PARTE TRÊS: Moonie precisa de cuidados

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HEESEUNG NÃO FAZIA O TIPO DE CARA ESTRESSADO com tudo, mas naquela semana era quase impossível não arrancar os cabelos vermelhos por qualquer coisinha que saísse da linha. Aquela maldita semana de provas estava acabando com ele.

O pai jamais o vira tão ansioso a ponto de chorar por não entender um conteúdo que cairia em uma das avaliações programadas, afinal, para o senhor Lee, Heeseung nem sabia mais o que significava a palavra "choro", desde que decidira jamais demonstrar fraqueza na presença do pai.

Mas Heeseung sabia o que chorar significava. Moonie e seu travesseiro sabiam disso também. Era o segredo da madrugada de ontem. E de antes de ontem também.

Durante os dias em que estudava para a semana do provão — intitulada por ele mesmo de Semana infernal —, Heeseung sentia Moonie tristonho demais para um gatinho que era sempre tão alegre e agitado.

Preciso dizer que o pobre gato se sentia demasiadamente solitário, vivendo uma vida sem real sentido quando não tinha a presença constante do rapaz dos olhos de bambi, seu querido dono. Precisava de carinho atrás das orelhas e não se imaginava vivo sem os elogios constantes acompanhados da voz de Heeseung, que o depositava todo o amor que lhe cabia no peito.

— Fiquei sabendo, Hee — começou o senhor Lee certa manhã, enquanto tomava a segunda xícara de café do dia—, que os filhos do senhor Nishimura e do senhor Takayama estão cuidando dos bichinhos da vizinhança. Sabe, estive pensando e acho que é uma boa ideia chamá-los aqui em casa, pelo menos durante essa semana difícil, pra ficarem um pouquinho com o Moonie. O bichano anda muito deprimido pelos cantos, o miado parece até um gemido. Acho que... bem, seria interessante, sabe? E seria bom pra eles também. São bons garotos.

Heeseung, num desânimo medonho, ouvia tudo enquanto mexia com a colherzinha na tigela de cereal que tentava engolir com leite. Sentia-se tão cansado que não levava uma colher à boca, mesmo que aquele fosse seu cereal preferido. Só conseguia pensar nos olhos verdes de Moonie, tão necessitados de afeto, e em como estava a um fio de colapsar.

— Ele realmente precisa se distrair um pouco — falou, erguendo os ombros largos, suspiros sôfregos sempre presentes. A voz estava funda e triste. — Não tô conseguindo dar conta dele essa semana.

— Nem nós, Hee, nem nós. Ele é mais receoso com sua mãe e eu, você sabe disso. Estamos sempre ocupados com o trabalho e sabemos que não podemos contar muito com a ajuda da Haein.

— E os garotos também não são estranhos... — Heeseung conseguia visualizar na mente o rosto de Ni-ki e Taki, implorando por uma chance. — Sempre me cumprimentam quando passo na rua e os vejo andando de bicicleta.

— São ótimos, muitíssimo educados!

— Acho que podemos confiar. Mas só por essa semana, pai. Depois consigo dar conta do recado.

— Perfeito! — O velho senhor Lee levantou da cadeira, cheio de animação. — Vou pegar o telefone!

Moonie, embaixo da mesa, abraçou o calcanhar do dono.

Operação Gatinho TravessoWhere stories live. Discover now