávida, mas aquela noite mudaria ainda mais sua realidade.

Alexandra a mãe dela não sabia como reagir diante daquela situação, então simplesmente vendia seu corpo para sustentar a filha, rezando que um dia as coisas mudassem para a melhor. Diferente do que as outras mulheres achavam dela, era honesta e não via prazer no que fazia, mas achava que só servia para aquilo então permaneceu nesta função, a mesma foi vendida por sua mãe e sabia o que era abuso físico, mental, o velho que a comprou batia e literalmente a escravizava, ainda carregava cicatrizes daqueles anos e nunca permitira que o mesmo acontecesse a sua filha.

A noite estava estrelada e tudo parecia que daria certo, fizeram a contagem para a virada do ano, ela foi de acompanhante de um homem muito rico, que por ter tanto dinheiro desconfiava que todos só queriam sua companhia por este motivo, era generoso e naquela noite pela primeira vez em muitos anos ela não se prostituiu para seu acompanhante, sua filha comeu todos os tipos de doces possíveis e viu de camarote todos os fogos coloridos que tanto amava.

Entre humanos (EM HIATUS)Where stories live. Discover now