— Que traição! — Tófani exclamou e tentou manter sua expressão ofendida, mas quando Alice se jogou nos braços de João e deitou em seu peito, amor era a única coisa que gritava no rosto de Pedro.

— Se eu for sua diretora, posso levar os gatinhos 'pro meu escritório, tio?

— Com certeza! Chicória já está com saudades de você, a próxima festa do pijama vai ser lá em casa, tudo bem?

— 'Tô ansiosa já. — Ela bocejou e se aninhou mais nos braços do cantor, que deixou um beijinho entre os fios castanhos e em pouco tempo, com João fazendo carinho em suas costas, Alice caiu no sono. Pedro não desviou o olhar da cena nem por um segundo, era a coisa mais preciosa que havia visto, João não podia ser real, aquilo não podia ser real, mas era, porque assim que percebeu que a menina havia dormido, Romania levantou o olhar para Pedro e abriu o sorriso mais lindo que o diretor já havia visto, o coração palpitando e as borboletas em seu estômago eram reais.
Assim que terminou de colocar sua filha para dormir, Pedro desceu as escadas encontrando um João ansioso, ele mordia o cantinho do dedo enquanto encarava a tela do celular, Palhares entrou rapidamente na cabana e sentou na frente do cantor. Cuidadosamente pegando a mão de João e a tirando da boca, começando um carinho em sua palma.

— O que aconteceu?

— O álbum 'tá pronto. — Romania começou a falar mas ainda sem olhar nos olhos de Pedro. — Quero te mostrar a música misteriosa, ela é a única que não tem planejamento ainda, é recente. — Ele pegou os fones que havia deixado com Alice e entregou nas mãos de Pedro. — Eu acho ela linda, mas eu quero que você faça parte da decisão de tudo dela, você vai entender o motivo.

Assim que a melodia começou, Pedro já sabia que essa seria a sua favorita, era tranquila, gostosa de ouvir, exatamente o que ele gostava. Quando escutou a primeira parte "Pelo meu peito aberto onde sua nuca dorme, dá para ouvir minhas artérias chamando o seu nome" ele percebeu, era uma música romântica, e se João estava tão nervoso para mostrar, provavelmente era sobre ele, pelo menos era o que Tófani almejava, queria ser a pessoa para quem João escrevesse coisas bonitas sobre, queria poder escrever coisas bonitas sobre João e com João também.
Eles ficaram alguns segundos se olhando quando a música terminou, os olhos de Pedro brilhavam e ele queria mais que tudo puxar João para um beijo, mas precisava ter certeza.

— Então...— Romania começou. — O que achou?

— Eu adorei! A melodia é simplesmente perfeita, você sabe que eu gosto desse tipo de arranjo, não é produção do Zebu, tenho certeza, então eu chuto que meu artista favorito fez essa também, e se for você mesmo, caralho, você é incrível demais, lindo, a letra é...Surreal, é linda e simples, como o amor é, ela é muito você.

— Ela é muito a gente. Essa é sua. No caso, é 'pra você, eu fiz pensando em você, em nós, enfim, você entendeu, tudo bem se você não gostar — João se embolou tentando explicar, mas a única coisa que rondava a mente de Pedro era "Ela é muito a gente.", na metade da explicação de João ele já havia se perdido e apenas colocou suas mãos de pescoço do cantor, trazendo ele mais perto para finalmente o beijar, mas a felicidade neles falava mais alto, os beijos foram interrompidos diversas vezes por um sorriso que não saía do rosto dos dois. Tófani segurou o rosto de João com as duas mãos e ficou o admirando por alguns segundos, atônito.

— Eu acho que você não existe, eu devo ter te inventado na minha cabeça maluca.

— Posso te confirmar que eu existo. — João roubou um selar dos lábios de Pedro, que se desmanchou em um sorriso apaixonado. — Você gostou da música? Mesmo ela sendo 'pra você?

