Capítulo 2

5.5K 507 86
                                    

EDUARDO

Não queria abrir os olhos, mas os raios de sol teimavam em me atormentar novamente. Foi a mesma coisa nos últimos cinco dias. Eu bebia até não aguentar me levantar e ir para o meu quarto, e acordava esticado no sofá com o sol entrando pelas persianas da janela da sala e uma maldita dor nas minhas costas. Tudo isso para passar mais um dia sem fazer nada.

Essa foi minha vida nos últimos dez meses. Acordava todas as manhãs mais cansado do que tinha estado na noite anterior, rodava pela casa sem nada interessante para fazer, evitava conversar com minha família e meus amigos e começava a beber até que conseguisse afogar minhas mágoas no meu copo de Scotch. Se estivesse em um dia bom, ia até um bar pouco conhecido e tocava meu violão por algumas horas antes de voltar para casa.

Levantei do sofá e fui até a cozinha comer alguma coisa. Quase pisei em uma das caixas de pizza que estava jogada no chão da sala e amaldiçoei minha total incapacidade de manter minha casa limpa. Tinha comprado esse lugar há quase um ano, mas só me mudei para cá quando me isolei do mundo. Foi a última coisa que comprei com a ajuda do André e decidi que era onde eu deveria ficar para me manter afastado de todos da minha família e dos meus amigos que eram como irmãos. Durante os primeiros dias, meu telefone tocava o tempo todo. Meus pais e minha irmã me ligavam o dia inteiro, assim como o Benny e o Tales. Eu nunca os atendia e ignorava as milhares de mensagens de texto que eles sempre me mandavam. Com o tempo, as tentativas de manter contato foram diminuindo até que se tornaram esporádicas. Eu me tornei um prisioneiro dentro da minha própria casa, sem vontade de conversar, de sair ou confraternizar.

O dia que minha irmã me ligou para contar sobre o acidente do nosso irmão foi o dia que minha vida acabou. Eu amava os meus pais, sempre fui o protetor da Sammy, mas a ligação que tinha com meu irmão mais velho era única. Ele era a sensatez que eu precisava quando sonhava demais e a palavra sábia nas horas mais importantes. No dia que ele morreu, não perdi apenas um irmão. Perdi sua linda família e a crença no felizes para sempre. Não havia por que acreditar no amor e na família quando a vida era tão injusta com a gente. Em um minuto tudo poderia mudar e eu não queria sentir novamente essa dor de perder uma parte de mim. Não, eu não me permitiria viver tudo aquilo de novo.

Assim que abri a geladeira, apenas para constatar que ela estava completamente vazia, ouvi a campainha tocar e meu corpo todo congelou. Eu não recebia visitas e não esperava nenhuma entrega. Quem poderia ser a essa hora da manhã? Fiquei ali parado na porta da cozinha sem me mover, esperando para ver se quem quer que estivesse do lado de fora ia embora, mas não tive sorte. A pessoa agora tocava com mais insistência e ouvi batidas na porta.

- Eduardo, eu sei que você está aí. Abra essa porta antes que eu a derrube. Ando praticando artes marciais e estou malditamente forte!

Senti meus lábios começarem a se curvar para cima e percebi que estava começando a sorrir pela primeira vez em quase um ano. As batidas continuavam sem parar e sabia que minha irmã teimosa não ia embora até que eu abrisse a porta.

Assim que meus olhos encontraram os seus, senti uma vontade enorme de puxá-la para os meus braços e nunca mais largá-la. Mesmo sendo mais velha, ela era minha irmãzinha e eu a amava demais. Mas não, não me permitiria sofrer novamente com a perda inevitável de outra pessoa. Nunca mais.

- Du...

Vi as lágrimas começarem a se formar e me esforcei para controlar a vontade de desabar na sua frente. Não chorava desde o enterro do André e não me permitia sequer pensar nisso novamente, mesmo vendo minha irmã depois de mais de quatro meses sem contato nenhum.

- Samantha, o que posso fazer por você?

- Você não vai me convidar pra entrar?

- Sammy...

[DEGUSTAÇÃO] Letra & Melodia - Trilogia Fury Hunters #1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora