Notas entrelaçadas

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A pulseira brilhava suavemente sobre a escrivaninha de madeira clara, refletindo o dourado da luz do sol que entrava pelas cortinas delicadas de renda. Fluttershy estava sentada na beirada da cama, uma peça de mobília antiga e elegante com cabeceira de ferro forjado branco e colchas em tons pastel. O quarto inteiro parecia saído de um conto de fadas – cada detalhe escolhido para transmitir serenidade e delicadeza, desde o pequeno vaso de flores silvestres no parapeito da janela até as partituras meticulosamente organizadas ao lado do violino sobre a cômoda.

Mas, naquele momento, nem a harmonia do ambiente conseguia acalmar o caos dentro dela.

Ela segurava um copo de água em uma mão e os comprimidos diários na outra, mas sequer lembrava de tomá-los. Seus olhos estavam fixos na pulseira, como se o objeto fosse uma presença viva, carregando consigo o eco daquele momento no corredor.

O rosto de Fluttershy ficou quente só de lembrar. O encontro havia sido tão repentino – o choque do braço da aluna nova contra o seu, o leve puxão quando a pulseira ficou presa no suéter. Ela ainda podia ouvir o som abafado da risada da novata ao se desculpar, algo casual e despreocupado. Para Fluttershy, no entanto, aquilo havia sido tudo, menos casual. A jovem olhava fixamente para a pulseira sobre sua escrivaninha, como se fosse algum artefato místico deixado para atormentá-la. "É só uma pulseira," pensou, tomando seus remédios com um gole hesitante. Mas não era "só uma pulseira". Era a pulseira daquela garota nova – a garota com cabelos coloridos e uma energia que parecia transbordar por onde passava.

Ela soltou um suspiro trêmulo. "Nem sei o nome dela... como vou devolver isso?"

Ela se levantou, decidida. "Vou devolver agora!" disse para si mesma, em um tom firme que durou... exatamente três segundos. Assim que deu um passo em direção à porta, sua mente já começava a bolar todas as desculpas possíveis para adiar a missão. "Talvez depois do almoço... ou amanhã! Sim, amanhã é perfeito..."

Ela respirou fundo, tentando organizar os pensamentos. Por que estou tão nervosa? Não é como se ela fosse... perigosa ou algo assim. Mas a novata não parecia nem um pouco comum. Seu cabelo colorido, o jeito confiante e quase desafiador de caminhar pelos corredores... tudo nela era o oposto de Fluttershy.

Ela olhou ao redor do quarto, buscando algo familiar que pudesse acalmá-la. Seus olhos pousaram no violino, um porto seguro em momentos de ansiedade. Porém, hoje, até mesmo tocar parecia impossível, por mais que quisesse muito superar seu trauma.

"Eu preciso devolver isso," pensou, apertando os lábios. Mas, ao mesmo tempo, o simples pensamento de aborda-la fazia seu estômago se revirar. E se ela não lembrar de mim? E se ela achar estranho? E se eu... não conseguir falar nada?

Seu olhar voltou à pulseira. O design era simples, quase esportivo, algo que não combinava com a elegância do quarto. Talvez seja isso que me incomoda tanto... ela é tão diferente de tudo que conheço.

A porta do quarto rangeu suavemente enquanto o vento balançava as cortinas. Era como se até o ambiente insistisse que ela saísse e resolvesse aquilo de uma vez. Ela levantou, ajeitando o suéter com mãos trêmulas. Pegou a pulseira com cuidado, como se fosse algo incrivelmente frágil, e a colocou no bolso.

É só uma pulseira. É só uma garota nova na escola. Isso não deveria ser tão difícil.

Mas, para Fluttershy, parecia que estava prestes a escalar uma montanha.

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Com amor, Fluttershy (FLUTTERDASH)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora