Capítulo Dois

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Capítulo Dois

Caçavam-na. Estava praticamente no meio da floresta, corria, mas não via saída. Tudo estava escuro e os visgos a prendiam no chão, até que um deles a alcançou, mordeu seu pescoço e bebeu seu sangue

Tum tum... tum tum...

Julianne acordou de um salto e caiu da cama, batendo a cabeça no criado mudo.

— Ai... Poxa vida! Você não muda, né  Srta. Bell? Sua desastrada! — falou consigo mesma. Dirigindo-se ao banheiro, olhou-se no espelho e viu que fez um pequeno corte na testa. Balançou a cabeça em tom de reprovação e decidiu tomar um banho antes de fazer um curativo no machucado.

O corte ardeu tanto que ela teve a sensação de que era muito maior. Depois que terminou, vestiu-se e desceu para o Eram suas últimas horas no Le Rosey e isso lhe doía um pouco.

Tomou o café lentamente, degustando cada sabor como se fosse a primeira vez, seu chocolate quente nunca lhe parecera tão cremoso, por isso o tomou de olhos fechados, e então sentiu uma mão em seu ombro.

— Julianne? — disse a inspetora atrás, uma mulher miúda de feições lânguidas e s. Julianne nunca gostou muito dela.

— Sim? — respondeu sem muito interesse.

— Seu pai chegou e está na sala da diretora a sua espera.

As palavras "seu pai" fizeram com que a imagem de Jansen viesse a sua cabeça, mas ela sabia que não era ele esperando-a naquela sala. Levantou-se e abraçou todos os seus amigos, não eram muitos, mas ela com certeza iria sentir falta deles.

Quando chegou aos braços de Charlotte, sua melhor amiga, não resistiu e chorou. Ela não foi somente uma vizinha de dormitório, ela foi seu ombro amigo, entendeu-a como ninguém e a ajudara em todos os momentos desde sua infância. A garota parecia tão ou mais triste que a amiga, tanto que embolava as palavras constantemente, tornando o seu sotaque sulista quase incompreensível.

— Je t'aime mon ami! — proferia constantemente, enquanto beijava a testa de Julianne. Charlotte era dois anos mais velha e seus pais nunca lhe fizeram nem uma visita, o que a tornara muito introspectiva. Sua única amiga era Julianne e agora ela iria embora, deixando-a sozinha.

— Não se preocupe Lotte, isso não é um adeus! — Depois de muito tempo, elas finalmente se separaram com a promessa de que não se esqueceriam uma da outra jamais e Julianne foi para a sala da diretora.

Ela se sentia ofegante, fazia sete anos que não via Anthony, o seu pai. Ela ainda se lembrava dele; vagamente, mas se lembrava. Bateu de leve na porta e escutou a voz da diretora mandando-a entrar.

— Com licença — pediu, abrindo a porta.

— Minha filha! — Anthony correu para abraçá-la, nem teve tempo de olhar para ele direito e já estava envolvida nos seus braços. Julianne se sentiu confusa diante daquela demonstração de carinho, mas tentou correspondê-la da melhor forma possível. — Como está linda, minha querida! Está maravilhosa, July. Não acredito que cresceu tanto! — dizia em tom emocionado, mas a garota ainda não conseguia assimilar aquilo, era tudo tão confuso. Ainda mais depois do que descobrira na noite anterior.

— Olá senhor, é um prazer vê-lo também... Senti saudades — disse em um tom contido. Queria, mas não conseguia, na verdade, chamá-lo de pai. O seu pai estava em uma casa, perto dali, dormindo e se protegendo da luz do Sol. Não era aquele homem que estava a sua frente.

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