- Por favor, Du. É importante.

Soltei uma profunda respiração e abri mais a porta para que ela entrasse. Eu não queria estar perto dela, porque isso significaria pensar nos meus pais, e pensar neles me lembraria dos bons momentos que vivemos juntos, e isso incluía o André. Os olhos da minha irmã observavam atentamente a sala fria e impessoal da minha casa. Não havia mobília suficiente e o pouco que tinha era simples e pouco atrativa. Não parecia em nada com o belo apartamento da Samantha ou com a casa dos meus pais.

- Du, sua casa é... diferente do que eu imaginei que seria.

- Não me importo muito com essas coisas, você sabe disso.

- Não, eu não sei - seu rosto caiu e quis me bater por me manter tão distante. Será que ela não entendia que era assim que as coisas tinham que ser?

- Por que você veio?

Ela estava receosa, talvez temendo minha reação à sua presença pela primeira vez na minha casa, mas percebi quando um brilho surgiu em seus olhos e sabia que sua teimosia e obstinação venceriam essa batalha.

- A gente precisa conversar sobre um assunto muito sério e não quero ouvir desculpas. Já deixamos você se manter afastado por muito tempo e agora é hora de agirmos como adultos e resolvermos as coisas.

- Que assunto sério? - perguntei assim que peguei as caixas de pizza esparramadas no chão e as levei para a cozinha. Quando voltei, Samantha já estava sentada no sofá, indicando para que me sentasse ao seu lado. Ocupei o meu lugar e ela virou seu corpo de frente para mim, cruzando as pernas sobre o assento.

- Por que você se afastou de nós, Du? Eu sei que você estava sofrendo, mas eu também estava, assim como a mamãe e o papai. Todos nós ficamos preocupados com seu isolamento.

Passei as mãos sobre meus cabelos despenteados e fechei os olhos com força. Não era hora de conversarmos sobre isso.

- Foi para isso que você veio aqui? Para me fazer sentir culpado por preocupar os nossos pais?

- Não, não foi pra isso. Mas por que se manter afastado de nós?

- Porque é minha maneira de lidar com tudo e eu não quero mais falar sobre isso. Eu não queria há dez meses e não quero agora. Você pode respeitar isso?

- Claro, Du. Se você quer assim, não vou te pressionar. Mas tenho assuntos muito importantes para falar com você. É a respeito da banda.

Meu sangue gelou na simples menção dos Fury Hunters. Foi uma das decisões mais difíceis da minha vida dar fim à banda. Fiz isso logo depois que enterrei meu irmão e sua família. Os caras me pediram para pensar ou, pelo menos, deixar as coisas esfriarem, mas não tinha motivos para continuar. A banda foi ideia do André e ela simplesmente não existia sem ele.

- O que tem isso? Ela já acabou há meses e não há motivos para voltarmos nesse assunto.

- Tem sim. A banda pode ter acabado, mas muitas pessoas gostavam dela. Decidi que devemos lançar uma biografia com toda a sua trajetória.

- O quê?

- É isso mesmo. Conversei com uma editora que adorou a ideia e quer lançar essa obra. Liguei para os rapazes e eles ficaram muito empolgados. Eles mal podem esperar para contar a história de vocês.

- E quanto a mim? Eu não tenho voz ativa nessa decisão? - perguntei, sentindo meu sangue começar a ferver. Como ela podia ter tomado essa decisão sem me consultar antes? E se eu não quisesse remexer no passado? - Quem te deu o direito de decidir fazer isso sem a minha autorização?

[DEGUSTAÇÃO] Letra & Melodia - Trilogia Fury Hunters #1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora