Reflito entre Safiras

11 3 11
                                    

O bater da porta automática acompanhava os passos femininos saindo da joalheria. Nada de anormal em um sábado a tarde, onde as mulheres chamavam suas companhias para fazer compras até o cartão do primeiro infortunado estourar. Mas isso não refletia no vendedor daquela loja, que estava mais preocupado em como suas novas xícaras de decoração pareciam antiquadas para a modernidade de seu comércio atual.

- Mas que desagradável da minha parte - ditou estressado.

Sentado numa banqueta alta e estofada, um homem avantajado de longos cabelos castanhos, pele ligeiramente alva, lábios macios e os olhos de avelã puxados para âmbar, contava as horas para que o shopping onde trabalha fechasse o mais rápido possível, torcendo que chegaria cedo em seu apartamento o suficiente para alimentar seu gato de estimação.

Mas antes que isso pudesse se concretizar, Zhongli precisava que seus últimos clientes fossem breves ou que ao menos comprassem mais alguma peça sua, ao invés de só ficarem olhando com a intenção de nunca pagar. O vendedor ainda não entendia a lógica de quem se dava o trabalho de observar algo caro, sem a mínima opção de levar tais objetos.

Deixando suas questões de lado, o homem com seus trinta anos de idade pegava seu celular no bolso e rolava a tela das redes sociais, a fim de espantar o tédio que o assolava. Verificando até mesmo seu bate-papo onde não existia uma única mensagem ou notificação piscando na barrinha, deixando o dono do aparelho com um sentimento de plena solidão.

Não era como se fosse sozinho no mundo, claro que tinha alguns amigos do passado e até colegas que mantinham contato depois de tanto tempo de convívio, mas algo dizia na mente dele que sua companhia não valia o tempo necessário dos outros, que apenas servia de lembranças antigas ou um pedaço de rádio ambulante que não fechava a boca depois que começava a falar. Já era notável para Zhongli que seus hábitos eram raramente agradáveis aos olhos de quem o vê.

Ele não queria se deixar abalar, transmitindo seus vagos pensamentos que a própria presença era o bastante para sua vida cotidiana. Que não precisava tanto assim de paqueras que o abandonam na mesma noite ou de amigos que nem mandam um simples bom dia. Chame este homem de cringe o quanto quiserem, mas até corrente de whatsapp ele ficaria feliz de receber e compartilhar o dia inteiro, mesmo que todo mundo o julgasse de idoso e incrivelmente brega por isso.

Suspiros iam de encontro com o balcão de amostras, que levaram toda atenção do vendedor para a silhueta refletindo no vidro, encarando novamente a porta automática quando uma personalidade extrovertida sorria em sua direção.

- Olá, boa tarde! - o jovem cumprimentou animado - Já fecharam ou tem espaço para mais um freguês? Senhor... - perguntou o cliente de voz extremamente aguda, lendo o crachá em volta do pescoço do vendedor sem entender muito bem o nome escrito, já que parecia um imigrante de outro país.

- Zhongli.

- Oh, sim. Mil perdões, é que eu esqueci meu óculos no carro - dava pra sentir a mentira cabeluda de longe, mas o de cabelos castanhos admirou a intenção de disfarçar um simples erro por nada - Então, posso dar uma olhada? - prosseguiu.

- Tem algo específico em mente?

- Acho que, não? É só um presente, nada demais! - olhando de frente, dava pra ver a incerteza pairando sobre a cabeleira ruiva ondulada. Zhongli permanecia neutro em suas reações, mas sem deixar que o pensamento de antes o invadisse como uma metralhadora, pois parecia exatamente o tipo de cliente que ele menos gostava.

- Fique à vontade.

Foi tudo que disse antes de pegar uma revista qualquer pousada num banco ao seu lado, folheando as páginas principais com mais tédio do que quando esteve entretido no smartphone. Quando os olhos âmbar rolaram para observar os movimentos do rapaz, percebeu o grau de dificuldade que o garoto tinha e decidiu se intrometer novamente.

A Pedra Mais Valiosa - {Zhongchi; ZhonglixChilde}Where stories live. Discover now