Sob a Lua Crescente

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O campo de batalha estava em silêncio.

Os corpos dos monstros já haviam se desfeito em poeira dourada, o sangue dos semideuses havia secado nas roupas rasgadas, e o som da batalha se apagava aos poucos na memória. Mas dentro de Aruna, tudo ainda estava em guerra.

Ele estava parado sobre uma pedra, encarando o vale sombrio à frente do templo antigo, onde o confronto havia acontecido. O bracelete em seu pulso — a serpente adormecida — estava frio, como se também sentisse o peso da noite.

As palavras de Luke ainda ecoavam em sua mente como um trovão:

"Você sempre teve medo de quem realmente é."

"Eu nunca vou te perdoar."

Era como se cada palavra tivesse rasgado uma parte de sua alma. Ele havia enfrentado monstros, deuses irados, profecias cruéis. Mas nada doía tanto quanto ver nos olhos de Luke a lembrança do amor... agora transformado em algo amargo e distante.

E, para piorar, Silas estava se afastando.

Desde a batalha, o filho de Hécate havia ficado em silêncio. Seus olhos evitavam os de Aruna, e o sorriso fácil, o toque gentil, haviam sumido. Aruna o sentia escorregando por entre seus dedos, e não sabia se queria segurá-lo ou deixá-lo ir.

Ele se sentia como um eclipse: metade luz, metade sombra — e preso no espaço entre elas.

Foi então que sentiu a aproximação suave de passos. Virou-se devagar e encontrou Davina Claire ali, envolta pelo brilho prateado da lua crescente. O vento bagunçava os cachos castanhos iluminados pelas mechas douradas, e seu olhar era gentil... mas firme.

Ela não disse nada de imediato. Apenas se sentou ao lado dele, apoiando os cotovelos nos joelhos, olhando a imensidão à frente.

— Lua crescente — disse ela finalmente, rompendo o silêncio com suavidade. — É o símbolo da mudança. Do recomeço.

Aruna não respondeu. Ele não queria recomeços. Só queria entender por que tudo doía tanto.

— A última vez que vi essa lua assim... — Davina continuou, sem olhar para ele — você tinha doze anos. Estava chorando porque havia matado seu primeiro monstro sozinho. Disse que tinha medo de virar um deles.

Aruna riu, um som curto e cansado.

— E talvez eu tenha virado.

— Não — ela respondeu de imediato. — Você se perdeu um pouco. Mas ainda é você.

Ele virou-se para ela, os olhos reluzentes brilhando com uma emoção crua.

— Luke me odeia, Davina. E eu... — sua voz falhou. — Eu ainda o amo.

Davina ficou em silêncio por um momento. Depois, pousou uma mão no ombro dele.

— Amar alguém que não pode te amar de volta do jeito certo... é um tipo de coragem também. Mas você precisa se lembrar de uma coisa.

— O quê?

— O mundo ainda precisa de você. Eu ainda preciso. E mesmo quando você se fecha... ainda dá pra ver sua luz, Aruna.

Aquelas palavras o fizeram desviar o olhar. Ele pensou em Silas. Em Percy. Em Thalia, Grover, Annabeth. Todos os laços que estavam tentando segurá-lo, mesmo quando ele próprio queria se apagar.

— Eu tenho medo, Davina. Medo de decepcioná-los. Medo de machucar de novo.

— Então não seja perfeito. Seja verdadeiro.

Ela se levantou, os olhos castanhos escuros firmes sobre ele.

— A lua cresce, Aruna. Mas antes disso, ela desaparece um pouco. E mesmo assim... continua lá. — Um leve sorriso se formou em seus lábios. — Continue lá.

E com isso, ela se afastou na direção do templo, deixando Aruna sob a luz da lua crescente, sentindo, pela primeira vez desde a batalha... algo parecido com esperança.

LABONAIR - O Filho do EclipseWhere stories live. Discover now