CAPÍTULO 21 - A OUTRA

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 Tudo o que é bom nessa vida acaba.

E foi isso que aconteceu com nosso final de semana em São Francisco, foi mágico, foi perfeito e acabou. Mas foi ótimo de qualquer forma.

Não gostei apenas da forma que ele me olhou quando viu as cicatrizes, com pena, de forma dolorosa, como se eu fosse uma pessoa quebrada e sem concerto, me dando lição de moral. Não gostava de ninguém se envolvendo com meus segredos e meu passado não muito antigo.

O sofrimento era meu e de mais ninguém.

Não conseguia tirar nosso final de semana da cabeça, a forma como ele tinha sido bom comigo, a forma como ele tinha se entregue.

X

Janeiro e fevereiro passaram se arrastando, essa era a verdade. Eu e o Eric nos encontrávamos apenas um dia na semana no apartamento e as vezes no domingo no coffee shop. Quando ele estava com muitas saudades, ele vinha me ver no seu plantão no sábado e eu nunca reclamava.

Eu nem frequentava mais o bar do Theo, ele me enviou poucas mensagens nesse meio tempo, uma delas dizendo que sentia minha falta, outras pedindo desculpas pelas mensagens anteriores. Eu tinha medo de responder, não gostava de dar esperança, preferia que as coisas continuassem como estavam.

Em compensação, eu andava saindo muito mais com a Ellie. Sempre estávamos fazendo algo, indo ao cinema, fazendo compras ou indo para outro bar. Ela apoiou minha decisão de libertar logo o Theo, ela estava mais aberta para minha relação com o Eric.

Eu conversava com meu pai as vezes pelo telefone, ele não me perguntava sobre o Eric mas sempre perguntava várias vezes se eu estava bem, já minha mãe adorava saber os detalhes, saber se a chama ainda estava acesa, a chama estava fumegando.

E tudo se passou muito calmamente, eu meio que estava acostumada a ser a amante dele, esperar pacientemente os dias que ele podia se encontrar comigo, contar as horas pra ele chegar e odiar quando ele ia embora, odiava a forma que as horas estavam sempre contadas pra gente.

Mas a gente andava mais parceiro, nossa conexão andava mais forte do que nunca, o que me fazia enfrentar tudo numa boa.

Eu esperaria pacientemente por ele.

X

Era meio de março, tudo andava muito normal, muito ordinário e parado. E eu já devia suspeitar que quando tudo ficava muito parado era porque vinha alguma merda pela frente.

E no meu caso aconteceram as maiores merdas.

Como se meus piores pesadelos decidissem se tornar realidade um após o outro. E eu achei que estaria preparada, mas a verdade é que nunca estaria.

Eu estava andando no supermercado depois do trabalho, estava com uma camiseta com decote V e uma calça jeans, meu cabelo em um rabo de cavalo. Eu olhava os enlatados, meu carrinho parcialmente cheio, estava lendo uma embalagem quando escutei uma voz conhecida.

- Nina! – Olhei para a voz.

Respira Nina. Respira.

- Oi Anna. – Tentei sorrir.

Ela estava apenas com uma cestinha, sorrindo pra mim e percebi coisas de criança entre seus produtos, e tudo me fazia mais culpada.

Culpada estava escrito na minha testa.

- Como você vai? Faz tempo que a gente não se vê.

- É verdade. Eu vou bem, e você? – Tentei respirar fundo internamente.

- Eu vou bem. E como anda o Theo?

- Ah, nós terminamos no começo do ano. – Ela fez uma expressão surpresa.

NOS BRAÇOS DELAOnde histórias criam vida. Descubra agora