o resto que cobre

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adormecendo
pensou ser poeta;
cheio de amargura
por viver de ressaca,
achou que a vida fosse curta...
e cada pensamento
afiava a navalha;

como poderia
envenenar-se todo dia?
dentro de si mesmo perderia
para o próprio inimigo.

remexeu-se inquieto,
embriagado na calçada;
terra entre os dedos,
musgo debaixo da gravata.

preferia todavia
não pensar nessa casca
que não serve de nada,
o casaco envelhecido,
apodrecido.

como um umbigo
que apenas está ali
como um resquício
da prova que está vivo.

***

p͟r͟o͟c͟u͟r͟a͟-͟s͟e͟Where stories live. Discover now