A mal amada

Um REcomeço (parte 1)

08 de Março,

meu quarto...

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Você seguiu às suas? VAMOS VER:

VOCÊ É UMA PÉSSIMA TIA E COM CERTEZA FOI UMA PÉSSIMA MÃE (além de cara de pau)

Gala Bueno X|

17 de Março,

meu quarto...

Nove dias se passaram. Eu tô chocada!

Andei perguntando ao meu pai se a senhora teve aqui e ele me respondeu que sim. "Ontem, na quarta e na quinta passadas" *ele disse*

Como assim? Não vai me escrever nada? Talvez esteja com raiva. É isso? Hã?

Eu não quis diz Melhor ligar!

18 de Março,

minha cozinha, esperando a pizza no micro-ondas...

Querido diário, ontem minha tia jurou pelo telefone que não leu o que eu escrevi, você pode confirmar?

Ah, não pode? Pois eu já sabia que você era imprestável.

Ontem a gente – eu e ela, não eu e você – ficamos até tarde conversando. Ela leu para mim o que estava escrevendo e tudo ficou claro.

Acredito que ela não te leu. Pelo menos me pareceu convincente quando ela escreveu no próprio diário que estava se controlando para não mexer nas minhas coisas, mas que ia se esforçar e se concentrar na leitura que está fazendo de um livro.

É, foi bem convincente mesmo.

Acredita que ela escreve até mesmo sobre a vida sexual?

Ela escreveu que o livro que está lendo ('Cinquenta alguma coisa de cinza') é uma coisa terrível para o estado civil dela. Confessou que dava vontade de fazer, sabe? E sim, eu tô mesmo querendo dizer sexo.

Pelo amor de Deus! Nem consigo imaginar minha tia naquela hora e acho que provavelmente por isso é que sua escrita me convenceu tanto.

Fora que ela admitiu que é mesmo uma curiosa de nascença.

Pediu que eu não a culpasse, que é coisa dos genes.

E se é, então eu provavelmente recebi do lado negro da força uma boa qualidade.

Lado negro da força é a minha mãe. E chamo ela assim porque achei que ficar chamando ela de puta é um cansaço à minha "beleza rara".

Sim, esse é meu outro método para não usar a palavra ALBINISMO.

Gala Bueno

20 de Março,

Ilhéus, sala de aula da faculdade (UESC)...

Minha vida é bem sem graça. Quase tão sem graça quanto a minha aparência, compreende?

Não que eu viva num terrível acesso de baixa estima, mas é que eu realmente queria ter alguma melanina. Isso por acaso é algo incompreensível?

Hoje eu assisti aquele filme sobre as empregadas negras dos anos 60 (Histórias Cruzadas). Chorei de novo. E dessa vez nem foi porque eu achava terrível a ideia de pessoas se importarem com excesso de melanina quando tudo que eu sonho é exatamente isso.