Capítulo Nove.

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"O desejo exprime-se por uma carícia, tal como o pensamento pela linguagem."

(Jean-Paul Sartre.)

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Kelvin, em verdade, começou a pensar que os momentos entre eles eram melhores assim e poderiam durar uma vida inteira. Simplesmente, quando não havia espaço para pensar no futuro e o mundo era feito para dois.

Era isso que o olhar de Ramiro lhe dizia: que eles já se conheciam antes de estarem tão próximos. Existir dessa forma, com ele, parecia algo além do etéreo, algo mais sólido que o etéreo.

— Você... — sussurrou o moreno; a voz baixa e carregada de sinceridade, como quem começava uma frase sem pensar muito. Seus olhos percorreram o rosto do ruivo, fascinados, enquanto erguia uma das mãos para acariciá-lo delicadamente, sentindo a suavidade da bochecha sob seu polegar. — Não sei se deveríamos... Estou tentando internalizar, há um tempo, que preciso ir com calma, Kelvin, em todos os aspectos.

Soltou as últimas palavras com um suspiro. Seus dedos roçavam, constantes, a pele quente e corada do homem, que ainda respirava ofegante e com os olhos levemente confusos.

— Isso porque quero fazer todas as coisas do jeito certo. Quero fazer todas as coisas do jeito certo com você. — continuou, inclinando-se ligeiramente.

A proximidade entre eles parecia insuportavelmente carregada, como se estivessem envoltos em um campo de eletrochoques. Os arcos castanhos-ouro, brilhando com intensidade, encontraram os de tom mais escuro, nos quais um brilho semelhante de afeto residia.

— E quem disse que eu ainda quero que você vá com calma? — replicou, aproximando-se ainda mais, seus lábios quase tocando os de Ramiro, que piscou surpreso um par de vezes. — Na verdade... Acho que gosto um pouco do seu jeito afoito, sabia? Até acho que aprendi a gostar.

A respiração do cacheado tornou-se mais irregular, e Kelvin sentiu o corpo eletrizado de satisfação.

— Deus... — parecia ter falado para si mesmo, porque era um sussurro tão concentrado nos lábios macios do outro. — Kelvin, eu quero, por tudo, isso... Mas...

"Mas" o quê? O ruivo havia passado horas, depois daquele sonho, refletindo sobre ser desejado por aquele homem. Tinha passado dias ouvindo-o dizer que o desejava. Agora, ele sentia isso e queria mais.

Sentia-se, agora, completamente desejado.

"Mas" o quê?

— E se você estiver enganado? E se você se arrepender, Kelvin? — toda vez que ouvia seu nome, sentia agulhadas por todo o corpo, como se estivesse sendo perfurado por estática pura. — Eu não posso prometer que não vou sentir isso, que não vou te procurar. Não posso e não vou prometer, porque você não faz ideia do quanto vai me doer se você fingir que não aconteceu...

Um momento de silêncio raso se instalou entre os dois, apenas as respirações ofegantes e dedos que lançavam choques na pele onde tocavam.

O menor precisava, de fato, que Ramiro tivesse dito aquilo com todas as palavras, para poder se organizar internamente; seu corpo ansiava tanto pelo do outro que era impossível pensar no que faria a seguir.

— E se eu me arrepender de não ter feito isso antes? — retrucou, sua voz ecoando no espaço mínimo entre eles, embora seu tom tenha sido sussurrado.

O outro sentiu as palavras se infiltrarem em seus próprios pensamentos. Respirou fundo, arfado.

— Eu sei o que quero... Então, você poderia? Hm? — falou, como se de alguma forma fizesse sentido, deixando o livro, que ainda pendia em uma das mãos, cair ao lado do sofá.

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