Prólogo

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Doncaster, 14 anos atrás

"Mark! O que aconteceu?" Jay exclamou, alarmada ao ver o marido entrando em casa segurando o filho mais velho pelo braço enquanto o menino chorava freneticamente.

"Mamãe, eu não fiz nada, eu juro" a voz fraca do menino chamou a atenção de Jay, que olhou para ele com pena antes de voltar o olhar para o marido, exigindo explicações.

"Esse... merdinha" xingou baixinho antes de contar a história para sua mulher "Estava beijando Stanley! Beijando, Jay!" gritou, e Louis fechou os olhos. Não queria ver a expressão de decepção de sua mãe ao ouvir que ele estava beijando seu melhor amigo... Um garoto.

"B-beijando?" Jay sussurrou, e Mark assentiu. Louis então sentiu grandes mãos em suas bochechas, envolvendo seu rosto, e as mãos que antes apertavam seu braço, afrouxaram e então deixaram seu corpo. Tomlinson abriu os olhos e encarou sua mãe ajoelhada em frente ao seu corpo, ficando da sua altura. Ela sorria, e tinha os olhos cheios de lágrimas. Parecia estar em uma luta interna contra ela mesma. Mark apenas os encarava possesso ao perceber que sua esposa o havia contradito. "Mark, ele é só um garoto".

"Que estava beijando outro garoto! Johannah, pelo amor de Deus!" exclamou, puxando os próprios cabelos.

"Ele está crescendo, querido" sussurrou a mulher, sem tirar os olhos dos olhos azuis claros do filho "Está curioso sobre a vida. É completamente normal que queira experimentar coisas diferentes" Louis não pôde evitar sorrir fraco ao ouvir as palavras doces de sua mãe, e avançou para frente, entrelaçando os braços ao redor do pescoço da mulher e a abraçando, sentindo os braços fortes da mãe o apertarem contra si.

Ousou abrir os olhos para encarar o pai, e o mesmo os encarava com fúria e repulsa. Louis pôde ver a irmã Lottie, gordinha e bochechuda encarando a cena com confusão, segurando na mãozinha pequena de Fizzy, que ainda não tinha tanta firmeza para andar sozinha. A mais nova parecia absorta aos eventos na sala de estar, estava entretida com algo no cabelo de Lottie, mas a garota não sabia o que estava acontecendo. Via o irmão chorando, a mãe o abraçando e o pai o xingando tão baixo que ela nem conseguiu identificar as palavras usadas.

Sem dizer uma palavra, Mark pegou a criança no colo, segurou a mão de Lottie e as levou para o andar de cima, subindo em passos largos e os deixando sozinhos.

❀❀❀

Duas semanas depois...

Jay havia levado Fizzy ao parque logo cedo. Deixou Lottie e Louis aos cuidados de Mark, que parecia extremamente pacífico desde o ataque de fúria quando pegou o filho com o melhor amigo. Após uma conversa com Stanley, Johannah entendeu que não havia acontecido nada entre os dois, apenas trocaram um beijinho nos lábios, pois estavam curiosos. Stanley chorou e implorou para que deixassem Louis sair para brincar e que não iria acontecer novamente, mas Mark o proibira.

Stanley até mesmo se culpou. Disse que ele havia pedido o beijo e Louis apenas cedeu porque queria ir brincar logo, o que talvez não fosse verdade. Jay reconheceu que Stan poderia estar apenas sendo um bom amigo e tomando a culpa para si.

Lottie estava sentada no centro do tapete em seu quarto, rodeada de bonecas e ursinhos de pelúcia. Estava entediada; era como se sentia quando nem sua mãe, nem Fizzy estavam em casa. Preferiu não ir ao parque para ficar dormindo, e quando acordou, estava sozinha.

Andou até o quarto de Louis, mas a cama estava vazia e então pensou que talvez Jay o tivesse levado também. Então voltou ao seu quarto e espalhou todos seus brinquedos pelo chão, empolgada para começar a brincar, mesmo que sozinha.

