Eu estava dormindo - o que eu não tenho feito ultimamente -, quando começaram a bater na porta. Levantei de cueca mesmo (sim, eu durmo de cueca, debaixo do cobertor, com o ar-condicionado ligado no último) e fui atender.
- Ah, olá jovem Ellouise.
- Théo! Você está semi-nu na minha frente, espero que isso signifique que está se arrumando!
- Me arrumando pra que? Hum, cê tá bonita. Isso é um vestido com coisinhas douradas indianas? Legal... Ah! A gente ia sair, né? No cinema...
- Ah, você lembrou! - ela disse, irônica.
- Lembrei! Entra aí, eu fico pronto em... dois minutos.
Peguei uma calça do chão, uma blusa preta que tava no banheiro - porque eu usei ontem -, a jovem jogou uma camisa de flanela xadrez minha que eu não faço ideia de onde estava e coloquei meus tênis.
- Meu jovem, passa um perfume. Odeio gente fedida perto de mim.
- Fresca.
Peguei o perfume do presidiário, passei no quarto inteiro e comecei a andar. Depois, passei no pescoço, nos braços, na calça, no cabelo e no sovaco.
- Pronto? Podemos ir agora?
- Calma, minha jovem. Preciso escovar os dentes. - Fui no banheiro, fiz um xixi, escovei os dentes, me olhei no espelho e voltei. - Pronto. Agora a gente pode ir.
- Até que enfim!
Nós pegamos um táxi pra podermos chegar no shopping. Fomos até o cinema, compramos o ingresso, depois compramos pipoca, coca, umas balas e chocolate. Entramos na sala e fomos nos sentar em nossos lugares, lá no fundo. O filme começou e, pelo visto, só tinha a gente. Também, quem é que vai querer assistir um filme sobre uma árvore? Só a Ellie mesmo! Teve uma hora em que um casal saiu rolando na grama, perto da árvore, e depois de um tempo apareceu fazendo um piquenique com seus dois filhos. Me lembrei de quando eu larguei a Ekena no meio de um parque... Só que ela tinha tipo uma pulseira, que avisava no celular do meu pai aonde ela estava. Eu também tinha. A gente fugia bastante.
- É tão fofo esse filme!
- Shiu! Jovem Ellouise! As pessoas querem assistir o filme!
- MAS SÓ TEM A GENTE AQUI!
- DEVE SER PORQUE ESSE FILME É UMA BOSTA!
- NÃO QUER FICAR AQUI, ENTÃO VAI EMBORA!
- NÃO POSSO IR EMBORA, EU PAGUEI CARO NESSE INGRESSO!
- ENTÃO CALA A BOCA! DEPOIS EU VOU ASSISTIR AQUELA PORRA DE FILME DE ROMANCE COM VOCÊ, NÃO VOU?
- NÃO SEI. VOCÊ VAI?
- Vou. Eu te falei que ia. Por favor, me deixa assistir o filme.
Peguei meu celular e comecei a jogar. Eu dormi, joguei pipocas no cabelo da jovem sem que ela percebesse, dormi mais um pouquinho... E nada daquele filme acabar! Quanto tempo dura isso?
Depois de mais uma eternidade, o filme finalmente acabou. Nós nos levantamos - eu dando graças a Deus que tinha acabado e a jovem chorando de tristeza - e começamos a sair da sala.
- Você viu naquela parte em que querem derrubar a árvore, mas o casal não deixa?
- Não. Eu não tava prestando atenção. - Olhei para a Ellouise e percebi que as pipocas ainda estavam grudadas no cabelo dela. Comecei a rir igual um retardado. - Hahahaai, jovem... Meu Deus...
- O que foi?
- Calma... hahahaha... Tá, calma. Hahaha. Tem pipoca no seu cabelo.
- Aonde? - Ela colocava a mão nos únicos lugares em que não tinha pipoca.
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O Menino dos Olhos Azuis
Teen FictionThéo sempre soube que o amor de seus pais, Ariel e Zack, era verdadeiro. E que eles se encontraram quando tinham dezessete anos... Mas e Théo? Ele está entrando no último ano da escola e ainda não descobriu sua metade da laranja. Ou a "garota de que...