Futuro

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Na meia hora que Norma ficou a meu lado, ela só falou de coisas boas, de Deus, milagres, de como dariam uma festa com todos meus amigos pra me receber em casa, em como eu era amada, e como estava fazendo falta... Ouvi tudo em silêncio emocionada.

John só chorava e dizia que me amava, que havia comprado um presente pra mim, (presente que eu nunca receberia).

Jesus visitou cada paciente, observou e abençoou cada um.

As visitas foram embora.

Eu queria chorar novamente, já estava começando a aceitar meu destino, mas sei que minha família não esperava me ver dentro de um caixão. Eles me queriam viva. 

_ Não fique assim tão triste , a Norma é forte, mais do ela imagina, e muito sábia, ela saberá que foi ouvida, ela entenderá que esta é a única maneira de salvá-la , ela vai entender, vai compreender. 

_ Ela quer um milagre_ insisti como se eu conhecesse ela mais que ele _ Ela quer que eu fique bem. Toda minha família, eles querem me ver viva.

Baixei a cabeça e comecei a chorar.

_É o que você acha? Acha mesmo que sua família preferia te ver viva mesmo que isso te custasse sua alma? Sua salvação? 

Pois eu conheço cada um deles melhor que você e acredite, eles preferem te ver morta ,mas com a certeza de uma eternidade conquistada.

Não respondi. Não era o que eu pensava, eu não concordava com nada daquilo.

_ Venha ver você mesma.

Pegou minha mão e pensei que ao piscar os olhos estaria mais uma vez no monte. Me enganei dessa vez.

Fui transportada a um corredor escuro, caminhei , comecei ouvir vozes, na verdade gritos histéricos ...

No começo não reconheci, mas logo identifiquei, era meu pai.

Acelerei os passos no corredor que dava numa cela.

Era um presídio. 

Meu pai gritava. 

_ Olhe pra você! Que diabos está fazendo? Não! Não!!!...

Alguém falava baixinho. Mas ele estava aos berros .

_...Chega eu não preciso ver isso, chega!! _ Ele saia pela porta minha mãe o seguiu com as mãos na cabeça e aos prantos pedindo pra ele ficar _ fica você aí , eu não volto aqui mais. Chega Vana isso é absurdo. Te espero no carro.

Minha mãe tinha um semblante de tristeza profunda. 

Depressão. 

Estava furiosa porque queria ver quem era a pessoa miserável que os fazia sofrer tanto.

Entrei de uma vez na cela e quase caí no chão. 

Era Eu.

Eu.

"Meu Deus!"

Fiquei paralisada. A princípio horrorizada com minha condição, magra sempre fui mas eu parecia doente, meus olhos estavam fundos e estava pálida. Meus cabelos cortados igual homem ...e eu estava detida. Eu era a presidiária. Eu !

Minha mãe entrou de cabeça baixa, triste demais.

_ Ele não vai voltar mais né mãe?

Eu perguntava.

_ Não, você sabe como ele é. 

Dá um tempo pra ele filha.

_ Tenho muito tempo mãe, vou esperar. Prometo não sair daqui- tentei sorrir fazendo piada com toda aquela desgraça.

Naquela situação e eu ainda fazendo gracinha, não sei se eu sorria, chorava ou me dava um soco na cara. Não conseguia entender ,sempre fui honesta, trabalhadeira. Isso só devia ser um engano. O que eu faria pra parar ali? 

O diálogo continuava.

Eu assistia boquiaberta. 

_A Norma e o Vander não vieram porquê? 

_ Vander é igual seu pai, cabeça dura, ele não vem. Ele disse que você escolheu estar aqui e nisso ele tem razão né filha?! 

_E a Norma? 

_ Ela não veio porque hoje o Gugu não foi pra escola e ela não sabe o que dizer pra ele sempre que ele pergunta "cadê a titia"... mas ela mandou frutas e aquele bolo que você gosta. 

_E como está todo mundo lá fora?

_ tudo bem na medida do possível. 

_ Recebi uma carta de John, ele terminou tudo mãe. Acabou.

_ Sinto muito filha.

Chorando eu deitava no colo de minha mãe que também chorava.

_ Triste não é?

Jesus perguntou, acabava de entrar ,mas eu nem tinha reparado, tamanha revolta que eu me encontrava assistindo aquele horror.





minha Morte me salvouOnde as histórias ganham vida. Descobre agora