Prólogo

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O crepúsculo já despontava no horizonte. A vermelhidão do sol pincelava as nuvens com cores fortes, cujo centro era vazado por uma imensa bola avermelhada.

Paulatinamente, o céu perdia a sua cor, enquanto que a ausência de luz dominava toda a cidade de São Paulo. Pontos luminosos apareciam de repente - tanto de baixo quanto os de cima - iluminando lugares escuros ou taciturnos semblantes.

Havia chovido muito na véspera e, devido a isso, o céu ficara limpo, sem nuvens e com muitas estrelas cintilantes. Alguns carros transitavam pelas ruas - ora velozes, ora com vagar; ora imprudentes, ora atentos. A cidade, mesmo à noite, não podia parar nunca.

Burburinhos de vozes nos barzinhos lá da esquina. Ruído de portas de ferro se fechando: o comércio iria dormitar mais um dia, para acordar no dia seguinte mais disposto.

Enquanto um mundo ia para casa, outro se manifestava na escuridão.

* * *

Numa rua estreita - quase sem calçada e sem luz - um homem muito bem trajado caminhava sem preocupação. No seu braço direito, levava a sua pequena valise; no outro, um avental branco.

Escondido pelas sombras, outro homem o observava. Usava um casaco preto bem velho, maltratado, quase sujo. Olhos assustados, respiração ofegante. Por um momento, hesitava em segui-lo, porém, uma força sobre-humana o fazia locomover-se, recuperando o seu antigo propósito. E, com as mãos nos bolsos, resolveu seguir aquele homem.

O homem do avental branco seguia o seu caminho sem desconfiar de nada, querendo alcançar somente o outro lado do beco. Pois lá, do outro lado da rua, encontrava-se o seu carro Honda Civic 2.0.

O homem do casaco preto andava a passos largos, sorrateiramente, escondido pela penumbra. Precisava alcançar o homem depressa antes que ele chegasse ao fim do beco.

E, de repente, o homem do casaco preto interpelava o homem do avental branco, bradando uma frase dura:

- Me passe a sua carteira! - e mostrava uma faca de cozinha.

O olhar assustado da vítima não disse nenhuma palavra. Sem querer, deixou cair a sua valise no chão enquanto pegava a sua carteira. E, entregando-o para o seu algoz, notou que este olhava para os lados, o coração sobressaltado, o suor escorrendo pelo semblante, a adrenalina subindo frente àquela situação.

O homem do casaco preto pegou a carteira do pobre homem com brutalidade. Antes de fugir, olhou por um momento a valise da sua vítima. Mas estava com muita pressa - e precisava somente de dinheiro naquele momento. Então, com agressividade, derrubou o homem do avental branco - para que este, atordoado, não chamasse tão rápido a polícia pelo seu celular - dando tempo suficiente para a sua fuga.

Agora que estava com dinheiro em seu poder, só precisava correr. E correu. Correu em direção à saída do beco, a mesma direção que o homem do avental branco se dirigia. Correu desesperadamente, como na época da sua infância quando brincava de polícia e ladrão. E, enquanto corria, olhava para trás para ver se ninguém o havia seguido. E foi nesse momento que não viu um carro entrando no beco.

O homem do avental branco estava caído na rua. Por sorte, não sofreu nenhum arranhão. Enquanto se levantava, pegou o seu avental branco, a sua valise, e agradeceu a Deus por estar vivo. E foi nessa ocasião que ouviu um estrondo. Volveu os seus olhos para a direção do acidente, e correu para ver o que estava acontecendo.

Ao se aproximar, um homem agitava os braços pedindo ajuda. Era o motorista do carro. Outras pessoas que andavam por ali vinham ver o acidente.

- Chamem a ambulância!

O homem do avental branco aproximava-se cada vez mais. Estendido na rua, viu o homem do casaco preto. Este estava semi-inconsciente, delirava, e proferia apenas um nome, sem parar:

- Rosária! Pobre Rosária!

Com a vista turva, o homem do avental branco sentiu o mundo girando e quis sair logo dali, dando alguns passos para trás.

- Alguém aqui é médico? Alguém aí sabe Primeiros Socorros?

Então, de repente, o homem do avental branco estacou.

- Meu Deus, ele está morrendo!

- Uma ambulância. Alguém já chamou a ambulância?

Algo o segurava para não sair dali. Mas não sabia o que era. E ainda continuava estático, mudo, paralisado.

- Ele precisa de cuidados!

- Deixem o homem respirar. Por favor, pessoal, se afastem!

- Um médico! Chamem um médico!

O homem do avental branco olhou para a sua valise, indeciso e confuso. No seu pescoço, pendia uma cruz, presente de um ente muito querido. Fechou os olhos por um momento, pois uma sensação estranha o estava dominando cada vez mais.

Então, de repente, ele se lembrou do antigo juramento que fez há muito tempo atrás.

***

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O Balanço da Pena (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now