[Este livro não retrata a realidade nua e crua das favelas, é apenas uma história fictícia com o intuito de entreter]
Após passar 72 horas como refém do temido líder da facção, Chorão, Emília luta para superar os acontecimentos desse trágico evento...
Deus me livre de um sujeito sem noção chamado Dinho.
Peguei minha bolsa com tudo o que precisaria e saí de casa, mentindo para minha família que estaria trabalhando no bar durante toda a noite.
Ao chegar na esquina da minha rua, ponto de encontro com GV, entrei em um carro preto sem prestar atenção no motorista e me surpreendi ao encontrar um completo estranho ao volante.
— Desculpa, eu acho que entrei no carro errado.
Tentei sair, mas a porta estava fechada, o que me fez ficar desesperada.
— Tu tem celular pra quê? Pra ficar de enfeite? — Ele questionou.
— Desculpa, eu odeio atender ligações à toa.
— Esses adolescentes de hoje em dia são estranhos.
— No seu tempo não existia mensagem digitada?
— Eu não sou tão mais velho que você, Emília.
— Eu nem sei quem é você.
— Sou o Rato, irmão do Chorão.
— Quantos irmãos esse homem tem?
— A mesma quantidade de cunhadas que ele já comeu.
O Chorão só pegava mulher casada com os irmãos dele?
— Cadê o GV, Rato? — Mudei de assunto antes que eu falasse algo que me fizesse levar um tiro na testa.
— Ele teve um contratempo, mas vou fazer esse favor pra você.
Rato deu partida no carro e me lançou olhares furtivos algumas vezes, o que me deixou apreensiva. Só falta eu ser morta, porque o corno não está sabendo lidar com o par de chifres que o próprio irmão colocou em sua cabeça.
— O que foi? — perguntei ao estranhar seu olhar na minha direção. — Tem algo de errado comigo?
— Por que você veio toda arrumada se vai ter que tirar tudo isso antes de ver o Chorão?
— Eu nunca estive tão desarrumada!
— Pois trate de tirar esse cordão e brincos que não pode entrar assim lá.
— Desse jeito, o Chorão não vai nem querer me comer — resmunguei, tirando as bijuterias.
— Não suporto mulher que se faz de burra. Onde já se viu ir em um presídio com algo caro desse jeito?
— Não é bijuteria? — Analisei o conjunto dourado.
— Sinceramente, não sei o que o meu irmão viu em você.
Talvez ele tenha visto o mesmo na sua esposa, seu chifrudo do caralho!
Durante todo o trajeto até a cadeia, Rato foi me dando dicas sobre como eu deveria me comportar antes e depois da visita íntima.
Ele me fez tirar a maquiagem e, ao perceber que a camisa era do Lula, tentou me obrigar a trocar de roupa dentro do carro mesmo.
— A blusa tá ótima, Rato!
— Não pode entrar com nada que faça apologia à política na cadeia, garota! Tira logo essa porra.
— Eu não trouxe outra blusa, só outra lingerie.
— Tem uma blusa minha aí atrás.
Ele apontou para o banco traseiro e eu virei para pegar a blusa branca.
Ao esticar a peça de roupa, ri ao ver a estampa hilária de uma ilha com coqueiro e frase "Na Bahia tem coco e nesse coco tem dendê."
— Você já foi pra Salvador? Meu sonho é viajar pra lá.
— A Claudia que foi e trouxe de lembrança.
— Quem é Claudia?
— A minha mulher.
Fiquei calada para não fazer nenhuma piada sobre corno e chifres.
Ao me ver obrigada a trocar de camisa na frente de Rato, senti meu rosto queimar de vergonha. Cada movimento era constrangedor, e a sensação de exposição diante dele tornava tudo ainda pior.
— Eu deveria ter te contratado pra ser minha prostituta particular — ele disse ao me ver de sutiã. — Você é bem gostosinha.
— Mas o Chorão viu primeiro e agora sou a gostosinha dele.
Forcei um sorriso irônico e vesti a camisa de turista que ele me ofereceu.
— Nada a ver, pô. Eu dividi a minha mulher com ele sem saber, então tenho certeza que ele não vai se incomodar se tirar uma casquinha.
— Eu não quero nada com você!
— É porque eu sou preto?
— Quê? — Arregalei os olhos. — Óbvio que não!
— Meio racista da sua parte só ficar com o irmão branco.
— Agora, pronto! Minha buceta tem que bater uma cota para os irmãos negros do Chorão? Se manca, homem!
Revirei os olhos e me ajeitei no banco do carona completamente emburrada, enquanto o Rato gargalhava da minha careta.
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