Capítulo 1 - O Bar

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Ele tinha um mau pressentimento a respeito disso.

Talvez fosse a chuva lá fora ou o excesso de vozes dentro do bar, estava aprendendo a detestar isso, tudo naquele lugar o deixava desconfortável, desde o cheiro de álcool, até as risadas das pessoas ao redor, ou gritaria na mesa de truco.

— Vai beber alguma coisa, rapaz? — a voz vinha de algum lugar à sua frente. Arthur demorou para se situar. — Vai beber ou vai continuar com essa cara de estúpido? — o som vinha de Beto, um homem velho que era o barman e, ao mesmo tempo, dono do bar, que, segundo ele, era um respeitável estabelecimento, algo que o rapaz ainda tinha dificuldade em identificar se era ironia ou não.

— Por que você sempre me pergunta isso? — questionou Arthur. — Sabe que não bebo.

— Eu pergunto porque você sempre senta no meu balcão, ocupando o lugar de clientes que vieram pra beber — respondeu.

O rapaz nutria uma estranha simpatia pelo velho, apesar de ele nunca ter dado razão alguma para tal sentimento. Talvez fosse o fato dele ser irritantemente sincero.

— Então vá servi-los na mesa deles.

— Sou o dono do bar, não o garçom.

— Contrate um — respondeu sorrindo.

— Ainda tenho esperanças de contratar vocês dois — disse Beto.

Os dois esboçaram sorrisos juntos.

— Falando nisso, onde está João? — Arthur olhava ao redor. Ele o havia perdido de vista quando devaneava no meio de seu mar de preocupações.

— É só olhar pra quarta mesa à sua esquerda.

Foi o que fez, e ali estava ele, sentado de costas para Arthur, mas facilmente reconhecível por conta do chapéu marrom que cobria seus cabelos encaracolados.

— Está pondo o plano em prática. — Riu Beto.

— Parece que ele está levando a sério o objetivo de se integrar.

— Pelo menos alguém está levando a sério — respondeu o dono.

— Não gosto disso... Se as pessoas virem o braço dele, vão começar a comentar.

— É verdade... Mas se vocês não tivessem vindo depois do que aconteceu anteontem, as pessoas estariam comentando de qualquer jeito.

— O que quer dizer com isso? — perguntou.

— Algumas pessoas dessa cidade já comentam a respeito de vocês dois. Principalmente alguns dos empregados do Coronel. — O velho o encarou enquanto limpava um copo sujo com um pano também sujo. — A propósito, João está conversando com alguns deles naquela mesa.

No instante em que Beto terminou de falar, Arthur se levantou com o intuito de ir até lá, mas, antes que fosse, o velho segurou seu braço.

— Tem que aprender a confiar nele.

O rapaz não prestou muita atenção ao alerta do velho e, sem pensar duas vezes, dirigiu-se à mesa. Beto não o conhecia tão bem quanto Arthur. João poderia ser um dos homens mais espertos que conhecera, mas, às vezes, ele se tornava confiante demais, uma postura que os colocara em situações complicadas antes.

Sentado à mesa junto com João havia um homem cujo rosto era familiar a Arthur. Era um dos jagunços do Coronel. O homem lhe dirigiu um olhar desfocado e o cumprimentou.

— Noite.

Arthur percebeu que ele estava bêbado. Logo após, perguntou ao amigo:

— O que foi?

Os Reis do Infinito e a Canção da EternidadeWo Geschichten leben. Entdecke jetzt