Encontros e Reencontros

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A luz da manhã filtrava pelos vidros do dormitório, iluminando os lençóis amassados e os cabelos bagunçados que cobriam parte do travesseiro. Sasuke abriu os olhos devagar, piscando algumas vezes até focar no teto. O quarto estava silencioso, e ele sentiu algo quente e pesado sobre seu corpo. Quando virou a cabeça, a respiração falhou por um segundo.

Naruto estava deitado atrás dele, um braço jogado sobre a cintura de Sasuke, o rosto encostado em suas costas. Eles estavam em conchinha.

Sasuke ficou imóvel, o coração batendo forte demais para o que consideraria normal. Naruto dormia profundamente, o peito subindo e descendo em um ritmo constante, e Sasuke pôde sentir o calor da respiração dele contra a sua nuca. Os dedos de Naruto estavam entrelaçados na barra da camiseta de Sasuke, como se segurassem para não soltar.

Por um momento, Sasuke apenas ficou ali, estático. Seu corpo não respondia. Seus olhos vagaram pelo quarto, pelo teto, mas sempre voltavam para o braço de Naruto, para a forma como os dedos estavam entrelaçados.

"Isso é... normal?"

Ele se mexeu devagar, tentando afastar o braço do loiro sem acordá-lo. Naruto resmungou alguma coisa, apertando mais os dedos contra o tecido da camiseta de Sasuke. O Uchiha congelou. Respirou fundo e tentou de novo, desta vez com mais cuidado. Naruto soltou um suspiro longo e relaxou, permitindo que Sasuke se levantasse.

Ficou alguns segundos parado, observando o loiro esparramado na cama. O cabelo loiro bagunçado contra o travesseiro, o peito nu subindo e descendo de forma lenta. Sasuke passou a mão pelo rosto, tentando afastar o calor que subia por suas bochechas.

"Vou pra aula." pensou, pegando as chaves e a mochila, tentando não olhar para trás. Saiu do quarto em silêncio, fechando a porta devagar.

A sala de aula de Engenharia estava relativamente cheia quando Sasuke chegou. Ele entrou, pegando o assento de sempre, na terceira fileira. Suigetsu já estava lá, ocupando a cadeira ao lado, mexendo no celular.

— Finalmente apareceu. Dormiu demais? — Suigetsu brincou, guardando o celular no bolso.

— Tive que deixar um encosto dormindo na minha cama. — Sasuke murmurou, se ajeitando.

Suigetsu ergueu uma sobrancelha. — O loiro?

Sasuke apenas assentiu, abrindo o caderno sem encará-lo.

Antes que Suigetsu pudesse dizer mais alguma coisa, a professora entrou na sala, seguida por um aluno novo. Ele era pálido, com cabelos vermelhos e olhos verdes intensos. Tinha uma postura firme e um olhar que parecia atravessar qualquer um que encarasse por muito tempo.

— Classe, este é Gaara Sabaku, nosso novo aluno transferido. — A professora apresentou, fazendo um gesto para que ele escolhesse um lugar.

Gaara olhou ao redor da sala, os olhos passando pelos alunos até pararem exatamente onde Sasuke estava sentado. Um sorriso quase imperceptível apareceu em seu rosto. Ele caminhou até a fileira e se sentou ao lado de Sasuke, cumprimentando-o com um aceno de cabeça.

— Uchiha, certo? — Gaara perguntou, virando-se para ele.

— Sim. — Sasuke respondeu seco, sem desviar o olhar da professora.

Gaara pareceu não se importar com a frieza, apenas se ajeitou na cadeira. A aula começou normalmente, mas não demorou para que uma discussão se iniciasse sobre uma questão de otimização em projetos.

— Eu discordo. — Gaara interrompeu a explicação de Sasuke, a voz calma. — Se você fizer dessa forma, vai perder capacidade estrutural.

Sasuke arqueou uma sobrancelha, virando-se para ele. — Não se perde capacidade estrutural quando os cálculos são bem feitos.

— Você está subestimando o desgaste dos materiais. — Gaara rebateu, cruzando os braços.

Sasuke riu, mas sem humor. — E você está superestimando a aplicação prática.

A professora interrompeu os dois, batendo levemente o apagador na mesa. — Senhores, já que ambos possuem pontos tão firmes sobre a questão, quero que me entreguem uma dissertação explicativa sobre os conceitos que defenderam. Juntos. —

Sasuke fechou os olhos por um segundo, soltando o ar pelo nariz. — Isso é Engenharia, não Direito. — murmurou baixo.

Gaara apenas sorriu. — Vai ser um prazer.

Quando a aula terminou, Sasuke pegou suas coisas de forma rápida, evitando contato visual com Gaara, que parecia mais confortável do que deveria. Suigetsu se aproximou, segurando o riso. — Parece que você arrumou um novo melhor amigo.

— Cala a boca. — Sasuke resmungou, passando direto por ele.

O caminho de volta para o dormitório foi silencioso, mas a mente dele fervilhava. "Quem diabos ele pensa que é?" E aquele sorriso irritante? Sasuke empurrou a porta do quarto, jogando a mochila sobre a cadeira e se jogando na cama.

"Eu odeio aquele cara."

Do outro lado do campus, Naruto estava debruçado sobre os livros. Os cadernos espalhados, anotações por todos os lados. Ao lado dele, Sai estava folheando um livro de arte, parecendo completamente alheio ao caos de Naruto. A barriga dele começou a roncar e agora seria impossível ele se concentrar em qualquer matéria.

— Acho que vou descer pra comer. — Naruto resmungou, jogando a caneta sobre o caderno.

— Vai lá. — Sai respondeu sem tirar os olhos do livro.

Naruto desceu as escadas do dormitório em passos largos. Ele estava com tanta fome que mal prestou atenção ao caminho, até que dobrou um corredor e se chocou contra alguém.

Os dois foram ao chão, os cadernos se espalhando pelo chão de azulejo frio. Naruto levantou o rosto, esfregando a testa. — Cara, eu tô...

A voz morreu quando ele ergueu os olhos. Um par de olhos verdes o encarava, surpreso e arregalado. Os cabelos vermelhos eram inconfundíveis, embora o rosto estivesse mais amadurecido.

— Gaara? — Naruto murmurou, incrédulo.

Gaara piscou, como se estivesse processando a informação. E então um flash de memórias invadiu os dois.
Naruto o defendendo no orfanato, os intervalos compartilhados, as brigas que Naruto sempre apartava.
As conversas sobre esperança, sobre fugir da escuridão.
E o último dia, quando Naruto foi adotado por Jiraiya, prometendo que voltaria,
mas nunca voltou.

Gaara não conseguia tirar os olhos dele.
O menino que havia lhe dado esperança estava ali, de pé, mais alto, mais forte...
e inacreditavelmente bonito.

— Naruto... — ele murmurou, como se o nome tivesse peso.

Naruto sorriu, se levantando e estendendo a mão para ajudá-lo. — Tá vivo, hein? —

Gaara segurou a mão dele, se levantando. O toque foi rápido, mas suficiente para que uma centelha de algo reacendesse.

Invisible string.Where stories live. Discover now