— Eu gostei ainda mais agora que eu sei que ela é 'pra mim, ela é linda, meu amor.

O sorriso de Romania cresceu.

— Amor, é?

— Amor. — Pedro deslizava a pontinha de seu nariz contra o nariz de João. — Meu amor.

Os dois ficaram abraçados nessa bolha por mais alguns minutos antes de Pedro se afastar minimamente para poder enxergar João.

— E foi você que produziu?

— Exatamente! Eu acho que ninguém ia conseguir colocar o que eu sentia nessa produção, sabe? É a tranquilidade de estar com você mas ao mesmo tempo a euforia de te ter por perto, e eu sei que você gosta de músicas mais calminhas, achei que você merecesse uma.

— Isso foi a coisa mais linda, é com certeza a minha favorita.

— Sem clubismo? — Pedro riu contra a bochecha de João antes de deixar um beijo ali.

— Definitivamente sem clubismo, você é arte pura, sou apaixonado por isso, sou apaixonado por você, sou seu fã.

E João o encarava com os olhos brilhantes e arregalados, um sorriso grudado em seu rosto enquanto prestava atenção em todos os detalhes de Pedro.

— Repete.

— Definitivamente sem clubismo? — Tófani provocou fazendo João revirar os olhos humorado. — Sou apaixonado por você, nada que você não saiba, lindo.

— Eu definitivamente não sabia.

— Eu te emprestei meu vinil favorito, isso não é uma prova de paixão o suficiente?

Pedro exclamou indignado.

— E me perturbou todos os dias da semana para saber se eu estava cuidando dele!

— Ele é meu filho precioso.

— Toma jeito, Tófani. — João o empurrou levemente com a mão e Pedro rolou os olhos em resposta.

— Você é ridículo!

— E mesmo assim você é apaixonado por mim.

João mostrou a língua humoradamente.

— Eu sou, e muito. — Pedro respondeu enquanto se perdia nos olhos de João.

— Que bom, eu também sou muito apaixonado por você. Caso a música não tenha deixado claro.

— Acho que as suas veias chamarem o meu nome deixa isso meio explícito. — Pedro brincou contra os lábios de João.

— Essa é só a primeira, um dia te deixo ler meus rascunhos, sou meio obcecado por você. — João encostou sua testa no ombro de Tófani, bocejando baixinho e se aconchegando nos braços do diretor.

— Você faz igual o Vicente quando começa a ficar cansado, a Chicória ainda chega de mansinho, o Vicente só gruda na gente e fica pedindo por carinho.

— Tal pai, tal filho! E isso é porque ele te adora, fico com ciúmes. — Ele admite esfregando sua bochecha no ombro de Pedro e deslizando a pontinha de seu nariz pelo pescoço do diretor. — E não é ciúmes de você, é ciúmes dele, ele é muito 'dado'. Você não pode chegar lá em casa que ele esquece que tem um dono! Pedro Tófani, destruidor de lares.

— Bom, Alice também esquece que eu existo quando você chega, seu filho me adora e minha filha te adora, acho justo.

João boceja mais uma vez, fazendo Pedro rir baixinho.

— Vamos, meu gatinho, 'tá na hora de dormir.

João não saiu do pescoço de Pedro durante o caminho, apenas se separou dos braços do produtor quando precisou trocar de roupa, roubando uma calça moletom e uma camiseta de seu armário.

— Suas roupas servem certinho em mim, vamos começar a dividir. — Ele disse antes de se jogar nos braços de Pedro, que já estava de pijama, e voltar ao seu aconchego.

— Tudo que é meu é seu. Menos o moletom da Nike, aquele agora é só meu.

— Ladrãozinho.

João plantou um beijo carinhoso na mandíbula de Pedro e puxou a coberta para cima, envolvendo os dois. Tófani começou a cantarolar 'Religião', a música de mais cedo, enquanto fazia um carinho nos cachos castanhos e sentia a respiração de Romania contra o seu pescoço.

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