No Hospital

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Repentinamente fez-se a luz no meio da escuridão. João acordou. Ao olhar para os lados, se deu conta de que estava em uma cama hospitalar. Com gestos pouco ligeiros retirou o aparelho que auxiliava em sua respiração.

Olhou pela janela, e viu o céu cinza. Também notou o seu reflexo. João era pardo, de cabelo cortado, altura em torno de um metro e setenta no máximo, e magro.

Tentou sentar-se uma, duas, na terceira vez conseguiu. "O que diabos estou fazendo aqui?", pensava. Mas pensar fazia com que sentisse uma forte dor de cabeça. Só então se deu conta da faixa ao redor de seu crânio. Retirou-a.

Ao ver o corte na cabeça, logo recordou do ocorrido: "Uma maldita briga de bar. Que merda fui me meter", pensou. Apertou um botão para chamar a enfermeira, mas ninguém apareceu.

Prestou atenção ao que acontecia a seu redor, e logo tomou nota do silêncio assustador. Nem um pio. Nem médicos e enfermeiros andando de um lado para o outro. E, para piorar, o quarto em que esteve desmaiado "por quanto tempo?" estava completamente revirado.

Ficou em pé. Sua costela doía, talvez não fosse uma boa ideia apressar o passo, mas a curiosidade era grande. Abriu a porta de seu quarto e deparou-se com o caos!

Cadáveres amontoados pelos corredores, aparelhos, móveis, e tudo o que pudesse imaginar, estavam largados pelo chão. O cheiro era insuportável, e não escutava vozes. "Cadê todo mundo?"

Mais do que nunca, agilizou seus passos, e ao ver a situação do hospital, a dor na costela parecia não ser mais um grande problema. Logo estava na rua, com seu traje hospitalar.

O mesmo caos que tomou conta do hospital, varreu a cidade. Vários corpos mutilados junto de veículos abandonados ou acidentados. Vidros e portas quebradas, objetos deixados para trás.

O desespero tomou conta de João que prontamente gritou:

- Socorro! Alguém por aí? Onde estão todos!?

Sem receber respostas, deu mais alguns passos, ficando no meio da rua, repetindo os gritos, com fequência. No começo, o silêncio permaneceu, mas na sequência gemidos surgiram.

Os corpos começaram a se movimentar. Ficaram em pé. Andaram lentamente em direção a João, que tentou conversar:

- O que aconteceu aqui?

Apenas gemidos.

Aquelas pessoas não poderiam estar bem. Uma delas estava visivelmente com os intestinos pendurados. "E eu aqui reclamando de uma dor na costela", pensou João.

Vendo que as criaturas agiam de modo estranho, e caminhavam desordenadamente, João começou a recuar, mas elas vinham pelas suas costas também. Andou para os lados, e logo viu que estava cercado.

- O que vocês querem!? - Gritou João.

Teve apenas gemidos como resposta.

Sem pensar duas vezes, pegou um pedaço de pau que lhe estava próximo e bateu em uma daquelas criaturas, mas nada aconteceu e continuaram avançando. Resolveu bater novamente, mas, dessa vez, com toda a sua força. A criatura se desequilibrou e caiu. João se abaixou por um intervalo de menos de um segundo, inconscientemente, por conta de sua dor na costela, mas ao ver a brecha aberta, tratou de correr.

Fugiu do cerco, mas criaturas monstruosas apareciam por todos os cantos! Não ligava mais para as suas dores, queria apenas fugir daquele pesadelo. Começou a correr em direção à periferia. Grandes edifícios estavam se transformando em casas, cada vez mais simples. Resolveu gritar novamente:

- Alguém por aqui!?

Sem resposta. Mas as criaturas continuaram vindo, e agora surgiam mais. João estava cansado de correr. Tudo lhe doía. Não conseguia pensar em como fugir.

Seria o seu fim? Seria. Porém, por sorte, talvez os deuses estivessem ao lado de João. Alguém montado em uma moto se aproximava. Lançou duas granadas em dois grandes grupos daquelas criaturas e parou exatamente ao lado de João.

- Suba logo, depois conversamos!

Sem hesitar, João subiu na moto e fugiram, entrando pelas ruas paralelas.

Vale do Norte - Os sobreviventesWhere stories live. Discover now