BÔNUS

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- Fazia tanto tempo que você não aparecia... - a menina suspira conforme eu distribuo beijos ocasionais no seu colo despido. Ironicamente, o sopro de deleite que escapa dos seus lábios parece algo frequente. Vez ou outra, com qualquer ameaça de atrito da minha parte, ela desmancha-se nos meus braços com um pouco de manha. Eu mal preciso fazer esforço para desmontar sua teimosia fingida. Mas, ainda assim, ela mantém-se convicta ao tentar sustentar a pose de descaso. - Ora, pensei que havia cansado de mim! Você não cansou de mim, não é?

Eu rolo meus olhos para seu pescoço livre, depositando minha atenção ali, limitando a respondê-la com um murmúrio abafado pelo choque de nossas peles, levemente irritado pelas suas palavras arrastadas com uma sensualidade forçada. Ela parece aceitar a resposta relutantemente, cedendo à luxúria. Um sorriso predatório caminha pela minha face em reação à sua desistência precoce.

- James... - ela geme roucamente contra o meu ouvido à medida que eu dedilho seu ventre com delicadeza.

- Mas que pouca vergonha é essa, Lindsey Monroe Benson? - uma voz brusca rompe nosso contato, abrindo a porta de supetão, obrigando-me a saltar em pânico.

Lindsey e eu agora estamos a uma distância religiosa, ofegando pesadamente pela adrenalina cortante que nos embala. Seu pai, logo à porta, exibe uma expressão consternada. Seu bigode ensebado está colado com o nariz, devido à careta de repreensão que enfeita sua face rosada, e seus punhos estão cerrados tão duramente que, por um momento, cogito se há qualquer sangue nos seus dedos.

- Você! - ele aponta o indicador na minha direção, bufando audivelmente. Então, resoluto, contorna seu caminho e sai para dentro de casa.

Eu não preciso juntar 1+1 para saber que o final dessa equação acabará sendo um James empalado e cheio de buracos. Antes que ele retorne, caço meu celular e digito os comandos com certa pressa, correndo para o parapeito da janela do quarto. Lindsey ainda está meio embasbacada pela situação. Sua cara desolada delata o quão triste está por perder seu brinquedinho favorito, mas eu não tenho tempo para pensar na sua frustração sexual. Com a agilidade que me resta, eu abro a janela e me posiciono para andar pelo telhado. Antes de sair, dou uma olhada de relance para a garota loira parada ao meu lado. Seu nariz afilado e curvas proeminentes, o sorriso apreensivo rasgando os lábios vermelhos, a agitação presente nas feições... A visão quase apaga a coerência para fora da minha mente. Preciso me esforçar para focar na parte sensata da minha mente, que brilha com o aviso nítido de que eu estou absolutamente ferrado. Ela me puxa rapidamente para depositar um beijo nos meus lábios, agarrando-se a mim com avidez enquanto murmura contra minha bochecha:

- Não suma outra vez. - ela pede e, então, me solta com lamento.

Assim que eu atravesso a outra perna para o chão irregular propiciado pelas telhas, com um momento de oração pela queda, a porta lá dentro é escancarada com alvoroço. O sujeito robusto rasga porta adentro com uma escopeta empunhada nas mãos, caçando-me com os olhos ferozes. Ele pousa o olhar na janela semiaberta, dando de cara com a minha expressão de pavor genuíno, ativando a trava.

- Onde você pensa que vai, seu pequeno verme desvirtuador de garotas inocentes? - ele brada na minha direção, apontando a arma com uma energia renovada.

Antes que eu possa implorar aos meus reflexos motores para me ajudarem nessa, ele atira contra a janela, estilhaçando o vidro por completo. A única coisa sensata que meus membros conseguem processar é a maneira desesperada com a qual me jogo pelo telhado, rolando pela estrutura íngreme com certa urgência. O sujeito não desiste, para a minha amargura. Seus tiros ressoam perto de mim, atingindo as telhas soltas com um estralo alto. Estou beirando à loucura suicida conforme me embolo contra as telhas, pesando se há qualquer bom senso restante na cabeça do pai da menina. É óbvio que a reação básica dele, ao flagrar sua filha única com um rapaz, cortaria através de duas vertentes. Eu só estava muito indeciso ao apostar se seria a) ter um derrame ou b) esganar o indivíduo. Com toda a minha reza, eu quase acreditei que poderia ter um livramento e me deparar com uma alternativa c) ignorar pacificamente o ocorrido. Mas, com minha maré de sorte e a previsibilidade do meu azar, é óbvio que surgiria uma possibilidade d) nenhuma das alternativas anteriores. Eu só não sabia que o cara teria acesso a uma licença de armas e abriria uma nova perspectiva para a alternativa e) abrir um buraco nas partes íntimas do insolente que ousou deflorar sua pobre e inocente filha.

Drops of LeavenworthOnde as histórias ganham vida. Descobre agora