O nosso último adeus

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Não tivemos forças para nos movermos daquele lugar, ficamos ali até que a última chama se apagasse, eu havia perdido a outra parte do meu coração e dessa vez, nem corpos teria para enterrar, tudo se desfez com o poder de destruição das chamas de fogo.
Nem sei explicar o tamanho da minha dor, eu estava em estado de choque, não falava, não conseguia chorar e tinha algumas queimaduras pelo corpo. Se elas doíam? Não sei! Meu corpo apenas existia, porquê não havia sobrado nada do que fui algum dia.
Valentin cuidou de mim por vários dias, tratou das minhas feridas, me dava banho e até comida na boca, estávamos morando na nossa casa, nem havíamos casado, mas nada disso importava, as atitudes falavam mais que as formalidades.
No lugar da casa onde nasci, agora não havia mais nada, era um vazio onde eu olhava e conseguia ter uma visão linda daqueles que amarei por toda a minha vida.

- Mamãe, vou colher as hortaliças.

- Vai rápido, meu amor, o seu pai está acabando de organizar a carroça.

- Eu vou com você, Patrízia, tenho que catar os tomates.

- Anda logo, seu barrigudo!

- Vai comprar bolos para me deixar feliz?

- Moleque atrevido, sabe que eu faço tudo por você.

- Apressem esse trabalho, parem de conversa mole!

- Estamos indo, mamãe, te amo, Patrízia.

- Também, meu amor, meu barrigudinho.

Como as lembranças machucavam, eles nunca mais estariam ao meu lado.

- Meu amor, é estranho vir aqui e não sentir o cheiro das comidas que a mamãe fazia.

- Que acidente horrível, nem gosto de lembrar.

- Ainda não entendo o porquê de tanta dor. Será que um dia entenderei esse sofrimento?

- Vivi tão pouco ao lado deles, nem pude me despedir. O Luca era um menino cheio de vida, que tristeza eu sinto.

- Você lembra quando ele dizia que contaria ao papai que nos beijávamos?

- Sim, eu sempre tinha doces escondidos.

- Por que, Valentin? Eu só queria entender.

- Perdemos quem mais nos amava, não houve um adeus, um último abraço, se quer um olhar, simplesmente nos deixaram.

- Como vamos prosseguir sem eles?

- Só temos um ao outro, apenas isso. Acabaram-se os sonhos, os planos, uma vida que iríamos trilhar juntos.

- Agora eu só tenho você, não me deixa!

- Sempre estarei aqui, tentaremos prosseguir, por eles e por nós.

- Existe uma vida pela frente?

- Só saberemos se tentarmos.

- Como eu te amo!

- Jamais te deixarei por um segundo sequer, te amarei dia após dia.

A nossa casa já estava pronta, a varanda era ampla e nós podíamos escutar o barulho do rio. Juntávamos os cacos pelo chão, nada era fácil, mas a vida seguiria de outra forma, com novos pensamentos, mas seguros de um amor que crescia em meio a tanto mal.
Decidimos nos casar em uma cerimônia que era só nossa, em meio as lágrimas, vesti aquele vestido que a mamãe tinha feito, peguei o meu buquê de flores do campo e avistei ele me esperando em frente ao rio. Sonhamos com aquele momento, em que as pessoas que amávamos estariam ali fazendo parte daquele dia especial das nossas vidas, mas estávamos sozinhos.
Quando olhei para o Valentin, ele chorava, era o nosso dia, onde celebrávanos o amor que nasceu em meio ao caos, mas que ganhou forças e hoje estava imenso.
Ele me recebeu e disse que me amava, eu nem conseguia falar.

Regressar ou escolher te amar?Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz