Capítulo 6

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EDUARDO

Cheguei em casa e a primeira coisa que fiz foi abrir uma garrafa de uísque e me servir uma dose. Aconteceram tantas coisas desde que acordei esta manhã que me fizeram sentir completamente desconcertado. Primeiro a visita da minha irmã e sua ideia de reviver todas aquelas lembranças que pareciam pertencer à outra vida e transformá-las em livro. Depois veio o almoço com aquela mulher que me deixou intrigado e fascinado ao mesmo tempo, não apenas por sua beleza, mas pelo seu carisma e outra coisa que não conseguia definir. E, finalmente, sua sobrinha linda que despertou em mim emoções e sentimentos que nunca achei ser capaz de sentir novamente. O que havia de errado comigo?

Meu plano de vida era bem simples: manter as pessoas à distância, não me apegar a ninguém e nunca acreditar que a felicidade era duradoura. Mas se era tudo tão simples assim, porque me senti tão mal ao negar o pedido daquela menina? Não queria admitir que eu desejava me sentir vivo pela primeira vez desde a morte do André. Todos esses meses desde que ele se foi, eu simplesmente sobrevivia porque era muito fraco para dar fim ao meu sofrimento e achava injusto que meus pais perdessem outro filho em tão pouco tempo. Se dependesse só de mim, já estaria ao lado do meu irmão em um lugar onde não existia dor nem perda.

Duda! Ela me chamou de Duda.

Quando eu era pequeno, André começou a me chamar assim porque achava meu nome muito careta. No começo, eu implicava e pedia para parar de me chamar desse jeito, mas ele nunca me escutava. Um dia, nós dois estávamos passando o tempo na praia e ele confessou que gostava de me chamar assim porque era uma coisa só dele e que se sentia especial por ser o único. Eu olhei para ele achando que era brincadeira, mas logo percebi que meu irmão dizia a verdade. Continuei não gostando, mas nunca mais pedi que ele parasse. Esse seria para sempre um vínculo só nosso e me sentia bem com isso. Ou, pelo menos, até essa tarde quando Julie me chamou assim.

Levantei do sofá e enchi novamente meu copo. Talvez beber não fosse a melhor solução, mas precisava daquela sensação de entorpecimento. Quantas e quantas noites eu utilizei a bebida para me sentir dessa forma... Eu não tinha vida social, não me encontrava mais com a minha família e não tinha vontade de fazer nada. As poucas vezes que dedilhava meu violão era quando meu mundo voltava um pouco ao foco, mas normalmente só servia para me deprimir ainda mais e eu acabava atirando-o no canto da sala e enchendo a cara até adormecer.

Meu telefone começou a tocar no meu bolso, mas não reconheci o número. Fiquei olhando para a tela enquanto ele tocava, imaginando se havia alguém conhecido do outro lado da linha ou se não passava de um simples engano, até que o aparelho parou de tocar. Esperei para ver se a pessoa ligaria novamente, mas terminei encarando o aparelho por vários minutos sem que nada acontecesse. Aparentemente eu não era tão importante assim para perderem seu tempo insistindo. Eu não era ninguém.

O BRILHO familiar da claridade matutina me despertou e coloquei o braço sobre meus olhos para afastar o indesejado anúncio de que já estava na hora de levantar. Se ao menos eu fosse inteligente o suficiente para dormir no meu quarto, eu não precisaria passar por isso todas as manhãs. Levantei do sofá e subi as escadas até o banheiro para jogar uma água no rosto. Fiquei me encarando no espelho por um tempo e suspirei pesarosamente quando me lembrei do que teria que fazer hoje.

O notebook que sempre me ajudou a permanecer longe dos olhares curiosos dos moradores de Villa Bella resolveu me abandonar na noite de sexta. Estava digitando o site do banco para pagar as poucas contas que chegavam mensalmente e a máquina simplesmente apagou. Já me preparava para lançá-la contra a parede quando soltei um urro que assustaria até o mais corajoso dos animais e coloquei o imprestável computador de volta na mesa de centro. Não adiantava fazer isso.

[DEGUSTAÇÃO] Letra & Melodia - Trilogia Fury Hunters #1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora