Epílogo

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''Às vezes, um amor não será capaz de trazer alguém de volta a vida, mas ele é capaz de transformar completamente a vida dos que ousam senti-lo. O amor não é apenas um sentimento, o amor é uma decisão, uma decisão de se doar em favor daqueles que amamos.''

As pessoas dizem que relacionamentos perfeitos não existem, mas isso só porque a perfeição não lhes é palpável. O ser humano é cheio de falhas. A falha é inimiga da perfeição, assim como a perfeição é inimiga da pressa, a pressa inimiga do cuidado, e assim vai em um ciclo sem fim.

Cada coisa tem seu oposto.

Harry sempre foi o meu.

Mas esse oposto se atraia e fundia-se, nos transformando em um só. Era uma fórmula que, estranhamente, dava certo.

Eu sempre me perguntava como era possível me apaixonar - a cada dia que se passava - mais e mais por ele. Era como se os detalhes que o compunham estivessem escondidos, tímidos. Era como se preferissem ir se revelando aos poucos, naturalmente; me impressionando, pegando de surpresa.

Eu gostava de seu sorriso de dentes brancos e alinhados; gostava dos olhos e o brilho que sempre transmitiam, a ternura com que se dirigiam a mim; gostava da suavidade de sua pele, os desenhos nela gravados; gostava do rubor que suas bochechas adquiriam, deixando-o numa aparência quase infantil; de meus dedos se enroscando em seus cachos sedosos e a forma como ele fechava os olhos para aproveitar o carinho; gostava até de suas lágrimas, mas ele não tinha muitos motivos para deixá-las cair.

Gostava especialmente de sua voz, entoando músicas para mim quando eu não conseguia dormir, ou simplesmente quando queria ouvi-lo cantar. Eu o ouviria por toda a eternidade.

Harry me amou como ninguém mais seria capaz de fazê-lo. Ele cuidou de mim, me fez feliz. Os anos solitários que eu vivi, aos poucos, foram se transformando. Depois, era quase se como nunca houvessem existido.

Numa noite estrelada de brisa serena, ele me amou como homem; transformou o que tínhamos em algo superior. Tomou meu corpo e minha alma, me arrebatando em sensações até então desconhecidas por mim; deixando-me em êxtase. Seu cheiro e seus toques presentes em cada parte de meu corpo; os lábios presos aos meus, como se o mundo fosse acabar dentre poucos segundos, como se aquele fosse nosso último beijo.

Não foi.

Apenas alguns meses depois, Harry me pediu em casamento. Demorou muito menos até o grande dia. Naquele dia, diante de toda aquela gente, trocando votos e tudo mais, eu entendi o porquê de algumas pessoas gostarem tanto de se casar. É bem legal e emocionante. Talvez eu me casasse com Harry mais vezes, só que ele disse que não podíamos.

Três anos depois - Harry ainda firme com a banda - adotamos Logan, nosso primeiro e único filho. O melhor de tudo foi ver o olhar de orgulho e emoção com que Harry dirigira ao pequeno, quando o pegou pela primeira vez.

Talvez 3 seja nosso número da sorte, não do azar como eu sempre pensei.

Logan cresceu, se tornou uma criança extremamente adorável. Tinha os olhos verdes - como os de Harry - cabelos negros e bochechas salientes. Uma fofura. Niall o havia apelidado de Wolverine, tudo por causa de um trocadilho idiota por causa do nome do pequeno. Mas Logan gostava.

O legal de tudo era que ele tinha três padrinhos. Ah! não vamos nos esquecer da madrinha. Eu havia conseguido, com um certo custo, reconquistar a amizade de Ronnie; desde então nos tornamos inseparáveis. Não estava nos meus planos viver longe dela, e parece que nem nos dela viver longe de Logan.

Os anos se passaram muito rápido, parece que quanto melhor a gente vive, mais rápido se passa. Logan já estava na faculdade, a One Direction havia acabado e o peso da idade já começava a nos atingir. Já não éramos mais adolescentes, muito menos jovens: estávamos todos casados, com famílias constituídas. 

Meu relacionamento com Harry continuava firme e inabalável; éramos como montanhas. Ainda me dava friozinho na barriga ouvi-lo dizer aquelas três preciosas palavras, ainda me dava friozinho na barriga repeti-las. Beijá-lo ainda era uma sensação nova.

Sempre seria.

Logan - já com seus 30 anos - se casou com uma moça chamada Judith: italiana, boa moça.

Alguns anos depois Anne faleceu. E, como que se achando no dever de acompanhar a esposa, Des também faleceu apenas alguns meses depois.

Eu nunca havia visto Harry chorar tanto.

O clima voltou a se apaziguar quando recebemos a notícia de que seriamos avós. Os fios brancos de cabelo já tomavam seus devidos lugares em nossas cabeças, denunciando nossa avançada idade.

Mas ainda vivemos o suficiente para ver nossa neta - Jody - crescer, se tornar uma adolescente, passar pela tão complicada fase de descobrimento e rebeldia, e então se tornar uma jovem responsável. Vivemos o suficiente para vermos Judith e Logan se divorciarem... meu filho ficar destruído por conta disso. Mas tínhamos certeza de que o destino ainda havia muita coisa reservada para meu pequeno, já não tão pequeno, menino.

Harry e eu vivemos o suficiente para renovar nossos votos de casamentos mais duas vezes. Conhecer o mundo como um casal. Então, ver nossos amigos partirem um a um.

No fim, parece que o tempo havia sido mais bondoso conosco, de modo que a morte se esquivara várias e várias vezes, talvez achando que merecíamos um pouco mais de tempo.

Mas só um pouco.

Harry morreu aos 86 anos. Não sofreu, morreu dormindo. Na noite anterior, ele havia me dito seu último ''eu te amo'', dado seu último sorriso. O sorriso que eu sempre amei. Talvez ele tivesse percebido que seu tempo havia chegado ao fim. É, talvez. Eu só não fui capaz de detectar isso em seu olhar, suas palavras.

Agora cá estou eu, esperando. Todas as noites olho para o céu, com memórias passadas me atingem numa deliciosa recordação. Eu as aproveito. Olho para o céu, as estrelas pontilhando todo e qualquer espaço da imensidão negra.

Harry sempre gostou das estrelas.

Gosto de pensar que ele agora é uma delas. A maior de todas, a mais brilhante e mais bela. Gosto de pensar que há um espaço reservado pra mim ao lado dele, e então estaremos juntos novamente.

A brisa gelada sopra contra meu rosto, bagunçando meu cabelo inteiramente branco. Levanto minha mão em direção ao céu: a pele já enrugada; a aliança ainda em meu dedo anelar. Fecho meus olhos, a brisa parece soprar mais forte.

E então sorrio. Sorrio como não sorria desde que Harry se fora. Sorrio porque posso sentir que logo menos irei me juntar a ele.

No céu, em algum outro plano ou até mesmo em encarnação.

Isso não importa.

Sei que logo iremos nos rever, dar continuidade ao nosso amor.

Sei disso.

Harry foi meu primeiro e último, e assim sempre será. E então, quando eu me juntar a ele lá no céu, seremos eternos.

FIM

I wish (larry stylinson)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora