— Chorão, sem ofensa, mas você é maluco? — Coloquei a mão no meu coração, tentando me acalmar para raciocinar o que ele havia acabado de me contar.

— Achei que a minha maluquice tinha ficado clara quando invadi a sua casa.

[...]

Estávamos sentados no colchão com as costas apoiadas na parede, enquanto comíamos o lanche que o GV mandou.

O fato de estar quase no final da visita íntima, me fez querer ter a oportunidade de vê-lo outra vez ainda essa semana.

— Os presos têm direito a mais uma visita no domingo, não é? — indaguei, virando ligeiramente a minha cabeça para olhar o homem ao meu lado.

— Aqui é no sábado, coração.

— Alguém vem te ver no sábado?

— Minha mãe.

— Só pode uma pessoa vir te visitar?

— Por que tantas perguntas sobre isso, Emília? — Chorão me olhou com um semblante sério como se não estivesse gostando do assunto.

— Tava pensando se poderia vir te ver nesses dias.

— Não tenho como te pagar 40 mil toda semana. — Ele foi curto e grosso na sua resposta sem nenhuma necessidade.

— Eu viria de graça mesmo — disse, sem jeito e engoli a vontade de chorar.

— É melhor não, Emília. Vamos manter o nosso combinado das visitas íntimas uma vez por semana.

— Tá bem.

Passamos alguns minutos em silêncio, e eu me sentia terrível por precisar do dinheiro dele, já que ele claramente pensa que só estou interessada em seu apoio financeiro.

— Posso te fazer uma pergunta? — questionei com receio, mas a minha vontade de aproveitar as últimas horas que tínhamos juntos falou mais alto.

— Não tô na vibe de conversar, Emília.

Suspirei fundo ao perceber que ele não me queria por perto, levantei-me da cama e caminhei em direção ao banheiro, permitindo que algumas lágrimas caíssem pelo meu rosto quando fiquei sozinha.

Sabia que era besteira ficar triste por ele não querer me ver mais vezes ou conversar comigo no meio da madrugada, porque o  Chorão poderia estar cansado ou estressado com algo que não sei do que se trata, porém o sentimento ruim de estar sendo rejeitada por ele tomou conta de mim e senti uma angústia tomando conta de mim.

Será que o Chorão está me tratando assim porque o interesse dele era apenas na minha virgindade?

Chorei em silêncio até me sentir melhor e antes de sair do banheiro, lavei o meu rosto para tentar disfarçar, o que foi tentativa em vão já que os meus olhos ficaram inchados.

Ao retornar ao quarto, Chorão me encarou por alguns segundos, engoliu em seco e sua expressão mudou abruptamente para culpa. Tenho certeza de que ele percebeu que eu havia acabado de chorar por sua causa.

— O que tu queria perguntar, coração?

— Esqueci o que era — menti e sentei na beirada da cama, longe dele.

— Fala logo o que era, pô. — O moreno ergueu seu corpo da cama, se aproximou de mim e sentou-se ao meu lado. — Não era a minha intenção te deixar mal.

— A culpa não é sua, eu que sou sensível demais quando começo a me apegar à pessoa, mas vou controlar mais as minhas emoções.

— É bom, porque não tô acostumado a lidar com dramas de garotas da sua idade.

Soltei uma risada vazia, desprovida de qualquer vestígio de humor, e senti um profundo desejo de retroceder no tempo, como se pudesse desfazer o erro que cometi ao mencionar a possibilidade de visitá-lo nos finais de semana.

Desejei poder desfazer minhas palavras e retornar a um momento anterior, onde a simples menção desse assunto não teria causado tanta tensão e desconforto entre nós.

— Sei que deve ter parecido que queria mais dinheiro quando mencionei fazer mais visitas, mas não foi pela grana, só tava pensando em te ver mais vezes.

— Não vai rolar, Emília. Vamo mudar de assunto porque esse já deu.

— Tudo bem, desculpa.

— Qual a tua próxima pergunta?

Esse imbecil realmente acha que vou me atrever a questionar qualquer coisa depois de ele ter ficado bravo só porque eu queria vê-lo mais de uma vez na semana?

— Não tenho mais nada pra perguntar. — Sorri na sua direção e ele assentiu.

Fiquei ali, imersa em silêncio, desviando o olhar para os meus pés, numa espécie de súplica silenciosa para que o tempo passasse mais rápido e eu pudesse escapar daquele lugar sufocante.

A sensação de desconforto na presença de Chorão começou a se intensificar, como se cada segundo ao seu lado fosse um peso sobre meus ombros, e comecei a me arrepender profundamente da decisão de ter me envolvido intimamente com ele.

À medida que o tempo arrastava seus segundos, tornou-se claro que eu precisava desesperadamente de um momento a sós para lidar com o turbilhão de emoções que me assolava. Só ansiava por estar sozinha, onde pudesse deixar as lágrimas rolarem livremente e confrontar os meus próprios erros.

 Só ansiava por estar sozinha, onde pudesse deixar as lágrimas rolarem livremente e confrontar os meus próprios erros

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ATRAÍDA PELO TRÁFICOWhere stories live. Discover now