IV

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Por volta do meio-dia, Rubens finalmente se livra de mais um dia de acompanhamento. O mais incomum entre os passados, o bombardeio de perguntas feitas por Luanne aumentaram de maneira assustadora. Rubens acha até que elas triplicaram em relação às consultas normais em que ia.

Luanne nem parece notar, está hipnotizada de mais em tentar descobrir o mistério que ele criara para cobrir a verdade. Mas em um suspiro exaustivo, ela cede novamente, e dessa vez é concretizado. Se pondo de pé e estendendo a sua mão em sinal de despedida. O olhar cansado. Demonstra a conclusão de mais um dia.

Rubens a aperta e faz um sorriso forçado. Escapando, Por fim.

Sai em passos desajeitados, como se tivesse saído enjoado de um carrossel  em alta velocidade.

Mentalmente, se sentia bem. Os segredos não foram revelados, e nunca serão. Ora ou outra Luanne parará de insistir e concluirá que não foi nada de mais.

Saiu do pátio em passos apressados, cruzando o pátio de um lado ao outro. Em um simples empurrar forçado com o ombro, uma porta também de madeira, se abre.

Tudo estava escuro, mas com o interruptor de movimento automático as luzes acendem. Um vasto banheiro, com muitos toaletes. Um corredor ramificado em vários outros. De paredes e divisórias no encardido branco. São feitas de gesso.

Lugar que consegue por a cabeça no lugar. Florear a sua mente. Mas no momento, não pensa nisso.

Pensa em ver o seu estado físico, sua aparência. O seu semblante. Pela primeira vez, verá como está após o acidente.

Não é de se espantar, já que Luanne esteve com ele a manhã inteira sem problemas.

Chegando em passos demorados e receiosos, ele vai em uma pia de porcelana próxima, antes branca, agora em tons de amarelo. Um espelho plano está logo a cima dela.

Ele hesita em aparecer, mas em um passo leve à frente do espelho, seu cérebro projeta com dificuldade a imagem. Parece turva de mais, pela umidade nele. Mas é possível ter uma conclusão.

Rubens boquiaberto, não vê mais nenhum hematoma. Como se tivesse sido cicatrizado ou sido curado a cada momento com eles. Isso em somente 3 horas desde o acidente.

Ele se afasta do espelho, estudando os braços. Caindo na realidade de que o braço mutilado por arranhões e cortes estava em plena conserva. Estava limpo, sem arranhões ou cicatrizes.

Ele considera ser a segunda opção. Ele foi curado. Não sabe como, mas ele assustadoramente se vê mais agradecido do que assustado.

Seu corpo sentia medo. Sua boca tremia em medo do desconhecido, mas sua alma, esta agradecia.

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Na sua casa mobiliada, Rubens não pensa em nada. Só quer dormir. Já é noite. Passou o resto do dia tentando se entreter observando o movimento acelerado das pessoas e uma vez ou outra entrando em algumas lojas do centro. Queria ter certeza que os hematomas tivessem sumido. Se não era coisa da sua cabeça.

Ele não conseguiu captar nenhum olhar assustado ou de horror. No máximo alguns olhares constrangidos logo no fim do dia, após Rubens já receioso da verdade, encará-los de mais.

No final, ele sabe a resposta. Ele sofreu um acidente que seria o destino mortal para qualquer humano. Os hematomas, sensações da quebra dos ossos, oscilações devido a visão turva, simplesmente sumiram. Como se não bastasse, ele está vivo e agora está deitado na sua cama como se fosse um dia normal.

O dia normal em que: conseguiu encerrar o seu expediente de trabalho, foi a consulta com Luanne, comprou um lanche nas barracas de Greg's Stanley e agora se encontra no seu momento de paz, deitado numa cama, pensando no dia que teve sendo Rubens Dawson. Sem nenhuma adversidade ou problemas piores do que ser chamado de louco desorientado ou por se perder frequentemente na cidade central. Ou pelas chacotas de seus colegas de trabalho.

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