Episódio 17 - Agda: Decadência

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- Eu quero muito fazer algo a respeito dessa situação toda, só que não pensei exatamente em como fazer isso. Tudo o que consigo pensar é em ir até o castelo de Acalla e pedir para falar com alguém ligado à regência.

- Ainda bem que eu tô aqui, porque isso aí não vai dar certo.

Ela sabia que estava certa e gostava daquilo. Eu fiquei feliz por vê-la voltando a ser ela mesma.

- Não, não vai. - Respondi sorrindo - O que você me aconselha?

- Você sabe que os súditos não são permitidos nas imediações do palácio, certo? - Eu não sabia - Mas se nós não chegarmos até a regência, a informação precisa chegar. Os exilados que você ouviu, eles disseram que os próximos ataques aos exércitos ocorrerão nos vilarejos do Norte e na minha cidade de origem?

Eu assenti, ela continuou:

- Podemos ir para o norte alertar as autoridades locais antes que aconteça. Se conseguirmos que o líder do vilarejo interceda por nós, talvez a informação chegue à regência da nação como queremos e isso pouparia muita coisa.

- E nós temos a vantagem que a nossa palavra se provará verdadeira. Vamos!

Calla me pegou pelo braço e nos levou até os limites dos muros de Zaor. As minhas expectativas estavam altas e nós tínhamos um bom plano, aquele sentimento me fez ignorar as marcas de sangue espalhadas por uma extensão considerável do muro, elas levavam a uma pilha de pedras soltas que não deveriam estar lá. A abertura no muro estava fortemente protegida por guardas de Acalla que nos receberam com suas espadas empunhadas:

- Identifiquem-se!

Eu travei.

- Somos moradoras da cidade. Estávamos treinando algumas magias e viemos parar aqui por acidente. Sabe como é, a desmaterialização as vezes te leva à lugares que você não planeja.

A resposta rápida de Calla soou convincente e em nossa assinatura não havia hostilidade. Os guardas trocaram olhares e um deles ordenou:

- Entrem. Não é seguro estar fora dos muros da cidade.

Sem perdermos tempo nós adentramos à vila. A decadência de Zaor estava em todos os detalhes, das madeiras putrefatas usadas nas construções ao odor fétido que tomava o ar. Não faltavam pessoas que aparentavam não se alimentar apropriadamente ou sequer ter acesso à água pura, algumas delas apresentavam escaras infectadas espalhadas sobre os corpos sujos. O sol estava alto no céu e eu me sentia cansada. Não havia becos às vistas, as construções eram erguidas a partir de vigas compartilhadas de modo que ficavam unidas umas às outras. Em outros momentos da vida eu descobri que aquela era uma prática comum para poupar material em locais com menos recursos, descobri também que os recursos eram escassos em grande parte da nação por embargos que vinham da própria regência. Havia madeira mais que suficiente em toda Acalla, o material só estava inacessível aos menos afortunados que sequer podiam coletá-lo nas florestas sem autorização. Com uma breve caminhada encontramos alguns mercadores que ofereciam mantimentos no que parecia ser uma zona de trocas local.

- Tá vendo aquele senhor ali?

- Aquele ofertando as raízes? – Respondi observando-o de longe. Várias das suas raízes pareciam apodrecidas.

- Isso. Se me lembro bem, aquela bolsa na cintura é onde ele guarda os objetos que recebeu pelas trocas. Eu preciso que você não se assuste com o que vai acontecer agora.

Calla desapareceu e, em instantes, ela estava ao lado do mercador de raízes. Ela foi ágil em tomar para si a bolsa de pagas e desaparecer novamente levando o item consigo. Sua vítima sequer teve chance de reação.

AcallaWhere stories live. Discover now