❘ ✮❯❯ ❝O novo delegado - parte Ⅰ❞ ✰ ❘

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Corri até o carro dos recém casados, um Monte Carlo cinza-prateado. Peguei as chaves da mão do pai da noiva, pluguei-a ao carro e saí em disparada atrás da jovem freira armada e do bandido. O noivo, o segurança e o padre me perseguiram até a porta da igreja, desistindo mais ou menos no meio da rua.

A garota continuava correndo, até eu a alcançar, e ela, já cansada de correr com todas as suas forças, berrou palavrões e ofensas para o bandido, que desapareceu ao entrar na rua à direita.

— Sobe no carro. — indiquei, destravando a porta do carona. — E me dê sua arma.

— E por que exatamente eu faria isso? — perguntou com um tom de sarcasmo, assim que recuperou o fôlego.

— Porque eu sou um agente da polícia e porque provavelmente você não vai querer ser presa por porte de armas. — ela abriu a boca, como se fosse dizer algo, embora não tenha pronunciado nenhuma palavra. Me perguntei, por um milessegundo, se ela sabia que por conta da idade não poderia ser presa. — Ande logo, mocinha, não temos muito tempo.

Ela pareceu ponderar minha ordem, embora não tivesse muita reação. Suspirei aborrecido e impaciente, folgando o nó da gravata. A garota me encarava, roendo a unha do polegar direito, como se estivesse nervosa e confusa.

— Tá legal, eu vou com você. — disse, receosa.

Ela subiu no carro, sustentando-se pela perna esquerda, apoiada no banco do carona. Ao invés de se sentar, ficou de pé, apoiando a outra perna no painel do carro. A sola das sapatilhas colegiais da garota sujavam de lama o banco de couro bege do carro novíssimo. Ela apontara a arma para frente, atenta a tudo ao seu entorno. Tentei tomar a arma de sua mão, mas ela recuou, com o olhar sério.

— A arma fica comigo. — afirmou, olhando no fundo dos meus olhos.

Suspirei e acelerei o carro. Em nenhum momento sequer ela parecia estar com medo ou perdendo o equilíbrio.

E foi assim que Holly, uma garota de quinze anos, com um véu cobrindo seus cabelos — deixando exposta apenas a franja loura de fios rebeldes —, saia de pregas até o joelhos e uma arma em mãos e, eu, padrinho fugitivo de um casamento, perseguimos uma dupla de bandidos num carro de recém-casados sem sequer saber os nomes um do outro.

— Não sabia que estava trabalhando para a policia. — falei e ela enfiou as mãos nos bolsos, inclinando-se levemente para trás ao suspender as sobrancelhas.

— Aconteceu há alguns anos. Foi bastante difícil convencê-los. — revirou os olhos — Papai e mamãe insistiram muito para que eu me tornasse enfermeira. Essa foi a pior parte de crescer numa família de tão alto calão.

Isso era um fato. August e Christina Carver — pais de Holly — são um casal bastante invejado na cidade até os dias de hoje. Na família deles, como em muitas outras daqui, existe uma tradição: os filhos homens herdam o emprego do pai e, as filhas mulheres, o emprego da mãe. Seguindo esta linha, Holly deveria ter sido uma enfermeira — ou freira, como a tia. Todos ficaram bastante chocados com a ideia da garota em ser detetive de polícia, pois sabiam os perigos aos quais ela estaria se expondo.

Fiquei muito feliz por encontrar alguém que eu não via há tanto tempo. Observei-a melhor: seus olhos verde-vivo eram destacado pela explosão de sardas que cobriam suas bochechas e nariz fino, assim como seu cabelo cor de ouro. Holly trazia com sua presença uma sensação leve e agradável, característica que eu atribuíra à pequena e delicada cruz dourada pendurada em seu pescoço, por cima de uma blusa preta de gola alta e mangas longas. Ela tinha um fino casaco xadrez vermelho amarrado na cintura, sem cobrir o distintivo.

— Bom, fico muito feliz de poder trabalhar com você. É o meu sonho desde que me tornei detetive. — ela sorriu, apontando para onde parara a viatura, próxima à mulher de óculos.

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⏰ Última atualização: Mar 27 ⏰

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