Um dia "normal".

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Todos os dias neste prédio é esquisito. Todo ano é o pior mas todo é o mais bonito quando aqueles olhos cansados me encontram. Todo ano, todo dia morre alguém por conta das anomalias soltas, todo dia tentam entrar aqui. Vocês realmente me irritam.

- Boa tarde dona Emy - disse Lois com aquele tom ridiculamente debochado. Meus olhos se direcionaram a ela com desdém disfarçado.

Lois Stilnsky... Uma mulher de cabelo rosa tão grande que consegue tapar seus olhos, além de seus lábios grandes, exagerada. É uma das poucas que está sugando o dinheiro do marido, desempregada.

- Boa tarde, sua identificação senhora Lois - forcei um sorriso, já que não seria nada agradável receber uma advertência na reunião daquele prédio xexelento na frente dos outros. Entregando a identificação, analisei com cuidado assim como seus outros documentos.

- Está liberada - Respondi simples entregando-lhe suas coisas, ela me sorriu cínica e saiu andando.. - deboche novamente de minha cara e espere para ver seu marido descobrindo que você o trai.. - murmurei.

As horas foram passando, alguns chamados de captura foram feitos. O céu cinza ia se escurecendo e a noite fria e perigosa se aproximava, eu continuei naquela recepção horrorosa olhando cada identificação que passava por ali.

Enquanto não vinha ninguém, tirei uma lixa de unhas da gavetinha ao lado de minha perna e passei a lixar a unha de meu polegar, estava entediada mas oque poderia fazer? Não havia nada nesta cidade que poderia me entreter a não ser... aquele homem.

Francis Mosses, eu me pergunto como este homem não possui uma esposa.. ele realmente é belo, ele é enorme. Como nenhuma mulher não pescou aquele peixe?! Fiquei sorrindo sozinha lixando as unhas, realmente este homem é belo demais para estar sozinho, ele tem um físico muito... muito atraente para ser um mero leiteiro. Talvez ele faça academia? Suas costas largas realmente me atraíam, assim como os braços, as mãos cheias de veias, os olhos cansados e todo o resto.

- Você e seus pensamentos ao invés de olhar a entrada não é Emy? - Anastacha Mikaelys agora.

Uma pirralha que ainda estuda (se é que ela não fica matando aula em vez disso) e está pouco se fodendo para essa pandemia. Me endireitando na cadeira olhei para ela com uma das sobrancelhas arqueada.

- Boa noite Anastacha, achei que estivesse ocupada com sua semana de provas .. - Respondi sorrindo de forma sonsa - Sua identificação

A pirralha jogou a mesma dentro da cabine, observei atentamente aquele pedaço de documento mal cuidado devido ao relaxamento dela e conclui que ela não era uma anomalia apesar de parecer.

- Pode ir - liberei e ela revirou os olhos saindo de minha calorosa recepção. Voltei a lixar a unha e retomar o pensamento, realmente, Francis era o único inquilino o qual eu nunca havia visto conversar com os outros ou saindo para algum lugar. Eu saberia claro, estou todos os dias aqui mas só o vejo saindo para entregar aqueles leites.

- Boa noite. - uma voz grossa ecoou até meus ouvidos e meu coração disparou. Era ele, Francis Mosses .. ele estaria normal se não fosse aquela coloração vermelha respingada por todo seu uniforme branquinho e seu belo rosto.

- Senhor... Mosses? - Perguntei um pouco hesitante, por que ele estaria assim? - sua identificação

Francis nada mais era que um leiteiro que possivelmente possui um emprego terrível e que sempre chega com uma cara de cansado. Mas hoje foi até diferente, ele estava sujo e eu estou desconfiada apesar dele ter me entregado sua identidade. Ele permaneceu parado a frente me perfurando com aquele olhar, enquanto analisava sua documentação decidi pergunta-lo;
- Oque aconteceu com você Sr.Francis?

- Um pintor do outro prédio derrubou a lata na calçada e me atingiu, me chame apenas de Francis, eu não me incomodo - então ele respondeu, seu tom era calmo e baixo, sua voz era ótima.

Disquei em seu apartamento, se alguém atendesse eu não hesitaria em ligar para o pessoal da limpeza. Ninguém atendeu, então era verdade, é tinta mesmo.. entreguei seus documentos, e no mesmo instante seus dedos roçaram os meus, quase entrelaçados e a pele quente dele me fez encará-lo um tanto surpresa com aquela atitude.
- Está liberado, tenha uma boa noite - murmurei liberando a porta.

- Boa noite senhora Emy, obrigado - desta vez sua voz rouca se fez presente enquanto seus olhos me encararam mais que o necessário.

Francis saiu andando para dentro do prédio e ali pude soltar um suspiro longo. Esse homem realmente é um pedaço de mal caminho segundo aquela pirralha abusada.

Talvez ela não tenha dito neste sentido e sim por achá-lo estranho mas irei interpretar de outra forma, provavelmente aquele toque foi proposital já que ele sempre espera que eu coloque todos e retire a mão. Mal havia posto em cima do mármore e ele os buscou entre meus dedos, pessoas discretas como ele fazem isso para demonstrar algum tipo de interesse..Bom pelo menos os outros homens com quem já me envolvi eram assim.

𝑀𝑖𝑙𝑘𝑚𝑎𝑛, 𝑚𝑦 ℎ𝑜𝑛𝑒𝑦.Where stories live. Discover now