Pensamentos

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Enquanto a televisão murmura algumas coisas sem sentido, eu encaro a parede como se fosse a coisa mais interessante daquela sala.

Chegada a casa, a felicidade dos meus pais e dos nossos vizinhos era impagável. Ter os filhos convocados para a seleção japonesa não era algo que acontecia todos os dias, de facto.

Mas, será que eu e Stella estávamos realmente bem ?
Ser convocada nunca foi um objetivo desde o início, até agora, sempre achamos que era impossível.
O facto de nunca termos jogado um campeonato inteiro com nenhuma equipa, sempre nos fez pensar que não seria possível .

Não sei se estou preparada para enfrentar este desafio.
Sei que a Stella se sente da mesma forma.

Decido enviar-lhe uma mensagem para lhe dizer o que sinto.

"Stellie, sentes o mesmo que eu, certo ?" - Envio a mensagem e espero a resposta. Uso o nosso apelido para que se sinta mais acolhida. Quando eu estou mal com alguma situação tenho de ser ainda mais cuidadosa com a Stella.

Stella é uma menina extremamente frágil, mesmo que não pareça. Tudo o que acontece na vida dela que não seja planeado é visto como um quebra-cabeças impossível de solucionar.

É por isso que ela reprime tanto os sentimentos que tem por Axel, mesmo que nunca me tenha falado disso.
Ela nunca ponderou ou planeou gostar dele, e então, reprime os sentimentos com ódio.
Além disso, Axel é uma pessoa extremamente impulsiva e isso deixa-a ainda mais apreensiva.

O telemóvel toca num sinal de resposta.

"Não me sinto bem com esta situação Moonie, não sei se somos capazes" - leio no visor, mas consigo visualizar os olhos marejados dela.

Levanto-me rapidamente e corro para o portão da casa da frente numa chuva intensa. Apesar da distância ser curta, bato à porta já completamente encharcada.

Os pais da Stella e do Byron tinham partido numa viagem de trabalho logo após as convocações, por isso sei que incomodar a esta hora não seria um problema.

Um Byron sonolento abre a porta mas algo estranho acontece, mais duas pessoas desconhecidas para mim estão atrás dele.
"Moonie entra, porque é que vieste aqui com esta chuva, uma futura jogadora da seleção não pode ficar doente agora" - Byron diz e vejo um dos amigos com uma expressão surpresa

"Byron, já desço para falar contigo, a Stellie está péssima com toda esta situação, sabes como me sinto em relação a isto tudo" - subo as escadas apressadamente e adentro o quarto da minha melhor amiga.

O cenário que eu mais temia.

Stella está aninhada aos pés da cama, as lágrimas escorrem no rosto pálido e sinto os tremores percorreram agora, não só o corpo dela, mas como o meu também.

Aninho-me ao pé dela e seguro as duas mãos com vários machucados, provavelmente de retirar as peles dos dedos com os dentes, um vício teimoso que ela adquiriu com todo o stress.

"Stellie, olha para mim" - os olhos grandes da minha melhor amiga encontram os meus - "Alguma vez fomos insuficientes em fazer alguma coisa ?" - eu agarro com mais força as mãos dela e continuo.
"Nós podemos não ser as melhores jogadoras do mundo, mas sabes o que nos destaca ? O amor que a nossa amizade construiu, isso, é mais forte que tudo. Não há nada neste mundo, nesta equipa, ou neste mundial que nos vai travar, somos intocáveis."

As lágrimas dela cessam e o meu coração acalma. Ainda com os olhos vidrados nos meus, sinto que este momento é importante para ambas não só para ela.

"Stellie, nós chegamos até aqui juntas, e agora, chegou a hora de conquistarmos o mundo. Pensa em tudo aquilo de bom que nos espera lá fora ? Vamos com os nossos amigos, com o nosso Byronzi, vamos conquistar tudo com eles. O mundial já é nosso e nem lá chegamos." - Agora as lágrimas escorrem pelo meu rosto e é a vez dela falar

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