"Papai!" ouviu um grito fino e alto, mas abafado. Não soube dizer de onde vinha nem quem era, mas sentiu-se alarmada ao notar a familiaridade do tom de voz. Talvez Louis estivesse em casa e estava só brincando com seu pai.

Voltou a brincar com as bonecas.

"Papai, por favor, pare!" ouviu novamente, e arregalou os olhos. A voz não parecia estar brincando, parecia estar chorando. Trêmula, Lottie se levantou e andou até a porta do seu quarto, ouvindo melhor.

Ouvia um choro baixo e fino, e reconheceu na mesma hora ser o seu irmão, mas não entendia o porquê ele estava chorando. Não sabia o que fazer, era muito nova para toma qualquer atitude, e sua cabeça não havia processado o que poderia estar acontecendo.

Então quando ouviu a porta da frente sendo aberta, correu escada abaixo, quase tropeçando e caindo, mas pulou nos braços da mãe assim que chegou no último degrau.

"Mamãe!" sussurrou contra o pescoço da mulher, que a abraçava forte.

"O que foi meu amor?"

"O papai" a menina continuava sussurrando, quase como se pedisse para que a mulher não falasse alto também "O Louis... ele... ele está chorando" ofegou, e olhou para a irmã mais nova por sobre o ombro da mãe. A menina estava sentada no chão, entretida com a própria barra da calça, que puxava e fazia com que ela caísse para trás, rindo sozinha.

"Por quê? O que aconteceu? Onde está o seu pai?" Jay perguntou, alarmada. Colocou Lottie no chão quando viu a menina balançar a cabeça. Era óbvio que ela não sabia, tinha apenas três anos, o que poderia saber?

Após pedir para que Lottie ficasse no andar de baixo tomando conta da irmã, Jay subiu lentamente as escadas, e sentiu o coração subir até a garganta quando ouviu o garoto chorar um pouco mais alto do que normalmente chorava. Não era um choro qualquer, era um choro de dor.

Abriu a porta do quarto, e ponderou as possibilidades de arrancar a cabeça do marido ou desmaiar devido ao choque.

Louis estava sentado no chão, enrolado e abraçando o próprio corpo com a cabeça enfiada entre os joelhos, tão pequenino. Chorava freneticamente, e se balançava para frente e para trás, sussurrando palavras que Jay identificou como "Papai, por favor, me desculpe, pare". Quando os olhos da mulher se fixaram na figura do marido, sentiu seu coração quebrando em mínimos pedaços. O homem tinha uma cinta em uma mão, e a outra estava fechada em um punho. Johannah não pôde evitar sentir um alívio ao perceber que não era o que passava em sua cabeça que estava acontecendo ali. Poderia ser pior, mas ainda assim era ruim. Era horrível.

"O que você fez?!" gritou, e o marido virou assustado, com os olhos arregalados encarando a esposa. "Mark, o que foi que você fez com ele?" Ela andou em direção ao marido, arrancou a cinta da mão dele e a jogou sobre a cama. Desferiu um tapa no rosto do homem antes de se virar e ajoelhar-se em frente ao garoto, abraçando-o e o puxando para o seu peito.

"Ele veio me pedir para sair para brincar com Stanley. Disse que estava entediado e que sentia falta do amigo. Eu dei uma lição nele" Mark ofegou, parecendo estar finalmente caindo em si e entendendo o que acabara de fazer. Jay sentiu repulsa ao notar que nem um pouco de remorso passava por seus olhos "Talvez assim ele aprenda a ser homem"

"Você é um idiota" Jay sussurrou entre dentes, e apertou o menino mais forte ainda contra seu corpo. Ele ainda repetia o mantra "papai, por favor, me desculpe, pare" e a mulher sentiu-se tão inútil e impotente naquele momento que não fez nada mais além de chorar junto com o garoto.

deadly sins {l.s}Onde as histórias ganham vida. Descobre agora