Fuga

18 3 0
                                        


Indicação de música para esse capítulo:
The Last Day - Moby, Skylar Grey


Capítulo 2

Takemichi estava ofegante, suando frio. O mesmo som, o mesmo quarto, o mesmo inferno recomeçando.

"Não... de novo não. Eu morri. Eu sei que morri. Mas... eu tô aqui. De novo."

Ele se sentou na cama, as mãos tremendo. O relógio marcava o mesmo horário de sempre, as 8:07, o mesmo instante que ele lembrava antes da reunião da Toman.

"Se eu não for... talvez eu quebre o ciclo. Talvez... eu viva."

Pela primeira vez, Takemichi decidiu faltar.

Ele ficou em casa, trancou portas, janelas, fechou as cortinas. O som da rua parecia distante, mas o medo não. A cada minuto que passava, ele esperava ouvir passos no beco, o som da faca, a respiração pesada do assassino. Mesmo sabendo que estava seguro, seu corpo não acreditava.

O celular vibrou.
Uma. Duas. Dez vezes.

Mensagens de todo mundo.
Draken: "Mano, cadê você? Reunião começou."
Chifuyu: "Tá tudo bem? Não respondeu desde ontem."
Baji: "Tá doente? Manda localização, idiota."
E finalmente, Mikey: "Takemitchy?"

O nome na tela o fez gelar. Ele olhou fixamente, hesitando em responder. O coração batia tão forte que parecia querer sair do peito.

"Se eu responder, eles vão vir atrás de mim. Se vierem atrás de mim, o ciclo continua."

Mas Mikey era Mikey. Ele não precisava de resposta.

Pouco tempo depois, o som de uma moto cortou o silêncio da rua. O ronco familiar do motor fez o estômago de Takemichi se revirar. Ele correu até a janela e viu Mikey estacionando a moto, tirando o capacete com calma, e olhando pra cima, direto pra janela dele.

— Droga... — Takemichi murmurou, engolindo seco.

Bateram na porta.
— Takemitchy, eu sei que você tá aí.

A voz de Mikey soava calma, mas havia uma preocupação escondida nela. Takemichi ficou paralisado, olhando pra maçaneta.

— Vai embora, Mikey — ele respondeu, a voz embargada. "Por favor... só... me deixa sozinho hoje, tá?"

Do outro lado, o silêncio durou alguns segundos.
Depois, Mikey respondeu, suave:
— Você tá chorando? —

Takemichi sentiu a garganta travar. O nó no peito explodiu. Ele tentou esconder a respiração trêmula, mas foi inútil. As lágrimas escorreram sem aviso.

— Eu... eu não posso te ver agora — ele sussurrou, encostando a testa na porta. — Não posso. —

Mikey ficou quieto por um momento, e então respondeu, mais firme:
— Abre essa porta, Takemitchy. Não importa o que tá acontecendo, eu tô aqui. —

Takemichi recuou, os olhos marejados, o coração disparado.
"Ele não entende... se eu sair, eu morro. Se eu ficar, talvez... talvez eu viva."

— Por favor, Mikey... — Takemichi chorava abertamente agora. — Vai embora. Eu imploro. Se você me ama de verdade, vai embora! —

Do outro lado, Mikey suspirou baixo, e por um instante, Takemichi achou que ele fosse insistir. Mas a maçaneta não se moveu. O som dos passos se afastou devagar, o eco das botas desaparecendo na calçada.

Takemichi deslizou pela porta até o chão, soluçando baixinho.
O celular vibrou novamente.
Uma nova mensagem:

Mikey: "Não importa onde você se esconda, eu não vou deixar você lidar com isso sozinho."

Takemichi olhou pra tela, as lágrimas caindo sobre o vidro.
"Eu queria que você pudesse entender, Mikey. Eu queria... mas se eu te contar, você vai tentar me salvar. E se tentar, você vai morrer também."

Ele fechou os olhos, abraçando os joelhos. A dor na barriga voltou, fraca, mas persistente — uma lembrança viva de que o destino ainda estava o caçando.

