O Último Pôr do Sol

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O Último Pôr do Sol

31 de dezembro de 1999

Já não existirei mais no final deste texto.
Ah, meu eterno amor, como tiveras a coragem de me abandonar nesta terra de mortes e catástrofes?  Vivo já nesta dualidade dilacerante que me corrói a todo o momento. Este tempo já não me favorece a amar. Questiono-me se aprendi a amar a mim mesmo, se esqueci de mim. A amar você, pois, por qual outro motivo, alguém que te ama e dedica cartas de amor, o abandonaria sem deixar qualquer pista sobre o porquê? Não fui capaz de amar o suficiente? Não lhe dei a atenção merecida? Não troquei mil palavras contigo? Não vendi meu tempo para acolher a tua alma perdida e vazia? Não me dediquei todas as manhãs para te acordar de um sono profundo e mostrar o nascer do mais belo? Deixei-o já sozinho? Se a resposta for sim para todas as minhas lamentações, peço que suma deste mundo. Nunca mais apareça para a minha mente carente de firmezas, de estrutura, mas pelo menos, me mate antes de ir. Pois, se não sou capaz de amar a outra pessoa carente de algo, carente de vida, já não sou capaz de amar uma alma que possui um corpo terreno cheio de frustrações e desejos que, porventura, já não tem direito a continuar ocupando espaço.
Com todo o respeito, me mate.

Até breve…

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