Capítulo 1

81.7K 3.3K 1.9K
                                    


Lia



Eu nunca tive uma família normal. E nunca fui uma rapariga normal. Bem, a minha vida nunca foi totalmente normal. E, para piorar, em breve, faço dezoito anos. Para muitas raparigas isto era um bom motivo para uma grande comemoração, com os seus amigos e família. Mas, como já disse, a minha vida não se encaixa nos padrões das vidas normais.

A minha mãe é acompanhante de luxo e nunca conheci o meu pai. Pelo que a minha mãe sempre me disse, ele foi um cliente seu e não me quis assumir, então foi obrigada a cuidar de mim sozinha.

A única família que eu tenho é ela e, apesar de nunca me ter faltado nada na mesa e eu ter andado numa boa escola, nunca tivemos uma grande proximidade em termos afetivos, como mãe e filha. Há vezes em que ela me trata mal e outras em que está tudo bem. No entanto, ainda mantenho respeito por ela por me ter educado e nunca me ter feito passar fome. Mas isso acabou hoje quando recebi a bela notícia de que me iria casar com um homem. Um homem que eu não conheço, mas que todos conhecem. Um homem que, pelos vistos, é muito poderoso, não só pelo dinheiro que tem ou nome, mas pelos negócios que gera. Negócios esses que não são tão bem vistos aos olhos da lei. E por quê que me irei casar? Porque a minha mãe decidiu isso por mim ao assinar um contrato com esse homem. Que tipo de mãe faz isto?

Claro que não reagi bem. Nos meus planos, quando eu completasse dezoito anos, sairia desta casa e arranjava um emprego bem longe daqui para um dia entrar na universidade. Mas ela estragou tudo. Acabou a independência que nunca tive, mas que tanto desejei. 

Eu sempre gostei de estudar e de pintar, é algo que me faz expressar de todas as maneiras possíveis, libertando toda a minha raiva, angustia ou até mesmo felicidade. No entanto, muito provavelmente eu iria ter de parar de fazer o que gosto devido a este est*pid* contrato...

Vinte e quatro de novembro - 14h00min


Ontem realizei os meus dezoito anos, sem direito a bolo ou a qualquer tipo de comemoração, e neste preciso momento estou dentro de um carro luxuoso, sentada ao lado de um homem bastante forte, um segurança, talvez. Digamos que pelo cabedal que apresenta tem aspeto disso. E quem conduz o carro é outro homem do mesmo porte, os dois trabalham para o meu futuro marido, pelos vistos. Não me atrevo a fazer qualquer gesto brusco ou sequer falar, já que os dois são intimidantes e eu quero preservar a minha vida.

E, por falar no meu futuro marido, eu nunca o vi uma única vez e hoje já iria viver na mesma casa que ele. Será que é um velho feio e tarado? Eu espero que não... Eu nem sei o seu nome! A minha mãe só mandou-me a bomba e nem me respondeu a maior parte das perguntas. As tuas perguntas serão respondidas por ele, dizia ela. Veremos, querida mãe.

Confesso que estou curiosa, mas ao mesmo tempo com medo. Medo de como será a minha vida daqui para a frente. Medo de como ele será e de como me tratará. 

Assim que o carro para, vejo que já estamos dentro do terreno daquele casarão. Não digo casa porque isso até seria uma ofensa ao que vejo à minha frente. Saio do carro e o segurança, que eu ainda não sei o nome, pega nas minhas duas malas e carrega-as para dentro do grande edifício. Sem qualquer dificuldade, o que não é de surpreender. Eu apenas limito-me a segui-lo até à entrada. Após ter subido algumas escadas, uma mulher muito bem vestida, cabelos castanhos claros e alta, vem até mim, calmamente, e a sorrir.

-Bem-vinda, Lia. - Murmura amigavelmente. - O meu nome é Gabriela e sou a assistente de Dominick. - Continuou. Então é assim que ele se chama. - Acompanha-me, por favor.

