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9° Lugar Sarada em 12/25 ♥️
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No coração do Império Pérsio, o trono é feito de areia e sangue.
Quando o jovem rei Kawaki decreta uma seleção para escolher sua rainha, mil jovens são levadas ao palácio como oferendas...
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A caravana parou quando as torres começaram a sangrar luz.
Era o crepúsculo, e o Palácio de Rubis, erguido sobre o ombro de um desfiladeiro de arenito, refletia o sol moribundo em mil janelas ovaladas, como olhos avessos que nunca piscavam.
Sumire sentiu o estômago se contrair: a construção parecia respirar, e cada respiração aspirava nomes, esquecimentos, promessas.
— Desçam. — ordenou Sahra, sem se virar. — Quem pisar no chão do átrio com medo, ficará com medo para sempre.
As portas principais, duas lâminas de bronze cravejadas de lápides de quartzo, abriram-se sem rangido, como se já estivessem abertas há séculos, esperando. Do interior exalou um cheiro de mirra, cera de vela e algo adocicado, quase fermentado, como fruta podre escondida em tapetes de seda.
Sumire foi a última a descer. Antes que o pé descalço tocasse o mosaico de mármore vermelho, ela segurou o ar, guardou-o na boca como quem guarda uma bala de canhão, e desceu.
O chão estava quente.
Não de sol, mas de sangue que não secara ainda.
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Duas fileiras de eunucos, túnicas brancas, olhos pintados de carvão, receberam-nas em silêncio.
Cada garota recebia uma plaqueta de cobre com um número gravado.
Parin recebeu “37”.
Quando chegou a vez de Sumire, o eunuco, um homem alto, com cicatriz de queimadura no queixo, hesitou um segundo, como se o metal pesasse mais quando tocado por ela.
— Nome? — perguntou, voz de serpente.
— Sumire Kakei.
O homem gravou devagar, cada letra como uma pequena facada.
— Número 50. — entregou a plaqueta. — A última.
Sumire sorriu, um sorriso que fez o eunuco dar um passo atrás.
— Gosto de fechar portas por trás de mim, sussurrou.
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O Harem das Escolhidas ficava no ala leste, atrás de sete portas, cada uma mais pesada que a anterior.
As paredes eram de alabastro translúcido, iluminado por lâmpadas de azeite que projetavam sombras de palmeiras em movimento, sombra falsa de liberdade.
Sahra caminhava na frente, os pés descalços não faziam som.
De vez em quando, parava, colocava a mão sobre uma parede, como se ouvisse o mármore.
— Aqui, — disse, parando diante de um arco oval —, é o Salão das Águas Quietas.
A partir de agora, vocês não têm nomes.
Têm números.
E números não choram, não lembram, não amam.
Sumire levantou a mão.
— E se esquecerem de ser números?
Sahra virou-se devagar, os olhos negros brilhando como óleo sobre fogo.
— Então o palácio se lembra de por que engoliu tantas antes delas.
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O quarto de Sumire media três passos de largura, dois de comprimento, teto baixo, uma janela alta demais para alcançar, uma cama de madeira de teca, um espelho de bronze que distorsionava o rosto.
No chão, um tapete persa, padrão de flores que nunca existiram no deserto.
Ela colocou a areia, o punhado que troubera da jornada, em cima da penteadeira improvisada.
A areia escorregou, formando um pequeno monte, como se a própria areia estivesse se recusando a ficar quieta.
De repente, a porta rangeu.
Uma garota entrou, número 12, cabelos negros como asa de corvo, olhos tão verdes que pareciam pedras preciosas roubadas do mar.
Ela não bateu.
Fechou a porta, encostou-se à ela, respirando com dificuldade.
— Você é a que não ajoelhou, né? — perguntou, voz de quem já foi pega no meio de fugas.
Sumire assentiu.
— E você é a que entrou correndo?
A garota sorriu, um sorriso que não chegava aos olhos, mas não era medo, era fúmia.
— Nome verdadeiro — Mojgan.
Mas aqui sou 12.
E 12 tem um recado para 50.
Ela aproximou-se, colocou a boca ao ouvido de Sumire, e sussurrou:
— A última sempre morre primeiro.
A menos que a primeira quebre as regras antes do primeiro sino.
Sumire virou-se para ela, os olhos encontrando-se no espelho distorcido.
— Então vamos quebrar antes que eles saibam que existe regra.
Mojgan estendeu a mão.
Na palma, havia um pedaço de cerâmica quebrada, borda afiada como navalha.
— Presente de boas-vindas.
— De quem?
Mojgan sorriu de novo, agora, com os olhos.
— Do deserto.
Ele não esquece quem o carrega no bolso.
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Mais tarde, quando as lâmpadas foram apagadas uma a uma, Sumire deitou-se no chão frio, a cabeça próxima à janela alta.
Através da abertura, ela via apenas um triângulo de céu, mas era céu suficiente para ver uma estrela.
Ela pegou o pedaço de cerâmica, riscou o símbolo “50” na parede, e riscou por cima.
Depois, gravou:
“Sumire”
Abaixo, com letras menores, como se a parede fosse um diário, ela acrescentou:
“Aqui entro como número. Sairei como nome. E o palácio vai aprender a digerir isso.”
E a areia, no canto da penteadeira, pareceu brilhar brevemente, como se o deserto estivesse acenando de volta.