2 - A conversa

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1 mês depois...

As aulas começaram no meado de Agosto. Foi um mês longo e tedioso. A rotina de escola e casa, casa e escola era sufocante até para a pessoa mais tímida que existe, que com certeza não era eu, ou pelo menos eu achava que não. Dos corredores às salas de aula, as outras pessoas me olhavam como a menina que trocou uma baita festa pelo enterro dos pais. Já não bastava meu irmão mal trocar duas palavras comigo durante o dia, e as tentativas esforçadas do Sr. e da Sra. Archibald de me incluírem na família e de serem como meus pais eram para mim. E para acrescentar, tem aquele filho deles, que voltou da casa do lago com os primos e se acha o certinho em tudo. Eu odeio essa escola, odeio aquela casa e odeio aquelas pessoas. Eu quero minha vida de volta - falo comigo mesma em meu subconsciente.

Saio dos meus pensamentos quando o sinal toca informando que o último tempo de aula se encerrou. Peguei minhas coisas e fui me arrastando para a saída até o ponto de ônibus. No meio do caminho ainda de frente ao estacionamento da escola ouço uma buzina vindo atrás de mim, mas não dou muita importância. Mais uma vez, e desta vez um Honda Civic para ao meu lado, baixando o vidro do motorista revelando Nate no volante e Cole no carona.

- Vamos, passarinha. Entra aí. - Cole disse se inclinando para destravar a porta de trás.

- Não, obrigada. Prefiro ir de ônibus. - deslizo meus olhos até chegar aos de Nate que intercalava seus olhos azuis com os meus e a rua à frente.

- Qual é, já é a terceira vez essa semana que almoçamos sem você, porque sempre chega atrasada. - senti um tom de reprovação em sua voz.

- Eu não ligo, Cole.

Ele deu de ombros e bateu de leve no ombro de Nate, que sorriu de canto enquanto fechava o vidro e dava partida no carro. A tranquilidade dele me irritava. Seus olhos impassíveis despertavam fúria nos meus. Desde que ele chegou das férias minha vida virou um inferno. Parece que sou tratada como uma coitada órfã que precisa de todo cuidado do mundo.

Respiro fundo e decido que não irei para casa. Peguei os fones e coloquei bem alto para me fazer esquecer do que estava ao meu redor. Fui caminhando até uma sorveteria que tinha há uns 3 quarteirões de casa. Levou mais ou menos uma hora e meia até lá, o que foi bom pois fez minha raiva sumir. Pedi no balcão um sorvete de creme com nozes; peguei ao lado e fui até uma das mesas vazias do canto.

Fazia apenas um mês. Como as pessoas conseguem seguir suas vidas como se nada tivesse acontecido? Parece que depois daquilo eu perdi o sentido de tudo. Meu peito dói toda noite ao deitar. Meu coração acelera pelo menos umas quatro vezes ao dia. A vontade que tenho é de gritar para que toda essa dor sufocada suma. Eu só queria o abraço deles de novo.

- Oi, esquisita. Tá pensando na sua próxima festa desastrosa? Quem vai morrer dessa vez? - uma garota falou rindo enquanto sentava na mesa próxima a minha com seu grupo.

- Qual é, Stacey. Isso é baixo até para você. - dessa vez Nate surgiu na porta vindo em minha direção. - Vamos, vim te levar pra casa. - disse, referindo-se a mim.

Ele me pegou delicadamente pelo braço me ajudando a levantar. Suas mãos grandes sob minha pele fizeram com que cada pelo do meu corpo se arrepiasse involuntariamente. Eu não sei o que seria isso, mas eu o odeio. Sem perceber, levantei acompanhando-o, mas o olhando com tom de surpresa e raiva.

- E mais uma vez a princesa precisando ser salva. - a garota não hesitou em terminar o que começou e nem eu. Peguei meu sorvete e entornei na cabeleira loira dela. - Ficou Maluca! - gritou, e eu saí rindo vitoriosa.

- Por que fez aquilo? - senti a reprovação no olhar e no tom de voz de Nate.

- Qual é, não pedi para que você me defendesse.

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