Assenti, ainda sem coragem de falar alguma coisa, e caminho atrás dela. Olho ao redor e tudo é muito grande e luxuoso. Tinha quadros espalhados pelas paredes. Mas não são quadros quaisquer! Quadros bem famosos, que eu conheço muito bem, de vários pintores que eu admiro!

Assim que paramos, Gabriela abre uma porta e pede para eu entrar, que Dominick está à minha espera. Passo por ela e entro na sala, o escritório dele. A porta é fechada atrás de mim e fico parada no meu lugar olhando um homem de costas a minha frente, enquanto este olha pela grande janela no escritório com vista para o jardim onde paramos o carro. Será que ele me viu ou ouviu a entrar? As suas costas são largas e os seus cabelos, escuros e curtos, têm alguns caracóis.

Então ele vira-se, ficando de frente para mim e engulo em seco com a visão que tenho. Ele não deve ter mais de trinta anos. O seu corpo esbelto estava vestido num smoking, com certeza feito na sua medida, que denunciava os seus músculos. Os seus olhos são indecifráveis, nem a cor dos mesmos está nítida, devido à distância a que nos encontramos. O seu semblante é sério e intimidante.

Logo, ele senta-se na sua poltrona, atrás da sua secretária de vidro, e olha-me de novo.

- Olá Lia, senta-te. - Murmurou sério e apontou para uma das cadeiras em frente da sua secretária.

Assenti rapidamente e caminhei para a cadeira, sentando-me. Só quando estava mais confortável naquela cadeira é que repara que o meu coração estava a bater bem forte, podia até dizer que estava suada.

Olho para o seu rosto e reparo melhor nos seus olhos. São azuis.

- O meu nome é Enzo Dominick e como sabes, Lia, eu assinei um contrato com a tua mãe. Esse contrato é preciso ser explicado para ti, mas antes vais conhecer a casa e só depois as regras que terás de seguir a partir de agora. - Olha-me - Tudo bem?

- Sim... - Murmuro baixo e nervosa. Regras?

Ficamos mais algum tempo, no silêncio, e com o olhar vidrado um no outro.

- Podes retirar-te. - Ele quebra o silêncio. Mandou-me sentar só para dizer isto? A sério? - A Gabriela está à tua espera, para te levar ao teu quarto. - Desvia o olhar. O que eu fiz para merecer um homem tão mandão, desconhecido, mas, ao mesmo tempo, tão sexy?

Levanto-me e caminho na direção da porta do escritório sem dizer mais nada.

- Lia. - Ouço o meu nome a ser pronunciado pela sua boca uma vez mais. - Não gosto de te ver com essa roupa.

O quê? Precisa de ser tão direto? Chega a magoar-me. Olho-me de baixo a cima. Eu estou com umas calças justas e uma camisola de gola alta, estamos quase no inverno e o tempo está frio. Tinha umas botas de cano baixo calçadas e combinam bem com a roupa que uso.

- Eu gosto do que eu visto. - Olho-o.

- Esta é a primeira regra. - Levanta-se. - Fazes o que eu digo. Não me importo se gostas ou não do que vestes. Irás às compras com Gabriela.

Ele mete medo. A sua voz é grossa e o seu olhar chega a ser áspero. Olho-o, engolindo em seco mais uma vez. Assenti.

- Tudo bem? - Não, não está tudo bem, penso. Vejo que já está irritado. Nossa. - Eu quero que fales Lia, não me abanes a cabeça!

- Sim. - Murmuro, apesar de o que mandar para um lado nada bonito.

- Podes ir.

Saio do seu escritório rapidamente. Algo me diz que isto não vai ser nada fácil. Quem ele pensa que é para queres mandar assim em mim? Ups, já me esquecia, ele manda mesmo em mim.

E como eu odeio isso!

O Meu GangsterOnde as histórias ganham vida. Descobre agora