— Não sou eu que fico indo pra sorveteria com outras pessoas.

— Óbvio, você tá preso.

Chorão revirou os olhos, fez sinal para eu ir ao banheiro e eu o segui.

— Coloca o seu pulso embaixo da água. — Ele girou a torneira do chuveiro. — Acho que a água gelada vai aliviar a sua dor.

Segui a sugestão do moreno e adentrei no chuveiro, sentindo uma onda de frio percorrer meu corpo ao entrar em contato com a água gelada que escorria sobre meu pulso. Cada gota parecia uma lâmina de gelo, intensificando a sensação de dor. Apesar do desconforto, persisti até que a intensidade da dor diminuísse, permitindo-me respirar um pouco mais aliviada.

Ao retornar ao quarto, o Chorão prontamente ofereceu sua ajuda para me secar, mesmo que seu semblante ainda denotasse o resquício de indignação pelo que havia lhe contado. Sua expressão misturava compaixão e uma ponta de mágoa, mas seu gesto gentil revelava sua preocupação genuína com meu bem-estar.

[...]

— Vou enrolar seu pulso com esse pano, coração — Chorão avisou mostrando um pedaço da sua toalha que ele havia rasgado segundos antes. — Mas amanhã, você vai ao hospital ver como tá isso.

— Consertando os danos que você mesmo causou — ironizei.

Sentei na beirada da cama, enquanto o Chorão se ajoelhava diante de mim, seu rosto expressando uma mistura de arrependimento e raiva. Ele se aproximou com cuidado, segurando uma toalha fina em suas mãos, pronta para ser utilizada como uma improvisada imobilização para meu pulso dolorido.

Aproximando-se com cautela, ele envolveu a toalha ao redor do lugar machucado, garantindo que o tecido estivesse firmemente fixado. Seus movimentos eram suaves, mas precisos, demonstrando sua habilidade e atenção aos detalhes. Quando terminou, eu toquei no pulso, percebendo que a dor diminuiu bastante.

— Tu tá puta comigo, mas você sabe que mereceu. — O homem sentou-se ao meu lado e eu não conseguia parar de encarar seu pau.

— Eu sou sincera e ganho uma torção por ser honesta.

— Não quero só a tua honestidade, Emília. Eu quero a tua fidelidade também.

— Ficarei longe do seu irmão, Chorão. Não quero sair da próxima visita com o olho roxo.

Apesar de reconhecer plenamente que cometi um erro ao flertar com o Rato, não pude evitar a tentação de me vitimizar e fazê-lo sentir-se culpado por ter me retirado do seu colo com tanta violência.

Desde sempre, tive plena consciência de que a violência contra as mulheres era apenas uma das muitas consequências inevitáveis de me envolver com o líder de uma facção criminosa. No entanto, talvez haja uma pequena esperança de que o Chorão não seja tão cruel comigo, se ele achar que foi longe demais em sua reação.

— Não adianta tentar me manipular, Emília. Quando tu nasceu, eu já tinha 22 anos.

— E você se orgulha de ter conhecido Pedro Álvares Cabral?

— Devia usar essa língua afiada pra me chupar, coração. — Ele fez um carinho na minha bochecha.

— Não coloco produtos que passaram do prazo de validade na minha boca.

ATRAÍDA PELO TRÁFICOWhere stories live. Discover now