Capítulo Oito.

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"O outro é, por princípio, aquele que me olha."

(Jean-Paul Sartre.)

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O impulso os levou em direção à parede próxima à porta, onde se chocaram com um impacto nada suave. O puxar em sua nuca, a pressão firme dos dedos de Ramiro, e a tentativa eufórica de traduzir o inexprimível faziam com que os pensamentos, que ele mesmo já não conseguia compreender e ordenar, se tornassem algo muito próximo de uma gelatina.

Verdade seja dita, nem que pudesse racionalizar seria capaz de conceber, e ainda externar, o que sentia pelo moreno. Era algo indescritível e intangível, e isso o deixava desconcertado. Sentia vontade de matá-lo por sempre admitir serenamente que sentia-se da mesma forma pelo ruivo. 

Era assustador. Não estava acostumado.

Desejava simplificar a complexidade de seus sentimentos, reduzi-los a uma explicação simplista. Queria que tudo o que sentia de estranho fosse, de fato, apenas devido à forma como Ramiro o tratava bem. Queria que desaparecesse, ou voltasse ao normal, para que ele pudesse simplesmente continuar como antes.

Ainda assim, naquele momento, o que realmente desejava era que a língua de Ramiro continuasse ali, explorando cada centímetro de sua boca. Precisava de mais, e mais verdadeiro.

Não estava pronto para admitir isso.

— Você... — o moreno começou a falar, sua voz soando mais rouca que o normal, carregada de ar. — Kelvin... 

O coração do ruivo, por um instante, pareceu deter-se no olhar escuro de Ramiro, descompassando ainda mais, antes de fazer voltar a pressão dos lábios do outro sobre os seus. Uma mescla tumultuada de emoções. Nervosismo, desejo e aquela pontada insistente de medo que se infiltrava em seus pensamentos. 

Ele não queria ter tempo para pensar. Era crucial que não tivesse esse tempo.

— Kelvin, por favor... — a fala grave trazia um tom de súplica tão íntimo que sentiu-se arrepiar; aquela versão lhe tocou de um jeito completamente diferente. O homem segurava seu rosto com ambas as mãos, dedos firmes e cálidos contra a pele do ruivo. 

"Não fuja, não se esconda. Encare a nós dois". 

— Você pode me dizer, por favor? Pode me dizer se você se encontra com ele da mesma forma que se encontra comigo?

— Não. — escapou arfado, tentando capturar o fôlego. — Com ele... Com ele, é uma formalidade... Como tem sido com todos os outros participantes...

A frase saiu entrecortada e aérea, porque era tão difícil articulá-la diante do momento. Sentia-se envergonhado pelo quão profundamente afetado estava, misturando-se com as palavras de Ramiro, tornando complicado distinguir onde terminava o toque dos lábios e onde começava a voz do outro homem. 

E tudo piorava quando Ramiro mantinha seu olhar fixo e pequeno, como se as pálpebras pesassem, nos seus lábios, avermelhados e reluzentes em saliva. O ambiente ao redor parecia diluir-se.

— Eu sou... Sou mais do que isso para você?

— Deus! Você é um idiota. — deixou escapar em um sussurro automático, agarrando-se à gola da blusa do mais alto, sentindo o tecido caro amassado sob seus dedos, e o puxando para mais perto, sua boca buscando a do outro em mais um beijo.

O mais velho ficou momentaneamente atordoado, os olhos se abrindo de fato com a reação do ruivo. 

Seus lábios se separaram como se estivessem prestes a dizer algo, mas nenhuma palavra saiu.

A Rifa | AU! KELMIROWhere stories live. Discover now