01 // 𝘤𝘢𝘱𝘪𝘵𝘶𝘭𝘰 𝘶𝘮

69 7 93
                                    

NO CANTO DO DEPÓSITO ESTAVA A PINTURA inacabada de uma mulher enorme rodeada por ondas, debaixo do céu com os tons rosados de um nascer do sol. Havia o esboço de um colar de conchas em seu pescoço que ainda não havia sido pintado, ela tinha traços indígenas, em sua pele marrom e nos cabelos negros caindo como uma cachoeira por seus ombros, flutuando junto daquelas ondas.

── Nossa! Que lindo, você não tinha nos mostrado esse ── Maia exclamou entrando na dispensa e se aproximando da tela.

── Ah, não era pra ver ainda ── Mattheus resmungou, se virando para a irmã ── Eu não gosto de mostrar elas antes de terminar.

── Eu sei, mas ela já tá linda, imagina quando acabar ── A garota falou, encontrando um breve sorriso no rosto do outro quando ouviu o elogio ── É tipo uma sereia? Eu só te vejo pintando paisagem.

── Eu não sei, na ideia acho que era pra representar nossa comunidade ou um negócio desse tipo, eu tentei criar um conceito, mas ele não conceituou do jeito que eu queria.

── Entendi, mesmo assim, lembra de me mostrar depois que terminar.

── Por que você veio aqui agora, hein? ── Ele perguntou vendo a garota procurando algo entre as coisas guardadas pelos cantos do depósito

Ele ficava nos fundos de sua casa, era onde sua família guardava basicamente tudo o que não poderiam enfiar dentro de seus armários. Haviam instrumentos de pesca, canoas que seu pai e seu avô construíram, pranchas de surf e em um canto estavam telas de pintura, suportes e uma mesa onde tinham várias canecas com tintas, lápis e pincéis, era o que Maia havia carinhosamente apelidado de O Estúdiozinho de Arte do Mattheus.

── Eu só tô caçando a minha prancha ── Ela respondeu logo sorrindo quando encontrou a prancha de surf com os tons leves e rosados entre aquelas outras.

── Ah, você vai surfar?

── É, eu marquei de pegar uma onda com o Cadu e a Ritinha amanhã ── Ela falou pegando a prancha em seus braços e a tirando dos suportes ── Sabe se tem parafina guardada aqui? A minha acabou.

── Eu acho que tem ali, em alguma dessas gavetas na mesinha.

── Ei, Matt ── Maia o chamou enquanto procurava o bloco de parafina pelas gavetas ── Eu pensei em te chamar pra ir com a gente.

── Ah, eu sei lá, Maia...

── Por favor, a sua prancha já tá pegando poeira ali, faz tempo que você não sai pra praia.

Mattheus suspirou, se dando um segundo para pensar enquanto ajeitava seus cabelos ondulados presos para cima e via sua irmã o encarando com um pequeno sorriso esperançoso, esperando logo uma resposta.

── Beleza, eu vou ── Ele falou, fazendo a garota comemorar sozinha sorrindo para ele.

── Isso, então amanhã depois da escola a gente passa aqui em casa, pega nossas coisas e vai.

─·─·─·─·─

Acordar às cinco e meia da manhã para ir a escola era normalmente insuportável, então Maia tentava procurar algum refúgio no nascer do sol da ilha, seu irmão dizia que já havia até enjoado de ver aquele céu, isso como se ele não já tivesse pintado pelo menos três quadros daquela paisagem e enchido sua galeria com fotos dela.

Assim como outros jovens e crianças que viviam nas comunidades pela costa, eles precisavam pegar os ônibus de manhã para serem levados até às escolas na cidade, já estavam acostumados com a rotina por lá começando bem cedo, todos acordavam junto do sol, logo que se levantavam sua mãe já estava arrumando as coisas para suas vendas na feira e seu pai já havia ido para a praia com os outros pescadores da vila.

𝐋𝐔𝐀𝐑 𝐃𝐄 𝐏𝐑𝐀𝐓𝐀 | apply ficWhere stories live. Discover now