Querido Rafinha,
Você deve estar se perguntando quem sou. Nós nos conhecemos quando eu ainda era apenas uma garotinha.
Lembro-me até hoje da forma que me tratava. Você adorava puxar as minhas trancinhas, mas brigava com qualquer um que ousasse mexer comigo.
Eu sou aquela garotinha que o tinha como o herói dela. Aquela que te amou como se fosse um irmão mais velha.
Sei que deve estar me achando uma pessoa horrível por abandonar minha filha, mas eu só fiz isso porque eu não tinha mais como cuidar dela.
Eu estou morrendo Rafinha. Descobri logo após o nascimento dela que estou com câncer. A doença nesses últimos meses agravou-se muito e segundo os médicos não tem mais como ser tratada. Resta-me pouco tempo de vida.
Foi tão difícil tomar essa decisão. A Clarinha é tudo para mim, ela é o meu ar. O anjo que Deus enviou para me ajudar a enfrentar a minha doença até chegar a hora de partir.
Eu estava desesperada quando tomei essa decisão. Não sabia mais o que fazer para não a deixar desamparada. Você é a minha única salvação. Não quero que minha filha seja criada por um estranho.
Foi pensando no bem-estar dela que, após descobrir seu endereço, resolvi deixá-la com você. Sei que deve estar se perguntando por que eu não a entreguei pessoalmente. Para falar a verdade nem eu mesmo sei o porquê. Acho que foi medo de que me convencessem de que o melhor para ela era ir para um orfanato ou ficar com o pai, mas ele sumiu no mundo quando contei que estava grávida. Não sei se está vivo ou morto e para ser sincera foi melhor assim. Ele não era uma boa pessoa.
Por favor, pela amizade que tivemos, cuide da Clarinha para mim.
Permita que ao seu lado ela conheça o que é ter uma família de verdade. Sei que você a amará como se fosse sua própria filha. Você sempre teve um coração enorme e por isso te peço do fundo do meu coração que cuide do meu bem mais precioso.
Dentro da sua bolsinha deixei um documento, onde consta que mediante a minha morte você se torna seu tutor legal até que ela atinja a maioridade e uma carta.
Quando ela for capaz de entender as coisas, por favor, entregue-a esta carta que deixei explicando tudo. Diga a ela que sempre vou amá-la e estarei tomando conta dela de onde eu estiver.
Cuide dela como se fosse sua, meu amigo.
Com amor,
Ayume
Eu não podia acreditar no que tinha acabado de ler. Não era possível, depois de tantos anos, que fosse a Ayume.
Seus avós trabalharam na casa dos meus durante muitos anos. Nós acabamos nos tornamos amigos, mesmo ela sendo três anos mais nova do que eu.
Ela era criada por eles. Seus pais haviam morrido quando ela tinha apenas dois anos.
Como eles passaram a morar na casa dos meus avós, acabamos crescendo juntos e nos tornando grandes amigos. Eu a amava igual amava a Duda.
Quando seus avós faleceram, ela acabou indo morar no Japão, com uma tia distante. No início nos falávamos sempre, mas os anos foram se passando e com ele fomos perdendo contato. Eu não tinha notícias dela há mais de quatro anos.
— Amor, o que houve? Por que você está chorando? — O choque foi tanto que nem tinha percebido que lágrimas escorriam pelo meu rosto
— Eu conheço a mãe dela. — Olhei para a Clarinha.
Capítulo 30 - FIM
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