- O quê?
Não é possível que ele vai me obrigar a cumprir aviso prévio. Eu nunca pensei nisso. Que inferno.
- A senhora não entendeu?
- Entendi perfeitamente. Entendi que vocês têm um patrão covarde e hipócrita. Essa foi a parte que eu mais entendi.
- Me desculpe, senhorita, mas ofender Joe Hesgher não é uma atitude muito sensata da sua parte. - a tal da Bruna fala. Já deve ter dormido com ele também, já que é linda. - Você está recebendo mais do que têm direito e pode optar por pagar o aviso prévio.
O problema é que não tenho dinheiro e Joe sabe disso.
- Posso pagar daqui a dez dias? Vocês já descontam do valor que deve ser depositado na minha conta.
- Me desculpe, mas os termos não estão abertos a discussão. Só seguimos ordens. - o homem diz, depois que o fuzilo com o olhar.
Estou prestes a ter um ataque de nervos e, para piorar, advinha que entra na sala, lindo de morrer, exalando o cheiro maravilhoso do seu perfume? Joe, em carne e osso.
- Bom dia. - ele cumprimenta a todos com aquele sorriso cínico.
- Só se for para você, porque para mim você já estragou não só o dia, mas o resto do ano.
- Os senhores nos dão licença? Podem se retirar e deixar os papéis na mesa. Eu cuido do resto. Obrigado.
Quando eles saem eu me levanto e o encaro.
- Achei que você era covarde e não ia me encarar. Mas você é bem pior. Estava preparando para dar o bote. - Joe parece não ouvir e olha para o racho na minha saia.
- Puta que pariu, Julie! Você não tinha outra roupa não? Veio de ônibus vestida assim? Que foi? Resolveu voltar para a vida antiga?
- Que vida antiga, Joe?
- Aquela fase em que você era muito dada a sair com homens. Agora foi tomada de uma timidez, mas sabemos que não foi sempre assim, né, baby?
Plaft! Dou um tapa com toda a força na sua cara.
- Ah, já entendi, você gosta de sadomasoquismo. Por isso eu não agradei.
Então segura meus pulsos e vai me empurrando até encostar na parede.
- Você gosta de uma pegada mais firme. É isso?
Não consigo responder com ele falando tão perto do meu pescoço. Seu hálito roça minha pele e me arrepio toda. Não tenho força para lutar contra ele.
- Pode pedir para eu parar que eu paro agora, Julie. Se você não pedir, eu vou até o fim.
Fecho os olhos e reúno todas as minhas forças.
- Para, Joe, por favor. - minha voz sai tão baixa que acho que ele não me escuta. Mas ele se afasta.
- Por que tá fazendo isso? Me obrigando a trabalhar aqui?
- Você pode não compreender, mas fiz isso para te proteger. Você precisa de alguém para cuidar de você. Eu vou fazer isso, você querendo ou não.
- Se você estiver fazendo isso só para me levar para a cama, Joe, você está fazendo a pior burrada da sua vida. Porque mesmo que eu não resista e isso aconteça, eu vou te odiar ainda mais.
- Eu não vou forçar você a nada, Julie. Eu não sou esse tipo de homem. Mesmo que você não perceba, eu faço tudo por você.
- Então me deixa sair por aquela porta e não voltar mais, Joe.
- Isso é a única coisa que eu não consigo fazer, baby. Se para mostrar que você é forte você precisa fazer tudo sozinha, eu não vou deixar, amor. Não vou. Vou consertar tudo. Eu não fiz nada de mais, Julie, foi só uma dança. O meu maior erro foi não enfrentar meu pai. Mas acabou, não vai mais acontecer.
- Chega, Joe. Se vou ter que trabalhar aqui, você está proibido de falar comigo a não ser coisas do trabalho.
- Quem proíbe aqui sou eu, não você. Mas entendi, vamos começar o dia então. Tenho uma reunião agora, você pode ficar aqui na sala digitando uma papelada que está aqui.
Então ele sai da sala e me deixa sozinha pelo resto do dia. Termino às sete da noite. Percebo que ele não vai voltar, desligo o computador e vou embora. Um carro da empresa está me aguardando, mas não quero ir para casa e o dispenso.
Preciso ter uma vida normal. O que as pessoas normais na minha idade fazem quando não namoram? Não sei. Mas vou descobrir. Pego um táxi e pergunto se ele sabe de alguma festa legal que está rolando na cidade.
- Olha, moça, hoje é segunda-feira, não tem muita coisa, mas tem um clube aqui perto. Se for para dançar e beber, já é o suficiente.
- Ótimo, vou para lá.
Preciso começar a viver. Deixar tudo para trás e me comportar como um ser humano normal.
O lugar está lotado, é uma boate muito bonita. Só me lembro de um pequeno detalhe. Estou com pouco dinheiro. Recuo da porta de entrada, pensando se vou poder gastá-lo com diversão. Não me parece uma boa ideia.
- Pode vir, gata, já paguei entrada VIP para você. Pode entrar e beber à vontade. - me viro e vejo dois rapazes de uns trinta anos mais ou menos. Não entendi a gentileza, mas aceito.
- Obrigada. – digo, enquanto o segurança coloca uma pulseira preta no meu braço.
- Com essa pulseira você fica livre para os consumos do bar. - ele explica, ao perceber que sou nova ali.
Quando entro, o barulho é ensurdecedor. Deve ser por isso que nunca gostei desses lugares. Sempre que a Clarice me convidava, eu recusava. Com dificuldade chego até o bar e peço uma Coca-Cola. Não posso ficar bêbada em plena segunda-feira. Os dois rapazes que pagaram a minha entrada se aproximam.
- E aí, gata, você está sozinha? Vem dançar com a gente.
Me parece uma péssima ideia. Então decido ir, porque ultimamente tudo que me pareceu uma excelente ideia só me trouxe dor de cabeça.
- Vou.
Um deles continua no bar e o outro me pega pela mão e me puxa para a pista de dança.
- Qual o seu nome? - eu grito, para que ele me escute.
- Felipe. Mas aqui não se precisa de nomes, só de companhia.
Então ele me puxa para junto do seu corpo. Não gosto da proximidade e recuo.
- Calma, gata, só estamos dançando. - ele diz, bem próximo do meu ouvido. Então cedo e começamos a dançar. A música é eletrônica e as batidas são fortes. Percebo que Felipe tenta toda a hora se aproximar mais, tenta me beijar e viro o rosto. Depois que ele faz isso, tudo acontece tão rápido que demoro a entender. Só vejo ele caído no chão e sendo espancado por alguém. Uma gritaria se espalha na pista e eu fico paralisada quando vejo o responsável pela briga: Joe Hesgher.
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O doce sabor da vingança ( degustação)
RomanceSinopse Julie não é uma garota comum, afinal a vida nunca foi muito justa com ela. Abandonada pelos pais na infância, ficou aos cuidados da avó, que sempre lutou por uma boa educação, mas esqueceu do bom gosto para a moda. Na escola, sempre foi víti...
Cap 15
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