CAPITULO 2 - PARTE 2 - LUCAS

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LUCAS

— Merda, merda, merda — digo sussurrando, saindo às escondidas do banheiro feminino do aeroporto.

Não se assuste, na merda é exatamente onde eu estou. A maldita Loirinha Devassa dos infernos, pensa que pode me dominar, que sabe como me deter. Na verdade, ela até consegue, mas não precisa saber disso. Prefiro que pense que estou no comando. Aí está a droga do problema, não estou na droga do comando.

Não preciso mais dizer como sou e o que penso, isso você já sabe. O que não sabe é que tenho passado meus últimos dias quase sem dormir, hora tendo pesadelos desesperadores com Gustavo e Babi caindo do maldito parapeito, hora com um tesão infernal que deixa meu pau mais duro que aço, pensando na maldita Loira Devassa que acabei de agarrar no banheiro.

No fim de tudo acho que quem está enlouquecendo sou eu e se não fizer algo a respeito disso logo estarei no mesmo lugar que o Gustavo, mas não vai ser como visita não, vou acabar me internando definitivamente numa clínica psiquiátrica.

Não me tache de insensível, o que fiz não é nem mesmo considerado crime. Antiético e até imoral? Sim, mas crime? Definitivamente não é. Tenho certeza que Ray faria o mesmo, ou até mais em meu lugar. Eu achei que amava Carla, não imaginava meu futuro em um lugar onde ela não estivesse. No entanto, estava errado, redondamente enganado.

Assim como me enganei com meus sentimentos, errei ao usar a fraqueza de um homem para alcançar meus objetivos. Quer me julgar por isso? Tudo bem, eu mesmo me condeno, "culpado", isso mesmo, sou culpado por desencadear a cólera de um homem desequilibrado, que venhamos e convenhamos, em algum momento iria vir à tona.

Os pais de Gustavo são bem de vida, por algum motivo, que não me convém, muito menos interessa saber, nunca deram a ele mais do que o suficiente para a sobrevivência, porém depois do episódio em que ele literalmente enfiou os dois pés pelas mãos, resolveram aparecer, constituir um bom advogado, que conseguiu que ele ficasse internado em uma clínica psiquiátrica até que seu caso venha a julgamento.

Até onde sei, Carla não fez muito, apenas registrou a ocorrência pelo sequestro e cárcere de incapaz, o que não clareia muito as coisas para o Gustavo, afinal a menina é filha dele. Quem em sã consciência usa a própria filha como refém e a coloca em risco iminente por dinheiro? Prestei esclarecimentos à Justiça e solicitei a devolução dos fundos transferidos tanto da minha conta, como da conta de Ray. Não fui arrolado no processo, por não ter antecedentes e por contribuir de forma voluntária com tudo que me solicitado. Já a Divina, conseguiu fugir e eu imagino que deva estar longe do Rio de Janeiro agora.

Quero distância de tudo isso, de tudo que me remeta a isso, por isso preciso ficar longe do Rio de Janeiro por um tempo. Comandarei as empresas a partir da Cidade dos Anjos, já selecionei alguns funcionários para levar comigo e em breve vou aumentar o escritório de lá.

Meu pai como sempre, concordou com tudo e até achou melhor, afinal ter meu nome envolvido em um escândalo como esse, com certeza iria prejudicar os negócios.

*******

Mais uma noite passada às claras, revezando entre os pesadelos e o tesão pela Devassa. Nem preciso dizer o que tenho que fazer cada vez que isso acontece, afinal, se continuar assim vou acabar ficando com um dos braços mais musculoso que o outro.

Chego no escritório com o humor péssimo.

— Bom dia Sr. Brandini — minha secretária de anos, Dona Alice, diz com um sorriso amigável que nada ajuda a melhorar meu humor.

Não consigo responder mais do que um seco, "Bom dia", mesmo sabendo que ela não irá parar por aí. Dona Alice me segue, arrumando de forma gentil sobre minha mesa, o café que tanto gosto e o jornal que sabe que gosto de ler. Coloca também a planilha de meus compromissos do dia e do dia seguinte para que me prepare para todos. Não posso destratar alguém que me trata de forma tão cortês e gentil há tanto tempo.

— Como estão seus preparativos para viver em Los Angeles, Dona Alice? — pergunto tentando engatar uma conversa e melhorar o humor.

— Nossa Sr. Brandini, está dando um pouco de trabalho, meu sobrinho Fernando não está gostando muito da ideia de ficar longe de mim, mesmo já tendo dito a ele que pode ser temporário e, que se for definitivo ele pode ir morar lá comigo. — Sua sinceridade me anima.

Lembro-me de ter a ouvido falar algumas vezes sobre o sobrinho, que é sua única família, depois da morte de sua irmã alguns anos atrás. Se não me engano já é um homem feito, não vejo motivos para drama.

— Mas qual é o nível de dependência dele em relação à senhora?

— Ah, Sr. Brandini, apenas dependência emocional, meu sobrinho já tem trinta e dois anos, é um excelente advogado, mas não abre mão de estar sempre comigo. Sabe como é, acabou transferindo os cuidados que teria com sua mãe pra mim. O senhor acredita que por ele eu nem trabalharia mais? Veja se pode uma coisa dessas, eu no auge dos meus cinquenta anos em casa sem fazer nada, afinal optei por viver minha vida sozinha. Fernando foi um presente que minha finada irmã me deixou. — É nítida a relação de amor entre eles.

— Bom, se a senhora achar que não deve ir e, quiser ficar, por conta de abandonar seu sobrinho, infelizmente vou sentir sua falta, mas não vou me opor à sua felicidade. — Ultimamente, tudo que não quero é ver alguém infeliz perto de mim.

— E perder a oportunidade de conhecer outro país, viver novas experiências, quando achava que a vida havia estagnado pra mim? Nem sonhando, Sr. Brandini. Daqui a uma semana estarei ao seu lado dentro daquele avião. É bem capaz que vou permitir que outra pessoa cuide do senhor. — Sua falsa irritação me anima.

Começamos a sorrir juntos e ela sai da sala no momento em que meu celular toca e peço a ela um pouco de privacidade.

— Lucas Brandini falando — atendo, já sabendo de quem se trata a ligação.

— O passarinho saiu do ninho senhor — ele me diz com a presteza de sempre.

— E de que ninho estamos falando? — pergunto, querendo saber mais.

— Do ninho oficial senhor, desde ontem quando chegou a Los Angeles ela está nele. Está saindo agora pela primeira vez com os filhos.

— Certo, mantenha-me informado. Se ela for a algum dos lugares que estava indo antes, quero saber em tempo real, entendido?

— Sim senhor, entendido, o senhor será avisado.

Rachel não achou mesmo que é a única com uma boa veia investigativa não é mesmo? Relaxei com ela aqui no Brasil, mas isso não irá acontecer novamente.

Paixão Impossível (Livro 2 da duologia Paixão) - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now