Tetracromo. Um portador de memórias.

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    A caminho da casa de Bernardo, a cada passo eu me intrigava mais e mais... O que será que ele quer comigo? Como ele conseguiu me contactar por meio de um sonho? Enfim, chego no portão e sinto um ar de impotência e ao mesmo tempo não sinto nada por causa do nervosismo. Assim que entro, ele está a minha espera sentado na sala tomando chá.

    Quando vejo aquele homem

- Barba grande

- Cabelos caídos

- Olhos esverdeados


Tenho certeza de que é ele, embora pareça um tanto largado ou coisa do tipo.

    Elisa o avista logo na entrada e eu peço a ela que não o atrapalhe agora. Digo que eu mesma me apresento, ela concorda e vai para dentro pelo corredor. Fico encostada na primeira quina que encontro e o observo. Ele está sentado na poltrona com as pernas cruzadas e a xícara é a única coisa que se movimenta. Seu olhar parece parado e seu semblante me diz que seu cérebro está se partindo em vários pedaços pra que cada parte resolva um teorema diferente.

    Resolvo me aproximar, enquanto ando em direção a ele, faço barulho sem querer e ele me percebe. Logo me inquieto e ando em direção a ele, desta vez atônita.

- Miranda

- Olá...

Enquanto nos abraçamos fica explícito meu nervosismo, como também é visível a sua naturalidade.

- Como Elisa te encontrou? Ele pergunta

- Na verdade fui eu que a encontrei...

    Nós dois rimos e, por algum motivo eu não consegui olhar nos olhos dele por mais de dois segundos seguidos, acho que ele percebeu e mudou um pouco o tom.

- Desculpe pelo meu estado, não saio de casa já faz um bom tempo...

- Não há problema! Está tudo bem. Não me importo. Mas, senhor Bernardo, estou muito curiosa pra saber o porque da sua empregada estar à minha procura.

- Temos muito o que conversar. Na verdade preciso de algumas informações, digo, nos teus livros me chama bastante atenção as vezes em que você cria personagens meio doidos e com alguns distúrbios.

- Na verdade eles não são doidos, senhor Bernardo... Apenas não são normais, alguns deles preferiram habitar o seu próprio universo. Imagine que triste seria se eles fossem normais?

- Mas isso é reflexo seu?

Por um momento temo responder esta pergunta. O clima está ficando diferente, um tanto denso.

- Senhor Bernardo, ainda não estou entendendo o motivo de ter me chamado aqui. Ainda mais em motivo de urgência.

    Ele segura minha mão com uma delicadeza sublime e me arrebata olhando diretamente nos meus olhos. Meu coração se descontrola e por dois instantes sinto dores.

- Por favor, preciso que responda a minha pergunta. É importante pra mim. Seus personagens são diretamente reflexos seus?

    Aquela frase assustou o ar que estava escondido nos meus pulmões. Soltei as mãos dele e respondi fugindo meus olhos dos dele.

- Sim.

- Você... Vê pessoas diferentes?

- Eles são iguais a nós.

- Nós?

- Sim. Eles são físicos. Memórias físicas.

- E se eu disesse que eu também tenho contato com essas "Memórias físicas"? Essas pessoas.

    Impossível. Em toda a minha vida eu nunca conheci outro tetracromo. Meus olhos se arregalam e mil coisas passam pela minha cabeça... Não! Não há forma! Não importa o quanto incrível ele seja, é imporssível que Bernardo Bertrand também seja um Portador.

O Portador de memórias - Para jovens idososOnde as histórias ganham vida. Descobre agora