Deus me livre de um sujeito sem noção chamado Dinho.

Peguei minha bolsa com tudo o que precisaria e saí de casa, mentindo para minha família que estaria trabalhando no bar durante toda a noite.

Ao chegar na esquina da minha rua, ponto de encontro com GV, entrei em um carro preto sem prestar atenção no motorista e me surpreendi ao encontrar um completo estranho ao volante.

— Desculpa, eu acho que entrei no carro errado.

Tentei sair, mas a porta estava fechada, o que me fez ficar desesperada.

— Tu tem celular pra quê? Pra ficar de enfeite? — Ele questionou.

— Desculpa, eu odeio atender ligações à toa.

— Esses adolescentes de hoje em dia são estranhos.

— No seu tempo não existia mensagem digitada?

— Eu não sou tão mais velho que você, Emília.

— Eu nem sei quem é você.

— Sou o Rato, irmão do Chorão.

— Quantos irmãos esse homem tem?

— A mesma quantidade de cunhadas que ele já comeu.

O Chorão só pegava mulher casada com os irmãos dele?

— Cadê o GV, Rato? — Mudei de assunto antes que eu falasse algo que me fizesse levar um tiro na testa.

— Ele teve um contratempo, mas vou fazer esse favor pra você.

Rato deu partida no carro e me lançou olhares furtivos algumas vezes, o que me deixou apreensiva. Só falta eu ser morta, porque o corno não está sabendo lidar com o par de chifres que o próprio irmão colocou em sua cabeça.

— O que foi? — perguntei ao estranhar seu olhar na minha direção. — Tem algo de errado comigo?

— Por que você veio toda arrumada se vai ter que tirar tudo isso antes de ver o Chorão?

— Eu nunca estive tão desarrumada!

— Pois trate de tirar esse cordão e brincos que não pode entrar assim lá.

— Desse jeito, o Chorão não vai nem querer me comer — resmunguei, tirando as bijuterias.

— Não suporto mulher que se faz de burra. Onde já se viu ir em um presídio com algo caro desse jeito?

— Não é bijuteria? — Analisei o conjunto dourado.

— Sinceramente, não sei o que o meu irmão viu em você.

Talvez ele tenha visto o mesmo na sua esposa, seu chifrudo do caralho!

Durante todo o trajeto até a cadeia, Rato foi me dando dicas sobre como eu deveria me comportar antes e depois da visita íntima.

Ele me fez tirar a maquiagem e, ao perceber que a camisa era do Lula, tentou me obrigar a trocar de roupa dentro do carro mesmo.

— A blusa tá ótima, Rato!

— Não pode entrar com nada que faça apologia à política na cadeia, garota! Tira logo essa porra.

— Eu não trouxe outra blusa, só outra lingerie.

— Tem uma blusa minha aí atrás.

Ele apontou para o banco traseiro e eu virei para pegar a blusa branca.

Ao esticar a peça de roupa, ri ao ver a estampa hilária de uma ilha com coqueiro e frase "Na Bahia tem coco e nesse coco tem dendê."

— Você já foi pra Salvador? Meu sonho é viajar pra lá.

— A Claudia que foi e trouxe de lembrança.

— Quem é Claudia?

— A minha mulher.

Fiquei calada para não fazer nenhuma piada sobre corno e chifres.

Ao me ver obrigada a trocar de camisa na frente de Rato, senti meu rosto queimar de vergonha. Cada movimento era constrangedor, e a sensação de exposição diante dele tornava tudo ainda pior.

— Eu deveria ter te contratado pra ser minha prostituta particular — ele disse ao me ver de sutiã. — Você é bem gostosinha.

— Mas o Chorão viu primeiro e agora sou a gostosinha dele.

Forcei um sorriso irônico e vesti a camisa de turista que ele me ofereceu.

— Nada a ver, pô. Eu dividi a minha mulher com ele sem saber, então tenho certeza que ele não vai se incomodar se tirar uma casquinha.

— Eu não quero nada com você!

— É porque eu sou preto?

— Quê? — Arregalei os olhos. — Óbvio que não!

— Meio racista da sua parte só ficar com o irmão branco.

— Agora, pronto! Minha buceta tem que bater uma cota para os irmãos negros do Chorão? Se manca, homem!

Revirei os olhos e me ajeitei no banco do carona completamente emburrada, enquanto o Rato gargalhava da minha careta.

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.
ATRAÍDA PELO TRÁFICOWhere stories live. Discover now