capítulo 2 🌑

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Poucos raios de sol eram corajosos o suficiente para atravessar aquelas nuvens acinzentadas que pairavam sobre a cidade.

E nem mil sóis seriam capazes de dispersar aquelas que flutuavam sobre a cabeça de Xiao Zhan.

Tudo que fazia, a cada passo que dava, para cada canto que olhava, não importa, sempre, alguma coisa iria lembrá-lo do que perdeu.

Na televisão, anúncios passavam com Tubo os estrelando, no rádio, músicas do mesmo tocavam, Nos telões lá embaixo, nas ruas continham os mesmos anúncios ou MVS antigos.

Como se o universo realmente o detestasse, aquilo parecia proposital. Quando estavam bem, eram raros os anúncios e propagandas, mas agora era inevitável.

Porém outra coisa inevitável, era que sua vida deveria continuar. Se ele parasse agora, a separação teria sido em vão.

Conferiu sua agenda no celular, realizou algumas ligações. Cancelous algumas coisas, marcou e remarcou outras. Recomeçando pelo meio. Não era o melhor a se fazer, mas era tudo o que podia.

Dormindo em quartos de hotéis vez ou outra, conhecendo novas pessoas, fazendo novos trabalhos, tentando coisas novas e improváveis. Desperdiçando tempo e dinheiro quando necessário, e esquecendo que o mundo existe.

Voltando a realidade pela manhã, com ressaca sentimental horrenda e devastadora, que arrebentava seu corpo e consciência, e levantando para caminhar com o mesmo tênis de ontem.

A cada dia que se passava, Xiao Zhan via como a vida avançava, mais pessoas chegavam e ficavam, poucas saiam, mas de algum jeito retornavam.

Mas ainda assim, com tantas mudanças, nada daquilo o satisfazia. Para ele tudo era o mesmo, tudo era igual. Não. Não era igual.

Faltava algo. Faltava tudo. Faltava o que ele perdeu e não encontraria nos achados e perdidos ou na nova loja que abriu na esquina. Faltava um pedaço de si, uma parte vital de seu corpo.

Ele não estava vivo, estava ali. Apenas existindo ali, morrendo aqui, e vez ou outra, mas só de vez enquando, recordando o não acontecido.

O sol se pôs, a lua nasceu, e de novo, e outra vez, e mais outra e as estrelas jamais se moveram no céu.

A culpa já não era mais tão grande, já quase não transparecia mais. O ferimento na alma parou de latejar e o sangue não escorria mais. Porém nunca houve sultura.

No fundo, ele ponderava se o que aconteceu, seja lá o que tenha sido, jamais devesse ter acontecido. Mas Doncel sempre estaria lá para miar em seu ouvido que tudo acontece por uma razão. Só esperava que a felina fosse mais sabia do que aparentava.

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O Wang fez o mesmo.

Sua vida andou, sua carreira decolou, ele estava cada dia mais rico e mais promissor.

Mas nada adiantava, pois nada mais o surpreendia. Nada o intrigava, nada o atraía, nada lhe chamava sequer a atenção.

Tudo parecia monótono e repetitivo. Ele se entregara a una vida automática, em que desde o momento em que viu que não poderia mais pegar o celular e ligar para Zhan as três horas da manhã só por que queria saber se estava bem, e ouvir o grhunido irritado do outro lado da linha, ele simplesmente se perdeu.

Se perdeu no caminho, seja lá qual era o caminho que ele seguia. Era o caminho de Zhan. Se ele desse um passo para o precipício, ele iria apenas seguir. Seguir por que isso foi o que aconteceu. Ambos aconteceram.

Talvez tivessem acontecido na hora errada, no lugar errado, ou no mundo errado. Mas aconteceram, e não dava mais pra desacontecer.

Agora ele não tinha mais um rumo, um motivo, uma razão, algo que lhe acordasse todo dia pela manhã e lhe dissesse que ele deveria ser.

O controle remoto da sua vida agora estava nas mãos do destino. O que ele quisesse fazer, faria e o próprio Yibo não faria qualquer questão de sequer questionar.

Talvez fosse idiota, estúpido ou infantil demais, mais ele precisava disso. Precisava de alguém pra lhe dizer o que fazer, pra lhe guiar e pra não deixá-lo desistir. Entregar-se ao desconhecido era a única maneira de morrer sem se deixar enterrar.

Vendo todo dia o rosto do moreno a cada esquina, ouvindo seu nome da boca de nove a cada dez pessoas que ele encontrava no dia, ouvindo suas músicas no aleatório, assistindo os trailers das séries e filmes antes de assistir qualquer outro vídeo.

O universo faria questão de torturá-lo a cada milésimo de segundo pela decisão egoísta que tomara naquela noite. Mas do que adianta a tortura? Esse método nunca lhe fez sentido.

Tortura alguém a ponto de matá-lo ou deixá-lo a definhar, mudaria em algo? Faria alguma diferença? Anularia todos os acontecimentos? Não. Essa é a resposta, Não. Então por que fazem isso?

Talvez seja só uma maneira de aliviar dor, culpa, raiva ou mágoa. Talvez seja ele mesmo quem esteja se torturando agora e sequer percebe.

Quem pode dizer? Ninguém. Ninguém vai dizer, ninguém vai se importar, ninguém vai chegar de uma forma dramática e te salvar de uma maneira mais dramática ainda.

Por que a vida não é um conto de fadas. Talvez ela seja um livro de história, escrito com caneta permanente. Em que se você errar, você não pode simplesmente apagar ou fazer um risco e escrever a palavra certa do lado.

Você só tem uma chance. Então não se engane, pensando que você conseguiu a proeza de poder reiniciar, você só mudou algumas palavras no contexto e deu a elas um novo significado.

E também não pense que isso é algo ruim, é apenas uma maneira de concertar algo quebrado. Concertar é bom, Admitir que quebrou algo é nobre.

E se permitir concertar, e ser concertado, é uma sensação de novidade que você já conhece, mas sempre é bom relembrar.



Eu Lua, Tu sol, nós constelação - YizhanWhere stories live. Discover now