ֹ 𖤓 ̸࣭ 𝐃 𝐎 𝐈 𝐒 :: sombra

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HAZEL

Meryem cutuca o meu braço e, quando me viro para ela, logo me faz virar para a arena.

Não é somente Kyle Strong que está olhando para mim, com seu sorriso característico no rosto, mas todos na plateia - ou pelo menos a maioria. Soldados nobres e plebeus, comentando coisas entre si e só então percebo o que está acontecendo: eu fui escolhida. Espera, o quê?

Ainda sem certeza do meu trágico destino, giro o meu dedo e aponto para o próprio peito. Olho para todos os lados, mas ninguém se manifesta.

Sim, é comigo.

Meu corpo enrijece na hora e parece doer, ao mesmo tempo em que morre. Meu estômago quer colocar o pouco café para fora e, por fim, resta apenas o desespero, junto de mãos trêmulas e respiração falha. Demora alguns segundos, ainda, para eu conseguir mexer qualquer um que seja o músculo para frente, trás ou lado. Simplesmente, paralisei.

— Mas por que eu? Sou uma pobre camponesa recém-formada... — murmuro para apenas Meryem achar graça e sofrer menos com os próximos acontecimentos. Solto um riso nervoso e por nenhum segundo, olho para ela.

— Posso apostar nele? — A Moratti pergunta, porém, estratégica. — Ainda temos uma moeda de prata... Poderemos pagar seu funeral.

— Que seja para me tratar. — Respondo e, finalmente, consigo me mover. Peço espaço para ir até as escadas menores da arquibancada. Eu não tenho escolhas... Porque não sou rebelde e por isso não vou desobedecer.

Imediatamente, Meryem corre para a cabine de apostas. Quando a encontro, ao virar-me brevemente para trás, ela coloca o único quien sobre o balcão. Volto-me para a arena, então, e pulo no retângulo de areia. Sob pressão da plateia, desejando uma luta, dou um passo à frente e olho para o garoto, pelo menos dez centímetros mais alto do que eu, mas não mais do que quinze.

— Não tenha medo, eu sou um cavalheiro. — Ele parece ignorar o fato de quase ter assassinado o último oponente. Claro que acredito nele.

"Oh, pobre plebeia, venha. Garotas dariam a vida para serem espancadas no seu lugar.", na minha cabeça, é o que está pensando.

Tento esconder o pânico, enquanto "se não for com a gente, que se dane", passa continuamente pela minha mente. Agora é.

Quando Kyle Strong mira em mim, seus olhos logo viajam para os meus e ele contorce os lábios. Ah. A dissemelhança neles, quanto a qualquer outra sundioriana: mais achatados, escuros e com cílios um pouco maiores. São poucos os descendentes de Vriphhan em Sundior, desde o ordenamento. Desde que Awen assumiu... Desde a criação da Barreira de Cristal, que isola o país do restante de Calásia e impede fugas e contrabandos rebeldes.

Além disso, vriphhanos e eudiorianos são vistos com maus olhos. Vriphhan por ser o país dos fundadores, famigerados criminosos; Eldior, por ser o colonizador e perdedor da guerra contra Meltain - aliado do país.

— Você... — sussurra, mas não termina o insulto. Sua cara de asco já diz tudo. Vriphhanos, tão malditos quanto Sentinelas Fantasmas.

Engulo em seco. Tudo em mim lembra as pessoas de lá, desde os olhos, até os cabelos. Depois de um tempo, parei de tentar esconder, com maquiagens baratas ou tintas capilares temporárias. Mas agora, a última coisa que quero, é que o ódio de Kyle por vriphhanos não seja tão denso quanto pelos rebeldes... Ou eu estou ferrada.

𝐏𝐑𝐈𝐒𝐈𝐎𝐍𝐄𝐈𝐑𝐀𝐒 𝐃𝐄 𝐒𝐀𝐍𝐆𝐔𝐄Where stories live. Discover now