Capítulo Um

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Capítulo um

Julianne Ipswich cresceu confinada nos corredores do Le Rosey, internato suíço para o qual fora trazida ainda criança. Às vezes se perguntava de onde realmente teria vindo e quem verdadeiramente era, mas não conseguia lembrar-se de muita coisa antes de chegar ali. Apenas algumas lembranças sobre sua infância...

Era uma aluna dedicada, mas na maior parte do tempo estava triste. Todos podiam ver isso estampado em seu olhar que aparentava doçura e meiguice, mas não felicidade. Ela não sorria muito, era de poucas palavras e não se parecia com as outras meninas em nada, pois era tímida o suficiente para manter-se longe de qualquer rapaz que se aproximasse. Na verdade, Julianne era só uma adolescente solitária com saudades de sua família; que sentia falta de viver em família.

Ela havia terminado os estudos fundamentais no internato e, pelo que sabia, iria voltar para a casa de seus pais no próximo verão, mas a informação era muito vaga e a fazia sentir-se bastante ansiosa, pois ainda faltava muito tempo e ela ansiava em saber como era esta casa e como seria conviver com sua família...

Sempre desejou que viessem buscá-la. Muitas vezes, durante a noite, chorou imaginando os motivos que os levaram a abandoná-la ali e a esperança de poder ir finalmente para casa preenchia-a por completo. Mas ainda faltava muito tempo... No entanto, o rumo das coisas mudou drasticamente após o que lhe pareceu um longo e solitário verão.

Depois da volta às aulas, a garota foi chamada à sala da diretora e esta a recebeu com os melhores sorrisos, dizendo-lhe que tinha uma notícia surpreendente para lhe dar.

— Julianne, é com grande alegria que lhe informamos que voltará para a casa mais cedo! — disse a mulher, animadamente. — O seu pai está vindo lhe buscar!

— Isso é sério, diretora? — perguntou radiante, sem acreditar no que estava ouvindo.

— Sim, ligaram-me hoje mesmo, minha querida. Arrume suas coisas e se prepare, meu anjo — respondeu a mulher em tom amável.

Mesmo sem acreditar inteiramente no que a diretora lhe disse, Julianne arrumou suas coisas com muito cuidado. Ela sempre tivera de tudo, não negava, mas isso não preenchia o vazio que sentia em seu coração. A ausência da família sempre foi uma incógnita em sua vida. Às vezes, eles escreviam para ela e em todo aniversário ligavam para lhe parabenizar. Ela só os via através de fotos, e todos eram muito, muito bonitos.

Achava-se diferente das pessoas representadas naquelas imagens, como se fosse uma peça fora do lugar e por vezes questionou-se se não havia sido aquele o motivo para terem mandado apenas ela para longe.

No rosto havia, sim, alguma semelhança com o semblante de sua mãe: os cabelos loiros dela, a boca carnuda, a baixa estatura; e outros do pai, como os olhos verdes e o corpo. Contudo, não tinha aquela beleza fora do comum de suas irmãs.

Ela achava Melannie a mais bonita de todas, e queria ser como ela, mas sabia que seu desejo era impossível.

Enquanto crescera no internato, sempre teve o apoio e carinho maternal de Eliina, uma mulher jovem, muito meiga e de sorriso encantador, que lecionava História no Le Rosey. Ela era o seu porto seguro e sem sombra de dúvidas Julianne a amava muito. Até a chamava de mãe, às vezes, e logo depois ficava vermelha de vergonha, pois ela a via como aquela figura materna protetora, a mãe que sempre desejou ao seu lado e nunca teve.

O marido dela também gostava muito de Julianne, seu nome era Jansen e ele era um homem alto, de aparência intimidadora, mas que se mostrava muito extrovertido e gentil. Sempre que a diretora permitia, eles levavam-na para sua casa e faziam muitos programas juntos, como se fossem uma família de verdade, o que a fazia esquecer por uns momentos que tinha outra, não tão presente. Ela os achava incríveis, sua admiração por aquelas pessoas era imensa.

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