O relógio marcava o mesmo horário de sempre.
O mesmo ciclo.
O mesmo inferno.

E do lado de fora, nas sombras, o homem de capuz observava.

O silêncio da casa era tão pesado que até o som da respiração de Takemichi parecia alto demais.
Ele estava sentado no chão, de costas pra porta, o rosto molhado de lágrimas e os olhos fixos no nada.

"Tá tudo bem... tá tudo bem... o Mikey foi embora... ninguém sabe que eu tô aqui... ninguém..."

Mas então veio o som.
Um estalo seco, metálico, vindo dos fundos da casa.

Takemichi congelou.
Outro som. Madeira rangendo. Um impacto surdo.
E, de repente — o estrondo.
A porta dos fundos foi arrombada.

O coração dele disparou.
Ele se levantou num pulo, tropeçando nos próprios pés, correndo pra pegar a chave de casa.

"Não! Não! Não de novo! Eu mudei o caminho, eu fiquei em casa! Como ele... como ele me achou?!"

As mãos tremiam tanto que ele quase deixou a chave cair. O barulho de passos ecoava pela cozinha — pesados, lentos, controlados.
Takemichi girou a chave, a fechadura parecia demorar uma eternidade pra destravar.

Clac.

Antes que pudesse abrir completamente, ele sentiu a sombra atrás dele. O ar ficou denso. Um cheiro frio, metálico — familiar.
A mão dele nem teve tempo de alcançar a maçaneta.

O homem o agarrou por trás com força brutal, empurrando-o contra a parede. O impacto tirou o ar dos pulmões de Takemichi, e a dor na barriga voltou como fogo.

— Ahhh! — ele gritou, tentando se soltar, mas o agressor era muito mais forte.

O capuz cobria o rosto, mas de perto Takemichi conseguiu ver — os olhos. Escuros, frios, calculistas. Não havia raiva neles, só propósito.

Takemichi tentou falar, a voz quebrada:
— Por quê? O que você quer de mim?! Eu nem te conheço! —

O homem ficou em silêncio por um instante. Depois, aproximou-se ainda mais, o rosto quase encostando no dele. A respiração dele era calma, quase tranquila, e o tom de voz era baixo, quase sussurrado.

— Porque você... nunca devia ter voltado. —

Takemichi arregalou os olhos.
— V-voltar? O que—? —

O homem sorriu, um sorriso torto, sem humor.
— Você acha que pode mudar o destino, Hanagaki Takemichi? —

Antes que Takemichi pudesse responder, o homem moveu o braço. A faca brilhou mais uma vez, cortando o ar — e o som familiar, o mesmo de sempre, encheu o quarto.

Takemichi tentou gritar, mas a voz morreu na garganta. O golpe atravessou a barriga dele, e o calor do sangue se espalhou.
A força foi se esvaindo junto com a cor dos olhos. Ele escorregou pela parede, caindo de joelhos.

O homem se abaixou, olhando-o nos olhos.
— Não importa quantas vezes você volte... —ele disse, a voz quase suave. — Eu sempre vou te achar. —

E então saiu, desaparecendo tão silenciosamente quanto havia entrado.

Takemichi caiu de lado, o corpo tremendo, os dedos tentando segurar o ferimento que não parava de sangrar.
— Não... eu não posso morrer... não outra vez... por favor... —

Mas o frio voltou.
A dor desapareceu.
E, mais uma vez, o som do despertador ecoou.

O mesmo quarto.
O mesmo horário.
O mesmo inferno.

Takemichi abriu os olhos, os lábios tremendo.
As lágrimas já escorriam antes mesmo dele entender que estava vivo de novo.

"Ele me conhece... ele sabe meu nome... quem é você...?"

O ciclo continuava.
Mas agora, Takemichi sabia de uma coisa: o inimigo não era um desconhecido qualquer.
Era alguém que o conhecia — alguém que o queria preso ali.

E o jogo só estava começando.




❤️💬

Loop Temporal - Mitake pt 1Where stories live. Discover now