Por todas as vidas

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- Runan, quantas plantações, parece que o sítio cresceu!

- Estamos semeando novas sementes, é bom diversificar o plantio.

- Tudo aqui parece ter mais vida que em outros lugares.

- É que cuidamos de tudo com amor, esse é o grande segredo.

- Os animais são bem cuidados, o rio está preservado, isso aqui é um paraíso!

- Que os meus filhos possam amar essas terras assim como sempre fiz, será tudo o que deixarei para eles.

- Mas você pode deixar muito mais.

- Eu estou deixando o essencial.

- Por que não me vende essas terras e compra outras? Terá dinheiro para investir, pense nos seus filhos, eles poderão ter uma vida melhor.

- Eles amam esse lugar.

- O que adianta amar e ter que acordar primeiro que as galinhas? Com o dinheiro comprará um sítio maior, poderá pagar funcionários e viverá de um jeito menos primitivo.

- Nós somos felizes aqui, do nosso jeito.

- Não cansa de ver a sua família se sacrificando naquela feira?

- Trabalhar é algo ruim, marquês Morgan?

- Não! Mas viver os privilégios da vida é algo que eles precisavam experenciar.

- Vivemos como podemos, trabalhamos e vendemos o que produzimos, é satisfatório essa dignidade.

- A sua esposa precisa descansar, cuida de tantas coisas, é uma vida sofrida.

- Não pretendo me desfazer desse lugar.

- Te ofereço cinco vezes mais do que vale.

- Por que tudo isso?

- Para que você possa mudar o destino da sua família, pense nisso. Seremos parentes, nossos filhos pretendem ter um futuro juntos.

- O meu sítio jamais estará a venda.

- Pense, vou esperar a sua resposta.

Após um tempo andando pelo sítio, eles regressaram e nos despedimos.

- Foi muito agradável conhecer todos vocês. Runan, obrigado pelo almoço, tudo estava perfeito.

- As portas da minha casa estarão sempre abertas para o senhor, sinta-se a vontade para voltar.

- Senhorita Patrízia, foi uma honra conhecê-la, meu filho foi agraciado pelos céus.

- Obrigada, marquês Morgan.

- Senhorita Patrízia, volto para visitá-la.

- Estarei esperando, lord Valentin.

- Obrigado por tudo, senhor Runan e senhora Marta.

- Volte sempre, lord Valentin, és uma pessoa que nos agrada.

Ele beijou a minha mão e se foi com o seu pai, me deixou com saudades mais uma vez.

- Está mais calma, meu amor?

- Acho que sim, papai.

- Vocês terão tempo para se conhecerem, nada de pressa, só quero que encontrem a felicidade.

- Eu já encontrei, papai, ele acabou de sair daqui.

- Está apaixonada?

- Muito!

- Que esse rapaz mereça o seu amor, pois amar com sinceridade é ter o privilégio de sentir a alma do outro respondendo aos seus sentimentos com sussurros baixinhos, onde apenas um desejo verdadeiro compreenderá.

Jamais esquecerei aquele momento lindo, ele sempre me surpreendia e que eu pudesse retribuir, cultivando todos os dias o nosso amor com atitudes que demonstram o quanto eu era feliz ao seu lado.

- Papai, vou descansar um pouco no meu quarto, nos vemos na hora do jantar.

- Valentin, você acha que sou bobo?

- Por que, meu pai?

- Não cumpriu o nosso acordo.

- Lógico que cumpri!

- Acha que não percebi o seu jeito, os seus olhares, a satisfação que sentiu ao vê-la?

- Estou fazendo o que me pediu.

- Me julgas um idiota?

O tapa que atingiu a sua face foi dado com tanto ódio, que o sangue escorreu de sua boca.

- Se apaixonou por ela?

- Não! O que diz?

- Não minta! Você está completamente envolvido por aquela garota, o amor não estava em meus planos.

- Só fiz o que me pediu!

- Idiota, se apaixonou por uma feirante!

E a outra face foi atingida com um tapa ainda mais forte.

- O que quer que eu faça?

- Jamais permitirei esse amor, vocês nunca viverão juntos!

- O senhor enlouqueceu!

- Me escute! Um Morgan em hipótese alguma, viverá o que quer que seja com alguém daquela família.

- Não sinto nada por ela, o senhor me obrigou a fazer esse papel horrível.

- Você se apaixonou, Valentin, ela é um nada perto de você!

- Não fale dela, por favor!

- Você podia beijar, abraçar, fazer o que quisesse, mas se apaixonar, jamais!

- Não existe amor!

- Cale-se! Pensa que pode me enganar?

- Fiz o que me pediu, me aproximei deles e conquistei a garota.

- Foi ela que te conquistou, seu fraco! Eu acabo com ela num estralar de dedos.

- O senhor é louco! Eu não sinto nada por ela, só quero que me deixe em paz e tire a mamãe daquela clínica.

- Suma da minha frente! Como pôde se render à alguém sem classe, sem um pingo de nobreza? Ela serve apenas para te satisfazer.

- Me satisfazer? O senhor não entende nada sobre o amor, seus títulos de nobreza valem menos que aquelas galinhas do sítio.

- Está medindo forças comigo?

- Só quero que me deixe em paz, não pedi para viver nada disso!

- Você fará tudo o que eu quiser ou sumo com a sua mãe.

- O senhor é desprezível!

- Saia, ou perderei a minha cabeça!

- Eu vou sumir da sua vida, esquecerei que um dia tive que te chamar de pai.

O seu rosto estava machucado devido aos tapas, mas nada se comparava com a dor que sentia em sua alma, essa ele jamais conseguiria cicatrizar.

- Eu te amo, Patrízia, não vou deixar que me afastem de você, eu necessito do seu amor.

Dores que corroíam a alma, uma ferida que ele guardava, mas que em alguns momentos, quando estava ao lado dela, amenizavam e tudo parecia desaparecer ao toque de suas mãos.

Regressar ou escolher te amar?Onde as histórias ganham vida. Descobre agora