𝘾𝙖𝙥í𝙩𝙪𝙡𝙤 3

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— Joca, você não pode simplesbente dorbir em cima da binha cara, já conversamos sobre isso.

O gato vibra suavemente quando o tiro de cima de mim, como se estivesse protestando contra a interrupção de seu confortável repouso. Me viro para o outro lado da cama cobrindo minha cabeça até o topo e coloco um travesseiro em cima, tentando manter o gato afastado. Mas, ele se acomoda novamente sobre meu rosto, agora sob o travesseiro, como se estivesse determinado a encontrar o lugar mais quente e aconchegante possível e esse lugar fosse meu rosto.

Suspiro resignada.

Estou acostumada com a petulância de João Carlos e eu estava muito cansada para protestar novamente.

Anteontem, acabei pegando um resfriado devido ao meu descuido ao sair correndo desagasalhada no frio para a biblioteca da cidade. A combinação do vento gelado e da pressa em chegar me deixou vulnerável, e agora estou lidando com os efeitos disso, que incluem um nariz catarrento, um pouco entupido e quase todas os "m" se transformando em "b".

A cama inteira estremece.

— Merda.

Era meu celular avisando que já era hora de despertar.

Joca se assusta com a agitação, salta do meu rosto e se encolhe no canto da cama, olhando-me com uma expressão de desconfiança.

Com um suspiro, estico o braço para alcançar o celular, sentindo a vibração incessante em minha mão. Deslizo o dedo pela tela, interrompendo o despertador.

Sinto minha mão arder com o frio.

Coloco meus aparelhos auditivos e sou imediatamente recebida pela cacofonia aleatória do despertador.

Uma das poucas vantagens de ser surda era não precisar suportar aquela música insuportável todas as manhãs.

Desvencilho-me dos lençóis e me ergo da cama, sendo saudada pelo ar gelado da madrugada que penetrava através das frestas da janela. Volto rapidamente para o refúgio dos cobertores, onde o gato se aconchega.

— Joca, está um frio de rachar lá fora. — Murmuro para o gato, que responde com um suave ronronar, como se concordasse comigo.

Pego meu celular às pressas e consulto a temperatura na internet. Um arrepio percorre minha espinha ao constatar que estamos a apenas 3 °C. Meu corpo reage involuntariamente ao imaginar o frio intenso que nos aguarda lá fora.

Saio da cama envolta no calor reconfortante do cobertor e sigo até o chuveiro. Deixo a água quente abraçar meu corpo e aliviar minha congestão, dissipando o frio que ainda se insinuava em meus ossos. Ao sair, o vapor envolve o banheiro, proporcionando um instante de conforto antes de enfrentar o dia lá fora.

Visto minhas roupas com a habitual praticidade, pegando meu jaleco e a bolsa contendo as roupas hospitalares e meus pertences essenciais.

Ouço um miado insistente vindo da sala, e Joca surge em meu caminho, exigindo sua dose matinal de atenção.

— Calba, Joca, não vou esquecer da sua cobida — Tranquilizo-o, enquanto preencho seu comedouro com sua nova ração light, parte de sua nova dieta. — Sua babá estará aqui daqui a algumas horas, então fique bem. — Acrescento, sabendo que ele estará em boas mãos durante o dia.

Uma parte de mim reconhece que João Carlos entende pouco ou nada do que digo, mas outra parte vê Joca como um ser tão consciente quanto eu. Ele é minha única família, meu companheiro desde que mamãe partiu há três anos.

Dediquei alguns minutos de atenção exclusiva ao gato, compartilhando carinho e palavras suaves, como se ele pudesse compreender cada gesto de afeto. É um ritual que nos conecta, uma troca silenciosa de amor e companheirismo.

Enquanto Te ProcuroWhere stories live. Discover now