-Abraços em Meio a Tempestade-

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Pedrux despertou naquela manhã com um peso insuportável em seu coração, como se uma rocha tivesse sido colocada sobre seu peito. Ele sabia que precisava faltar ao trabalho na federação, mas a culpa e a ansiedade o consumiam por dentro. A dor de cabeça pulsante e a fraqueza nas pernas faziam com que cada movimento fosse um desafio. Ele se arrastou até o sofá da sala, onde o vazio do espaço refletia o vazio que sentia dentro de si.

Enquanto olhava pela janela embaçada, as folhas das árvores balançavam suavemente ao vento, mas tudo parecia distante e opressivo. O mundo lá fora continuava seguindo seu curso, mas para Pedrux, a vida havia estagnado. As risadas e os sorrisos das pessoas se transformaram em ecos distantes de um tempo em que ele se sentia completo.

A dor física se manifestava em seu corpo de maneiras inesperadas – uma pressão no peito que parecia aumentar a cada respiração, como se algo estivesse lhe prendendo. Ele massageou os músculos tensos do pescoço, tentando aliviar a rigidez que o acompanhava, mas era inútil; cada toque apenas intensificava seu sofrimento.

Um flashback invadiu sua mente, trazendo à tona memórias dolorosas que ele tentava enterrar. Era um dia ensolarado no parque da cidade, onde ele havia passado momentos preciosos com seus antigos amigos – aqueles que agora pareciam tão distantes quanto estrelas no céu. O dia tinha começado com promessas de diversão e liberdade; eles correram pelo gramado verdejante, rindo e brincando como se não houvesse amanhã.

Mas agora tudo aquilo era apenas uma miragem perdida em meio à dor. Ele se lembrava das vozes animadas ao seu redor, das piadas feitas entre amigos, da sensação de pertencimento que agora lhe escapava pelos dedos como areia fina. A imagem dos rostos sorridentes era uma faca afiada que cortava seu coração – cada risada ecoando como um lembrete cruel do que havia sido.

À medida que o flashback avançava, ele viu a pipa colorida subir aos céus, flutuando livremente enquanto eles faziam desejos silenciosos. Mas aquela alegria logo foi substituída por uma sombra crescente; uma inquietação começou a tomar conta do ar ao redor deles. As crianças pararam de brincar e olhavam para o céu com uma mistura de medo e confusão.

“Devemos ir embora,” disse um dos amigos com voz trêmula, quebrando a magia daquele momento. As mãos se entrelaçaram em busca de conforto enquanto todos se afastavam apressadamente do parque, sem olhar para trás – como se soubessem que aquele dia marcaria o fim de algo precioso.

O som da campainha trouxe Pedrux de volta à realidade crua do presente. Nait chegou preocupado; apenas ele teve tempo para vir ver como estava o amigo em meio à rotina ocupada dos outros. Seus olhos refletiam uma preocupação profunda ao ver Pedrux tão abatido.

“Pedrux! Você está bem?” Nait perguntou ao entrar no apartamento escuro e silencioso.

“Sim... só não estou me sentindo muito bem,” respondeu Pedrux com dificuldade, forçando um sorriso que mal chegava aos olhos.

Nait olhou ao redor e percebeu as fotos na parede – imagens de momentos felizes com novos amigos que pareciam tão distantes agora. “Você não parece bem,” disse Nait com firmeza e carinho na voz. Ele se aproximou lentamente, como se temesse quebrar algo frágil dentro do amigo. “Sabe que eu me preocupo com você.”

Sem pensar duas vezes, Nait envolveu Pedrux em um abraço apertado, como se quisesse transmitir todo seu calor e apoio através daquele gesto simples. Pedrux sentiu-se acolhido por um breve momento; o abraço era um lembrete confortante de que alguém se importava profundamente com ele.

“Às vezes sinto que estou afundando... é como se estivesse preso em um pesadelo sem fim,” confessou Pedrux, sua voz tremendo levemente enquanto uma onda de dor percorreu sua coluna.

^~Shards of Memory~^Where stories live. Discover now